quarta-feira, 8 de novembro de 2023

UMA QUESTÃO "ARBÓREA"


A ocorrência de diversos desastres naturais — recorde de temperatura, seca, incêndios, enchentes e até ciclones — soa o alerta climático para que as autoridades saiam do escuro. Diante do cataclismo causado pelo temporal que desabou sobre São Paulo na última sexta-feira, as autoridades públicas e gestores privados decidiram discutir um plano B no escuro.
 
Já passou da hora de a Aneel cobrar explicações da Enel e de a Prefeitura de São Paulo esclarecer os problemas de manutenção nas árvores da cidade. Não é caso de diálogo, mas de punição. Na avaliação do governador paulista, "o grande vilão deste episódio foi a questão arbórea". Já o alcaide paulistano afirmou que o contrato com a Enel foi malfeito. Pode até ter sido. Mas isso não exime a prefeitura de sua parcela de responsabilidade.

A saída para evitar novos apagões envolve a transferência da fiação dos postes para o subterrâneo e uma adequada conservação das árvores. A Enel não se programou para apressar o enterro dos fios, e a prefeitura faz por pressão um trabalho que deixou de realizar por precaução. 

As questões municipais — da limpeza das ruas à conservação dos bueiros, das opções de transporte coletivo à coleta de lixo — costumam ser relegadas a segundo plano nas campanhas eleitorais. Até sexta-feira, o debate sobre a disputa pela prefeitura de São Paulo se restringia a discutir se o melhor para a cidade é um prefeito apoiado pelo imbrochável inelegível ou por D. Lula III. O apagão que ainda mantinha mais de 400 mil imóveis no breu na tarde desta segunda-feira forneceu a resposta: São Paulo precisa é de um prefeito que queira podar as árvores da cidade.

A tentativa de federalizar a eleição municipal adiciona ao descaso uma dose de escárnio. Para complicar, assiste-se a um jogo coletivo de empurra. Prefeito, governador e concessionário atribuem o apagão aos ventos e a outras forças do alheio. A agência reguladora federal nem regula nem fiscaliza, apenas oferece diálogo e compreensão a quem merece multa e desconcessão.