terça-feira, 3 de maio de 2022

A SEGURANÇA É UM HÁBITO E A PRIVACIDADE, UM PROBLEMA

A POLÍTICA É A ARTE DO POSSÍVEL, MAS ESTÁ IMPOSSÍVEL DE ATURAR.

Nos anos 1960, era comum a gente ouvir dizer que “televisão no interior é quem nem cu; só tem um canal e só passa merda”. Essa pérola da sabedoria popular me veio à memória dias atrás, na hora do jantar, quando fui obrigado a desligar a TV — assistir ao noticiário, hoje em dia, é como ficar atrás de um basculante cheio de estrume, e no momento da descarga. 


Não bastasse essa pandemia que não termina, essa guerra que não acaba e toda sorte de desgraças, há ainda o execrável cenário político tupiniquim. E entre uma coisa e outra ouve-se dizer que “hackers” (entre aspara porque o correto seria “crackers”) roubaram dados de 57 milhões de usuários da UBER, que outro grupo se apropriou de 160 mil chaves Pix do BC, que o número de sequestros-relâmpago propiciados por essa modalidade de pagamento não para de crescer, que o trojan de fraudes bancárias BRata, identificado pela primeira vez no Brasil em 2019, foi repaginado — agora, além de limpar as contas das vítimas, ele executa uma redefinição de fábrica no dispositivo (Android) para apagar quaisquer vestígios após uma tentativa de transferência bancária não autorizada. E por aí segue a procissão.


Não é novidade para quem acompanha este Blog que a navegação anônima (in-private) evita a gravação de cookies e do histórico de navegação; que o Tor Browser potencializa essa proteção; que surfar na Web é menos inseguro quando se utiliza uma VPN, e por aí vai. Mas muita gente não se dá conta de que, ao mesmo tempo que se tornou o meio mais utilizado para navegar na Web, o celular diminuiu o interesses das pessoas pelas "sutilezas" da computação pessoal. Muita gente passa o dia com o focinho grudado na tela do aparelho e diz que “não usa computador, só smartphone” — como se o smartphone não fosse um computador pessoal ultraportátil.


No que concerne à privacidade na Web, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados, que está em vigor desde setembro de 2020) foi um avanço, mas quem se dá ao trabalho de “ler mais” sobre a política de cookies que aceita quando acessa um site? Quem se preocupe em apagar os rastros de navegação ao final de cada sessão? 


Há um sem-número de malwares em circulação, mas poucos usuários de smartphone se dão ao trabalho de proteger seus sistemas, ainda que uns poucos cliques do mouse permitam estender ao dispositivo móvel a proteção que a suíte “Internet Security” oferece a seu PC. 


Pessoas de viés exibicionista tiram selfies do carro novo em frente de casa, com os filhos vestindo o uniforme do colégio, sem se darem conta de que basta somar dois mais dois para achar cinco riscos nesse exemplo. E depois se dizem preocupadas com a possibilidade de o celular, a Siri e/ou a Alexa “escutarem” suas conversas. Se você acha que isso é paranoia, talvez reveja seus conceitos se entender melhor como funcionam o Google Ads, os algoritmos em geral e as assistentes virtuais em particular. 


Ah, mas a LGPD determinou aos sites que forneçam informações claras e acessíveis sobre o uso de dados pessoais em seus “termos de uso”, dizem muitos. Mas poucos se dão a trabalho de ler as informações antes de “aceitar” os cookies — e depois estranham quando anúncios de produtos que pesquisaram pululam na janela do navegador. 


Quando fazemos uma busca, o Google Ads “entende” que temos interesse pelo produto pesquisado e passa a exibir “anúncios personalizados” — a menos que façamos a pesquisa a partir de uma guia anônima ou, melhor ainda, usando uma VPN (como a que o Opera oferece o serviço gratuitamente sem limitar o tráfego de dados).


Por essas e outras, exclua os cookies e o histórico de navegação ao final de cada sessão, ou configure o browser para fazê-lo automaticamente sempre que ele for fechado. No Chrome, clique nos três pontinhos e, em Configurações, clique em Mais Ferramentas > Limpar dados de navegação > Eliminar os seguintes itens desde, escolha uma das opções disponíveis (sugiro desde o começo) e marque as caixas de verificação ao lado dos itens que você deseja eliminar (sugiro limitar-se às primeiras quatro opções). Ao final, clique em Limpar dados de navegação, reinicie o browser e confira o resultado (para não meter os pés pelas mãos, siga este link e leia atentamente as informações da ajuda do Google antes de fazer a faxina). 


No celular o caminho é um pouco diferente, como veremos na próxima postagem.