quarta-feira, 8 de março de 2023

UMA MUAMBA DAS ARÁBIAS

 

Bolsonaro se aproveitou de uma visita oficial ao príncipe saudita Mohammad bin Salman (aquele que mantém a mãe em cativeiro e esquarteja jornalistas) para incorporar a seu patrimônio pessoal uma muamba das arábias, escreveu Josias de Souza em sua coluna no UOL. As joias que foram presenteadas à então primeira-dama Michelle Bolsonaro deveriam entrar no Brasil como um presente oficial, mas desembarcaram no aeroporto de Guarulhos escondidas na mochila de um assessor do então ministro Bento Albuquerque, membro da comitiva presidencial.
 
Graças a uma emboscada da sorte e ao equipamento de raio X, fiscais da Receita Federal farejaram a mercadoria — que, sob a anormalidade bolsonarista, tomou o atalho do descaminho (os impostos e a multa custariam quase o valor das joias que o casal presidencial gostaria de trazer para o país pela porta dos
Ao saber que as joias haviam sido apreendidas, Albuquerque retornou à área da alfândega e tentou ele próprio retirar os itens (a cena foi registrada pelas câmeras de segurança do local). Ele disse que se tratava de um presente pessoal para a primeira-dama e que seria "devidamente incorporadas ao acervo oficial brasileiro" (segundo a Receita, nenhum pedido de incorporação ao acervo foi feito na época).
 
Visando reaver a muamba avaliada em R$ 16,5 milhões, o "mito" despachou para Guarulhos (num jatinho da FAB) um sargento, que voltou de mãos abanando. Tentou o Itamaraty (nada), a pasta de Minas e Energia (nada) e a cúpula da Receita (nada). Quando o imbróglio veio à tona, Michelle correu às redes sociais para fazer troça do noticiário, mas o ministro da Justiça, Flávio Dino, foi direto ao ponto: "Fatos relativos a joias, que podem configurar os crimes de descaminho, peculato e lavagem de dinheiro, entre outros possíveis delitos, serão levados ao conhecimento oficial da Polícia Federal para providências legais." O inquérito foi instaurado na segunda-feira (6).
 
Nos idos de 2016 o TCU determinou que presentes recebidos por presidentes desde 2002 fossem incorporados ao patrimônio da União, mesmo que não tenham sido entregues em cerimônias formais de trocas de presentes. Só podem ser degustados
 doces, frutas, bebidas e outros itens de consumo, e considerados patrimônio pessoal presentes de natureza personalíssima, como medalhas, troféus e assemelhados.

Da cueca do Pateta em Orlando (Flávio Bolsonaro tuitou que o pai voltaria ao Brasil na semana que vem, mas voltou atrás e informou que a data de regresso será informada em momento oportuno pelo pai), o ex-presidente afirmou que estava no Brasil quando o assessor de seu ministro de Minas e Energia trouxe o presente em um avião de carreira, e que as joias ficaram retidas na alfândega sem que ele (Bolsonaro) ficasse sabendo. Para o professor e historiador Marco Antonio Villacausa estranheza a fato de joias caríssimas virem na mochila de um assessor, como se fosse um sanduíche de mortadela.
 
ObservaçãoUm dia antes de as joias chegarem ao país, Bolsonaro almoçou com o embaixador saudita em Brasília, segundo o jornal O GloboTambém participaram desse regabofe o filho Flávio, o então ministro de Relações Exteriores Carlos França e diplomatas de países do Oriente Médio. Ainda segundo O Globo, o encontro não constou nas agendas do presidente e do ministro, e o Planalto não divulgou o que foi tratado no almoço.
 
A família Bolsonaro vive num universo paralelo, onde é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que uma explicação por um detector de mentiras. Os pecados capitais, como se sabe, são sete: soberba, avareza, luxúria, inveja, gula, ira e preguiça. Michelle parece empenhada em convencer os teólogos de que é imperioso catalogar um oitavo pecado capital: o do capital propriamente dito.
 
Com Josias de Souza, CNN Brasil e O Globo