Quando Simone Tebet envernizou com seu apoio a (pseudo) frente ampla pela democracia, Lula sinalizou que ela poderia ser o que quisesse no futuro governo. Ela quis a pasta do Bolsa Família, mas foi empurrada para o Ministério do Planejamento e aceitou sem dar um pio a demolição geral das atribuições que deveria ter. Hoje, não tem autonomia sequer para compor a própria equipe. Está batendo no fundo do poço.
Sem nem mesmo uma consulta protocolar, a ministra terá de entregar o IBGE a um personagem que, entre o segundo mandato de Lula e o primeiro de Dilma, expurgou pensadores divergentes e encostou o IPEA no desenvolvimentismo criativo do PT. "Nada mais justo do que atender o presidente", disse ela, após ouvir o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social dizer à imprensa que o companheiro Pochmann será o novo presidente do IBGE". Foi como se Lula, às voltas com uma meia-sola ministerial que enfiará mais Centrão na Esplanada, mostrasse a Tebet a porta da saída.
A impressão que se tem é a de que a ex-candidata que pulou para o barco do petista no segundo turno — após passar a campanha toda defendendo um programa oposto ao dele — parece disposta a tudo para continuar a bordo. O novo comandante do IBGE já estava despachando direto com Lula e outros peixes graúdos antes mesmo de ter a primeira reunião com sua suposta chefe. E ele pode ser tudo, menos "técnico". É tão "qualificado" para o cargo quando o rei Herodes seria para dirigir o serviço federal de creches.
No último dia 29, Pochmann defendeu a revisão da autonomia do Banco Central e criticou a privatização da Eletrobras. É contra o PIX, a favor da exploração do “espaço sideral” e se acha capaz de "zerar" a dívida pública expropriando a riqueza dos milionários. Sua nomeação tem como único propósito fazer o IBGE produzir os números que Lula quer.
O risco associado à continuidade de Bolsonaro foi decisivo para que Lula prevalecesse com a magra diferença de 1,8% dos votos. Juntaram-se aos eleitores petistas os brasileiros que votaram no ex-presidiário para evitar mais quatro anos do capetão. A crueldade dispensada a Tebet destina-se a demonstrar que o fator democrático envelheceu precocemente.
A cinco meses do Natal, a tese de que Lula governaria escorado numa frente ampla ficou muito parecida com Papai Noel. A imagem é bonita. Mas não passa de uma fantasia.
Marcos Valério informou em delação premiada que Ronan Maria Pinto chantageava Lula para não revelar informações sobre um esquema ilegal de propinas para abastecer o caixa do PT, e que Celso Daniel produziu um dossiê sobre quem estava sendo financiado de forma ilegal, mas o ministro Celso de Mello validou somente parte da delação.
De acordo com o MPF, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigão de Lula, tomou junto ao Banco Schahin um empréstimo de R$ 12 milhões para quitar dívidas do PT e comprar o silêncio de Ronan). Em contrapartida, o Grupo Schahin foi favorecido na compra do navio-sonda Vitória 10.000 pela Petrobras (ao custo de US$ 1,6 bilhão). Com a morte de Daniel, Antonio Palocci assumiu a coordenação da campanha de Lula. Foi dele a ideia da "carta ao povo brasileiro" em 2002 e foi ministro da Fazenda na primeira gestão petista.
Palocci chegou a ser cotado para suceder a Lula em 2010, mas saiu pela porta dos fundos quatro anos antes, acusado de participação na quebra ilegal do sigilo bancário de Francenildo Costa. Quatro anos depois, foi convocado para ajudar a eleger Dilma e operou para angariar fundos junto às empresas que se beneficiaram do governo petista. Em 2017, foi condenado a 12 anos e 2 meses de prisão (por corrupção passiva e lavagem de dinheiro). Em 2019, seu acordo de colaboração premiada foi homologado. Ao tomar conhecimento do conteúdo, Lula disse: "Eu conheço o Palocci bem. Se ele não fosse um ser humano, ele seria um simulador. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Palocci é médico, é calculista, é frio".
Lula também acusou os procuradores do MPF de "inventar que ele era o dono do triplex no Guarujá", e chamou Delcídio do Amaral de "mentiroso descarado", embora tenha apoiado sua campanha ao governo de Mato Grosso. Todos mentem; só ele fala a verdade.