Usada como um meio de chegada ao poder nos últimos anos, a polarização política tem perdido força, porém ainda move multidões e consegue vencer eleições em alguns países. O rumo deste fenômeno — que, caracterizado pela rejeição, encontrou protagonismo no antagonismo — ainda não está totalmente decidido, mas certamente levará alguns anos até ser diluído por novas forças que venham a surgir no mercado político.
Isso funcionou em vários lugares e, diante desta dinâmica, corre o risco de perder o poder exatamente pelo mesmo mecanismo que operou sua vitória. A tese é simples. Na posição agora de protagonista, abre espaço para os antagonistas ao projeto atual usarem a rejeição como elemento motor de suas campanhas.
O problema dessa dinâmica é o embate entre rejeições, algo que enfraquece o debate político e enterra a proposição de ideias, motor de qualquer democracia. Nesse modelo, valem mais os embates entre torcidas do que a discussão de projetos. Um duelo em que a derrota do oponente é o maior objetivo, maior inclusive que o triunfo dos vitoriosos. Um movimento cíclico que acaba enfraquecendo a política como meio essencial de uma convergência entre adversários.
O fenômeno não ocorre somente no Brasil, onde resulta da falta de entregas reais da política tradicional. A rejeição aos políticos surgiu diante de uma população que cansou de esperar mais do mesmo e resolveu optar por elementos de fora do espectro convencional. É uma reação digna e justa, mas que jogou o sistema em um modelo cíclico do qual é refém.
O caminho rumo ao novo e perigoso paradigma que se apresenta é a opção eleitoral pela razão ao invés da emoção, algo que não combina com campanhas, polarização e um duelo entre antagonistas que se pauta pela rejeição. Longe da solução eleitoral, a única saída é aguardar os desgastes e brigas internas, que acabam por enfraquecer esses modelos, e esperar pelo início de um novo ciclo.
Países divididos geralmente não avançam em agendas prioritárias para a população, uma vez que são reféns de suas próprias narrativas e modelo antagônico de governo. Em contrapartida, nações maduras, que enxergam o lado contrário como adversários ao invés de inimigos, tendem a evoluir e progredir de forma mais rápida e eficaz, sendo capazes de convergir e aplicar políticas públicas comuns e necessárias para a população.
O tradicional antagonismo — ora chamado de polarização — se tornou uma moeda comum no mercado político, mas que já foi rejeitada por diversos países que sofreram reflexos deste fenômeno em anos recentes. Resta saber como o Brasil irá se comportar perante essa realidade. É possível que, uma vez cumprida sua missão, a rejeição feneça e a política se restabeleça como canal para a construção de um novo país. As eleições de outubro serão fundamentais para sabermos qual rumo nosso país decidirá trilhar e que tipo de política teremos pelos próximo anos.