No último Sete de Setembro não houve manifestações, mas arruaças capitaneadas por um presidente golpista. Grupelhos de esquerda protestaram aqui e ali, e meia dúzia de cidadãos que execram tanto Lula quanto Bolsonaro se reuniram cá e acolá.
Manifestações populares no Brasil, depois dos atos pró-diretas, eclodiram em 2013 e se estenderam até 2016, resultando no impeachment de Dilma — que, graças maior estelionato eleitoral da história até então, derrotou Aécio Neves em 2014 e foi penabundada em 2016, sob panelaços e manifestações populares como manda o figurino.
Faltando cinco meses para as eleições, as campanhas presidenciais (que começaram lá atrás, quando Bolsonaro subiu a rampa e Lula deixou a cadeia) ainda não se tornaram assunto de conversas de botequim. Se uma ou outra discussão acontece, isso se deve à nefasta polarização e aos esforços da mídia — que amplia e reverbera cada arroto do ex-ladrão e cada peido do sociopata de plantão.
No Dia do Trabalhador, a falta de público levou Lula a atrasar sua aparição. Bolsonaro, chamado à ordem pelo Centrão, participou virtualmente das “manifestações” na Avenida Paulista, onde um magote de bolsomínions exibia cartazes e faixas contra o Poder Judiciário e pedia o impeachment dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, entre gritos antidemocráticos em defesa da volta do AI-5 e do fechamento do Congresso e do STF.
No vídeo — recheado de ataques velados ao Supremo —, o mandatário sociopata enalteceu seus apoiadores, falou em “liberdade”, afirmou ser o chefe de um governo que “acredita em Deus” e que “respeita os militares, defende a família e deve lealdade a seu povo” e voltou a dizer que “o bem sempre vence o mal”.
Diogo Mainardi escreveu em O Antagonista que o fiasco do ato lulista reflete o vazio de sua candidatura; que o Brasil se prepara para eleger um presidente que ninguém quer; que o petralha está saindo das planilhas da Odebrecht diretamente para o Palácio do Planalto (após breve escala numa cela VIP em Curitiba) apenas porque seu principal adversário é Bolsonaro — daí o PT fazer de tudo para manter o “mito” no poder até outubro, pois a vitória do partido depende mais da rejeição ao oponente do que do proselitismo de seu eterno presidente de honra.
Recentemente, quando Lula voltou a ser Lula e a vomitar as velhas asnices de sempre, o resultado foi uma queda imediata nas pesquisas. José Dirceu chegou mesmo a dizer que atua nos bastidores porque, se aparecer, atrapalha — de certa maneira, isso vale também para Lula, que, quando aparece, atrapalha.
Bolsonaro afronta o STF para disfarçar as agruras que seu funesto governo impôs aos brasileiros — mais de 600 milhões de vítimas fatais da Covid, volta da inflação, dólar nas alturas, gasolina a preço de ouro e outras mazelas que o incompetente não foi capaz de evitar (ou pelo menos mitigar).
O ato mais emblemático do bolsonarismo, no último domingo, não teve o "mito" como protagonista, mas sim o dublê de ex-cobrador de ônibus mandrião e ex-policial truculento (que sofreu dezenas de sanções disciplinares), ora travestido de deputado federal, que estava num palanque em Niterói, segurando uma placa de rua com seu nome, ao lado de um sujeito fantasiado como o Viking do Capitólio.
Essa imagem representa o escárnio com o STF, o plano de macaquear o golpismo dos partidários de Donald Trump, a pobreza mental dessa gente e a alusão orgulhosa ao assassinato de Marielle Franco, que deve render uns votos nas zonas ocupadas por milicianos (para quem não se lembra, o deputado neandertal se tornou conhecido depois de quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinada).
É esse tipo de imagem grotesca alimenta o bolsonarismo e, ao mesmo tempo, empurra o eleitorado desesperado em direção à armadilha lulista. Até porque terceira via é uma incógnita — não por não se saber quem será o “candidato único”, mas por não se saber se ela será produzirá um aborto ou um natimorto.
Depois que o União Brasil conseguiu matar a candidatura Sergio Moro e desinventar a de Luciano Bivar (aquele que deu palanque a Bolsonaro em 2018 no PSL dos laranjais), a tão sonhada candidatura alternativa desliza melancolicamente do improvável para o patético. Já nem se sabe se haverá realmente o anúncio de qualquer coisa no próximo dia 18.
Se liberar geral, o UB favorecerá Bolsonaro e propiciará a repetição desse movimento com o Podemos — de onde Bivar arrancou Moro para jogar no vazio — e com o PSD de Gilberto Kassab — que apoia Lula, mas pode mudar de lado conforme a direção do vento.
Com o que (ainda) resta da terceira via se resumindo a João Doria e Simone Tebet (ou Tebet e Doria, a depender de quem narra o jogo), a rede da polarização tende a apanhar peixes graúdos em meio ao eleitorado órfão. Ciro Gomes, sempre pronto a disputar a próxima derrota, aparece em terceiro lugar nas pesquisas (ah, as pesquisas!). Entre xingamentos e agressões a puxa-sacos de Bolsonaro, o cearense de Pindamonhangaba sonha em reduzir a distância intergalática que o separa do segundo colocado. Triste Brasil.
Entrementes, no outro canto do tabuleiro político-ideológico, o ex-presidiário que encabeça as pesquisas comete atos falhos (defendendo o aborto, insinuando que policiais não são gente, e por afora) no afã de conquistar o apoio do PSB e da Rede, ampliar o de setores do MDB, do PSD e do União Brasil e transformar uma decisão — estapafúrdia e sem efeito prático — do Comitê de Direitos Humanos da ONU contra Moro e a Lava-Jato em troféu a ser exibido em seus palanques.
O que advirá desse furdunço — para além de uma possível guerra civil ou de um provável golpe de Estado — as viúvas da finada terceira via dirão. Chamem as carpideiras!