Como nosso presidente é o pior líder mundial no combate à pandemia e nosso ministro da Saúde um suposto expert em logística que, entre outros prodígios extraordinários, conseguiu “esquecer” 8,7 milhões de testes RT-PCR num armazém federal em Guarulhos e não se preocupou em comprar vacinas, seringas e agulhas com a desejável antecedência, país o segundo lugar em número de mortes pela Covid, atrás apenas dos Estados Unidos.
Até a última quinta-feira (25), haviam sido vacinados 6,3 milhões de pessoas (menos de 3% da população). Não fosse a “obsessão” do governador João Doria, de São Paulo, a imunização em massa da população tupiniquim teria início na “hora H do dia D”.
Uma boa parte da população brasileira, motivada pelo
pensamento mesquinho e ignorante de negacionistas, dentre os quais se destacam
o capitão-presidente e o general-ministro, além de jornalistas e até médicos, parece
ter resolvido simplesmente dar de ombros para o vírus. Como se vê, o bolsovírus é tão deletério quanto o coronavírus.
Ainda que uma vacina contra esse cepa de patógeno exista
desde meados de 1980, quando as eleições presidenciais diretas foram
reimplantadas nesta banânia, o atual presidente da Câmara — que é quem tem poderes
para analisar e, em sendo o caso, dar andamento a pedidos de abertura de
processo de impeachment contra o mandatário de turno — é carne-e-unha com o morubixaba
da aldeia (que se empenhou pessoalmente e investiu
pesado na distribuição de cargos e verbas parlamentares para garantir a eleição
de seu apadrinhado). Pelo visto, desse mato só sai coelho no dia em que
cobras criarem asas ou quando a permanência de Bolsonaro no cargo deixar de ser
interessante para o Centrão.
Já para erradicar o vírus biológico falta à pasta da Saúde o
comando de um agente público competente e que honre o jaleco branco. Lamentavelmente,
o fardado que ocupa o cargo há oito meses não passa de um
preposto do capitão-negacionista, cujas ordens obedece com fidelidade canina. Tanto
é que distribuiu “kits-covid” a
manauenses que morriam por falta de oxigênio,
recomendava (até semanas atrás) um “tratamento preventivo” comprovadamente ineficaz contra a Covid
e — agora a cereja do bolo — teve a capacidade de enviar para o Amapá as 78 mil unidades da Astrazeneca
destinadas ao Amazonas, que,
por sua vez, recebeu menos de 2% da quantidade anunciada.
Na última quinta-feira, depois de de uma reunião com secretários estaduais e
municipais da Saúde, o general Pesadelo concedeu uma coletiva de
imprensa, mas foi proibido de responder as perguntas dos jornalistas porque
quanto mais ele fala, mais se enrola. Em seu pronunciamento (ou monólogo, ou
solilóquio) o indômito estrelado afirmou que o Brasil enfrenta uma nova etapa
da pandemia causada por variantes do coronavírus, que o aumento de casos não
está concentrado apenas no Norte e no Nordeste, e que é preciso estar alerta e preparado para essa nova
etapa.
Ainda segundo o luminar da logística, a transferência de
pacientes entre estados que enfrentam lotação das UTIs será uma das
estratégias usadas para enfrentar o novo momento da pandemia, que será
possível vacinar metade da população até a metade do ano e a outra metade até o
final do ano. Faltou dizer para onde ele pretende transferir os
pacientes, visto que há alta ocupação de leitos em Santa Catarina, Tocantins,
Rondônia, Rio Grande do Sul, Bahia,
Ceará, Paraíba, Maranhão e Sergipe. Em outras palavras, o cobertor
é curto; se cobrir os pés, deixa de fora a cabeça, e vice-versa.
Na visão tosca, egoísta e irresponsável dos negacionistas, “a vida não pode parar”. “Todos morreremos um dia, temos de enfrentar o vírus como homens, não moleques, o povo tem que deixar de ser maricas”. E, não menos importante, “há o tratamento precoce, aí, que salva vidas, talquei?”. Não foi preciso dizer mais nada.
A despeito dos
insistentes avisos de médicos, infectologistas e outros “istas” sobre as consequências
das aglomerações — e o problema com as consequências é que elas
vêm depois, como
bem pontuou o Conselheiro Acácio —, aloprados de plantão, sempre muito
bem mandados quando se trata do que não presa, deram (ou participaram de)
festas de fim de ano e, mais adiante, festejaram a mais não poder o carnaval
que não houve. E dá-lhe aglomerações.
O cacique-negação e seu pajé de fancaria continuam em sua cruzada contra o que chamam de “lockdown” — medida que jamais havia sido adotada no Brasil até então, mas parece que o diabo ouviu. Muitos dos prefeitos e governadores que apoiaram esse tipo de insanidade assistem agora ao caos. Manaus, assim como 12 dos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal, estão completamente colapsados pela doença.
De norte a sul do país, cidades
e estados estão adotando medidas rígidas de isolamento para reduzir a
circulação do vírus e evitar novos colapsos no sistema de saúde. Toques de
recolher e restrições de circulação em alguns horários, fechamento do comércio
de atividades não essenciais e proibição de acesso a parques e praias são
algumas das medidas adotadas pelas autoridades.
Sem vacinas, seringas ou agulhas e sob uma avalanche de políticas e declarações genocidas do governo federal e do próprio presidente — segundo o qual o uso de máscaras “produz efeitos colaterais” e ficar em casa é “coisa de comunista” — para os brasileiros, enquanto o mundo civilizado se vacina, a solução continua sendo cloroquina e reza brava.
Na semana em que o Brasil teve o terceiro dia com mais mortes
desde o começo da pandemia, sua alteza voltou a defender tratamentos sem eficácia comprovada contra a doença (a
droga, chamada EXO-CD24, foi
desenvolvida em Israel e é aplicada por meio de um spray nasal. O fármaco está
sendo testado para o combate ao coronavírus, mas ainda não há comprovação de
efetividade) e questionou a validade de vacinas já aprovadas pela Anvisa:
“Temos um vírus.
Não negamos. Temos. Estamos preocupados. Hoje meus irmãos decidiram, estão
votando aqui se a minha mãe (Olinda Bolsonaro) vai ser vacinada ou não, com 93
anos. Eu já dei lá, eu votei lá sim. Com 93 anos, deixá-la ser vacinada mesmo
com uma vacina aí, (que) não está comprovada cientificamente”, disse o
presidente à Band.
Ele também criticou o que chamou de “pilha da vacina”. “Quando
eu falei de remédio lá atrás, levei pancada. Nego bateu em mim até não querer
mais. Entrou na pilha da vacina. O cara que entra na pilha da vacina, só a
vacina, é um idiota útil. Nós devemos ter várias opções”, disse o presidente.
“Se Deus quiser, amanhã encontro nosso Benjamin Netanyahu para tratar desse
assunto”.
É mole?