A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE, MAS NÃO GANHA CORRIDAS DE CAVALOS.
Como ensinou o Conselheiro
Acácio em O Primo Basílio (romance de Eça de Queiroz), “o
problema com as consequências é que elas vêm sempre depois”. Embora o
contexto fosse outro, o conceito em si se aplica às viagens no Tempo. Até
porque, se alguém voltasse ao passado e produzisse um evento que obstasse o
próprio nascimento criaria um conflito lógico de existência que
inverteria o princípio da causalidade, ameaçando,
consequentemente, a ordem e a continuidade do Universo.
É o caso do paradoxo do avô, que eu mencionei em
outro capítulo desta sequência. Nesse cenário, um neto viaja ao passado e mata o
próprio avô antes que ele se case com a avó. Por óbvio, um de seus genitores
não nasceria. Consequentemente, ele próprio não viria ao mundo e, portanto, não
poderia viajar a parte alguma, muito menos ao passado.
Atribuímos ao “acaso” acontecimentos que fogem a nosso
controle e compreensão, mas todo efeito tem uma causa, seja em nossas vidinhas,
seja no Universo como um todo. Cada pensamento, palavra, sentimento ou ação
produz consequências, formando uma cadeia interminável de causas e efeitos, e
os paradoxos contrariam o princípio de causa e efeito.
Para ilustrar melhor esse raciocínio, tomemos como
exemplo a pandemia de Covid: se alguém viajasse ao passado para evitar
que o paciente zero fosse infectado, um paradoxo seria prontamente estabelecido:
sem paciente zero não haveria Covid, logo não faria sentido viajar ao
passado para evitar uma pandemia que não iria acontecer.
Livros e filmes sobre viagens no Tempo “contornaram” os
paradoxos mediante solução até criativas — como se observa na trilogia De
Volta ao Futuro, já mencionada anteriormente. Mas dois pesquisadores australianos
propuseram uma solução matemática sobre como um corpo se movimenta no
espaço-tempo e concluíram que ele poderia seguir caminhos diferentes sem
alterar o resultado de suas ações — ou seja, sem uma relação de causa e efeito.
Voltando ao exemplo da Covid, o que o estudo diz
basicamente que alguém que viajasse ao passado teria livre arbítrio e poderia
fazer o que quisesse, mas sem mudar o resultado dos eventos — portanto, não
seria possível evitar que a pandemia se desencadeasse (enquanto esse viajante
estivesse tentando evitar a contaminação do paciente zero, ele próprio ou outra
pessoa qualquer poderia se contagiar).
De acordo com o modelo dos pesquisadores, os eventos
mais relevantes seriam calibrados de modo a produzir sempre o mesmo resultado,
evitando, consequentemente, qualquer inconsistência (paradoxo), que, nesse caso
específico, seria o início da pandemia. Resta saber se as condições abstratas eventualmente impostas
pelos hipotéticos viajantes do Tempo são satisfeitas nas teorias da física
atualmente conhecidas, de modo que é preciso colocar esse modelo à prova.
Continua...