quarta-feira, 27 de julho de 2022

A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE VI )

A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE, MAS NÃO GANHA CORRIDAS DE CAVALOS.

Como ensinou o Conselheiro Acácio em O Primo Basílio (romance de Eça de Queiroz), “o problema com as consequências é que elas vêm sempre depois”. Embora o contexto fosse outro, o conceito em si se aplica às viagens no Tempo. Até porque, se alguém voltasse ao passado e produzisse um evento que obstasse o próprio nascimento criaria um conflito lógico de existência que inverteria o princípio da causalidade, ameaçando, consequentemente, a ordem e a continuidade do Universo.

É o caso do paradoxo do avô, que eu mencionei em outro capítulo desta sequência. Nesse cenário, um neto viaja ao passado e mata o próprio avô antes que ele se case com a avó. Por óbvio, um de seus genitores não nasceria. Consequentemente, ele próprio não viria ao mundo e, portanto, não poderia viajar a parte alguma, muito menos ao passado.   

Atribuímos ao “acaso” acontecimentos que fogem a nosso controle e compreensão, mas todo efeito tem uma causa, seja em nossas vidinhas, seja no Universo como um todo. Cada pensamento, palavra, sentimento ou ação produz consequências, formando uma cadeia interminável de causas e efeitos, e os paradoxos contrariam o princípio de causa e efeito.

Para ilustrar melhor esse raciocínio, tomemos como exemplo a pandemia de Covid: se alguém viajasse ao passado para evitar que o paciente zero fosse infectado, um paradoxo seria prontamente estabelecido: sem paciente zero não haveria Covid, logo não faria sentido viajar ao passado para evitar uma pandemia que não iria acontecer.  

Livros e filmes sobre viagens no Tempo “contornaram” os paradoxos mediante solução até criativas — como se observa na trilogia De Volta ao Futuro, já mencionada anteriormente. Mas dois pesquisadores australianos propuseram uma solução matemática sobre como um corpo se movimenta no espaço-tempo e concluíram que ele poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações — ou seja, sem uma relação de causa e efeito.

Voltando ao exemplo da Covid, o que o estudo diz basicamente que alguém que viajasse ao passado teria livre arbítrio e poderia fazer o que quisesse, mas sem mudar o resultado dos eventos — portanto, não seria possível evitar que a pandemia se desencadeasse (enquanto esse viajante estivesse tentando evitar a contaminação do paciente zero, ele próprio ou outra pessoa qualquer poderia se contagiar).

De acordo com o modelo dos pesquisadores, os eventos mais relevantes seriam calibrados de modo a produzir sempre o mesmo resultado, evitando, consequentemente, qualquer inconsistência (paradoxo), que, nesse caso específico, seria o início da pandemia. Resta saber se as condições abstratas eventualmente impostas pelos hipotéticos viajantes do Tempo são satisfeitas nas teorias da física atualmente conhecidas, de modo que é preciso colocar esse modelo à prova.

Continua...