Na Presidência, Bolsonaro colecionou 150 pedidos de impeachment e abrilhantou sua capivara com um novo processo a cada seis dias. Fora do trono, sem as prerrogativas do cargo e o escudo do antiprocurador-geral da República, continua dispondo do amparo financeiro do Erário para custear sua defesa. Em outras palavras, além de financiar a bilheteria por meio século, o contribuinte brasileiro é obrigado a arcar com o custo dos incêndios judiciais que esse sujeito provocou no circo durante.
Observação: O ex-presidente mora no déficit público desde 1973, quando virou o soldado que o general Ernesto Geisel classificou posteriormente de mau militar. Enxotado da caserna, elegeu-se vereador, deputado federal e presidente da República. Construiu o conglomerado da rachadinha e amealhou notável patrimônio.
A
manifestação do MPE a favor da suspensão dos direitos políticos do "mito" conduz à reta final a ação deve deixá-lo fora das eleições municipais de 24 e 28 e das presidenciais de 26 e 30. Estima-se que o julgamento ocorra entre o final deste mês de abril e a primeira quinzena de maio, e, a exemplo das outras 15 que ações aguardam na fila, a conduta atribuída ao ex-mandatário é no mínimo psicótica: um presidente que disputa a reeleição e reúne embaixadores estrangeiros para desqualificar o sistema eleitoral e as urnas que o elegeram durante três décadas não é senão um suicida.
Durante sua carreira política, Bolsonaro fez o pior o melhor que pôde. No Planalto, esqueceu de maneirar. Diante de sua provável inelegibilidade, planeja retratar-se como vítima de uma "injustiça" enquanto faz jus ao salário que passou a receber do PL atuando como cabo eleitoral do partido nas eleições municipais de 2024. Imagina que a exposição o manterá politicamente ativo, facilitando sua volta como candidato ao final da quarentena.
Observação: O exílio de três meses na Flórida e o escândalo das joias sauditas impuseram prejuízo ínfimo à imagem de Bolsonaro aos olhos de seus apoiadores, daí a decisão de pegar em lanças para tentar reaver seus direitos políticos (caso se confirme no TSE a suspensão por oito anos). Ainda que as tentativas fracassem, como parece provável, acredita-se que o "injustiçado" consiga transferir votos em 2026 para um candidato de sua predileção.
Afora a crença de que a liderança de Bolsonaro é inoxidável, os planos do PL esbarram noutra peculiaridade: o êxito da estratégia depende do insucesso de todos os outros atores. Para que o capetão se mantenha politicamente tinindo até 2026, será preciso que Lula 3.0 seja um fiasco e que Tarcísio de Freitas, visto no momento como principal opção da direita, faça uma gestão tão ruim no governo de São Paulo que não consiga ganhar luz própria.
Fato é que há um corre-corre em torno do quase-defunto político. A impressão que se tem é a de que estão tentando ressuscitar o morto, mas quem olhar mais de perto percebe que tudo não passa de uma briga pelo espólio do bolsonarismo. Numa ponta do caixão está Tarcísio de Freiras; na outra, Valdemar Costa Neto, abraçado a Michelle; e no meio, o ex-chefe da Casa Civil Ciro Nogueira, tentando costurar desde logo a chapa Tarcísio-Michelle.
Com Josias de Souza.