quarta-feira, 8 de março de 2023

CARLO ROVELLI E A INEXISTÊNCIA DO TEMPO (PARTE 2)

NEM SEMPRE A NOSTALGIA É UM SENTIMENTO INDEFINIDO, MELANCÓLICO, QUASE BELO, EMBORA SEJA ASSIM QUE COSTUMAMOS IMAGINÁ-LA. 


A relatividade geral ensina que o espaço não é uma caixa rígida e inerte, mas algo como um imenso molusco que se comprime e se retorce, ao passo que mecânica quântica sugere que ele é formado por pequenos pacotinhos, como os fótons que formam a luz (a diferença entre os fótons e os pacotinhos de espaço é que os fótons vivem no espaço e os pacotinhos são o espaço).

gravidade quântica em loop pacifica a relação entre a relatividade geral e a mecânica quântica por não utilizar nenhuma outra hipótese além dessas duas teorias (devidamente reescritas para se tornarem compatíveis). De acordo com Rovelli, a hipótese de o espaço ser um recipiente amorfo das coisas desaparece da física com a gravidade quântica. As coisas (quanta) não habitam o espaço, mas os arredores umas das outras; o espaço é o tecido de suas relações de vizinhança e, numa escala muito pequena, algo contínuo, mas que tem como limite o limite dos pacotinhos que o formam.
 
Se o espaço não é um "recipiente que contém as coisas", o tempo não é uma linha reta pela qual as coisas fluem, uma sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro — aliás, Einstein já havia teorizado que tempo e espaço formam um todo único (que chamou de "espaço-tempo"). 

O tempo não é o mesmo em todos os lugares. Um relógio que está sob um móvel não marca o mesmo horário que outro sob o chão, assim como o tempo de quem está na praia é diferente daquele de quem está no alto do Everest. Quanto mais próximo do centro da terra, mais intensa é a gravidade e mais devagar o tempo passa.
 
Os relógios que usamos no dia a dia não registram diferenças de infinitésimas frações de segundo, mas instrumentos de laboratório o fazem. Rovelli explica que para entendermos a teoria da gravidade quântica devemos abandonar a ideia de que existe um gigantesco relógio cósmico que marca o tempo do Universo. Um ano nada mais é do que uma translação (tempo que a Terra demora para dar uma volta completa em torno do Sol). Assim, o conceito de “ano” só faz sentido para os terráqueos. Um hipotético habitante de Plutão não teria a mesma ideia de ano que nós, pois lá o “ano” equivale a 248 translações terrestres. 

Em suma, nosso conceito de tempo é uma "convenção" que pouco tem a ver com as leis do Universo como um todo. Segundo Einstein, cada objeto do Universo possui um tempo próprio. Aliás, Newton também disse não seria possível medir o “verdadeiro” tempo, mas assumir sua existência nos daria uma forma eficaz de descrever vários fenômenos da natureza. O problema é que em uma escala muito pequena — uma escala quântica — o tempo como o concebemos não funciona. 

"Trata-se de uma mudança simples, mas, do ponto de vista conceitual, o salto é grande. Temos de aprender a pensar o mundo não como algo que muda no tempo, mas de alguma outra maneira. As coisas mudam apenas umas em relação às outras. No nível fundamental, o tempo não existe", escreveu Rovelli.

Com Galileu
 
Continua...