De tempos em tempos, desisto do Brasil. Estou desistindo novamente agora. Além de renunciar às urnas, resolvi renunciar também ao nosso site. A partir de hoje, vou parar de escrever para a imprensa. No caso, O Antagonista e a Crusoé.
O plano é me dedicar a atividades mais gratificantes do ponto de vista intelectual e espiritual. De fato, pretendo passar meus dias deitado no sofá, tirando meleca do nariz. Quanto tempo isso vai durar? O trato é permanecer um ano de folga. Pode ser mais, pode ser menos. A única certeza é que vou me abster de comentar a campanha eleitoral, os debates na TV, o resultado do primeiro turno, a festa do vencedor, os nomes dos ministros, as tentativas de golpe, a compra dos parlamentares. Sinto-me revigorado só de ver essa lista.
É claro que há reciprocidade nisso. Eu desisti do Brasil, o Brasil desistiu de mim. Ninguém está disposto a ler pela trigésima-oitava vez os mesmos comentários sobre os mesmos assuntos. Eu já disse o que tinha a dizer. O afastamento, portanto, é consensual. O Brasil e eu enjoamos um do outro. Vou sair de mansinho e o leitor nem vai notar.
Estupidamente, eu havia prometido me atirar do campanário de São Marcos em caso de segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro. A aposentadoria precoce foi o jeitinho acovardado que arrumei para descumprir a promessa. É uma espécie de terceira via particular. Minha vida vai virar uma Simone Tebet: estreita, tediosa, supérflua e sem brilho, mas longe daquela gentalha fedorenta que há vinte anos embosteia meu dia a dia.
A última vez que desisti do jornalismo — e do Brasil — foi em meados de 2010, antes do estelionato eleitoral de Dilma Rousseff. Fiz as malas, voltei para Veneza, escrevi um livro. Foi a melhor fase da minha vida. Vou tentar replicá-la agora. Sim, tem tudo para dar errado, mas estou pronto para o fracasso: sou Simone Tebet.
Quatro anos depois de desistir do jornalismo — e do Brasil —, desisti de desistir e, juntamente com Mario Sabino, meu amigo fraterno, lancei O Antagonista e a Crusoé. Foi uma aventura e tanto. Fizemos o impeachment e trancamos Lula na cadeia. Denunciamos o bunker de Michel Temer e a sociopatia assassina de Jair Bolsonaro. Chega. É preciso renovar o site. Sem mim. Estou gagá. Já fiz o que podia. Ou mais do que podia.
Quanto ao meu futuro, ele é inexistente: só tenho um presente, cada vez mais curto. Vou cuidar do meu jardim. E da minha sepultura. O epitáfio, esculpido no granito, é dedicado aos leitores que me aturaram até aqui.
Texto de Diogo Mainardi