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No início do século XV, quando ingleses, portugueses e espanhóis ainda se espetavam com lanças e flechas, os chineses já dispunham de armas de fogo e dominavam os mares com navios de 150 metros de comprimento — as maiores e mais mortíferas embarcações já feitas pelo homem até então. Entre as viagens que essa poderosa armada empreendeu pelo Índico entre 1400 e 1430, a expedição comandada por Zheng He teria costeado a África e dado meia volta nas proximidades da Tanzânia (percorrendo quase o dobro da distância entre Brasil e Portugal). Mas há controvérsias: em em 1421 - O ano em que a China descobriu o mundo , o controverso autor britânico Gavin Menzies afirma que a frota teria seguido adiante e contornado o Cabo das Tormentas 60 anos antes de Bartolomeu Dias, e dali se lançado à descoberta do Novo Mundo.
Ainda segundo Menzies, os chineses aportaram no litoral do Maranhão ou de Pernambuco em setembro de 1421, espalharem seus genes pelo Brasil (eufemismo para "treparem com as nativas") e seguiram viagem pelo Pacífico até o sul da Argentina, dado a volta ao mundo e desembarcado na Austrália. Vale destacar que tanto os aborígenes australianos quanto os maoris neozelandeses contam histórias sobre navegantes "vestidos com longas túnicas" que teriam aportado por lá antes dos europeus.
Só não se fala mandarim nem se come com pauzinhos no Brasil e na Austrália porque, quando Zheng He retornou à China (em 1423), o imperador patrono das navegações havia sido deposto, e seu sucessor achou que conquistar o mundo estava onerando os cofres imperiais. Em suma, a marinha chinesa foi praticamente desativada, a maior parte dos documentos relativos à viagem de Zheng He, incinerada (com o objetivo de desestimular extravagâncias futuras apagando os vestígios das passadas), a China deixou de conhecer o mundo, Zheng He virou tabu nacional, as colônias chinesas no Novo Mundo definharam e sua memória se perdeu.
Observação: As provas concretas que sustentam a teoria de Menzies são poucas, frágeis e fortemente contestadas, mas preenchem muitas lacunas, como o Planisfério de Fra Mauro, que registra a localização exata do Cabo da Boa Esperança mais de 30 anos antes da descoberta oficial de Bartolomeu Dias (segundo Menzies, o monge cartógrafo copiou uma carta náutica desenhada pela armada de Zheng He no início do século 15).
É consenso entre os historiadores que a América foi descoberta por vikings escandinavos que exploravam o litoral da Europa e o norte do Atlântico no século 9. A Saga dos Groenlandeses, escrita nos anos 1200, conta que Leif Eriksson teria partido da Groenlândia por volta de 970 e fundado a "Vinlândia" no noroeste do Atlântico, e que o entreposto foi destruído por um "povo misterioso que disparava flechas, vestia jaquetas de couro e remava botes cobertos de peles". Essa lenda era bem conhecida na Europa na época dos descobrimentos, mas achava-se que tudo não passava de mitologia. Até que um grupo de arqueólogos desenterrou uma fazenda tipicamente viking na província de Newfoundland, no litoral do Canadá, no início dos anos 1960.
Observação: A datação do carbono 14 (teste químico que determina a idade de peças arqueológicas) revelou que essa fazenda havia sido construída por volta do ano 1000. A data bate com a história da Saga, e o tal povo misterioso parece ser o Beothuk, que viveu na região durante os séculos X e XI. Tudo indica que os vikings navegaram à América no século X e ficaram alguns anos por lá — até porque seria estranho se não tivessem explorado terra adentro —, mas, por enquanto, faltam provas.
A tese de que os chineses chegaram às Américas antes de Colombo nunca morreu: em 2006, um advogado chinês chamado Liu Gang afirmou ter encontrado um objeto um mapa com os cinco continentes do planeta feito em 1763, mas com uma anotação no verso dizendo ser uma reprodução de outro mapa de 1418. Em 2014, outra evidência das descobertas marítimas chinesas surgiu: durante uma expedição à remota ilha australiana de Elcho, arqueólogos encontraram uma moeda da Dinastia Qing prensada entre os anos 1735 e 1795.
Continua...