Einstein definiu o tempo como uma dimensão física entrelaçada com o espaço, disse que o espaço não era como "uma caixa rígida e inerte que contém as coisas" nem o tempo "uma linha reta pela qual as coisas fluem numa sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro".
Séculos antes, Newton havia dito não era possível medir o "tempo verdadeiro", mas pressupor sua existência ajudava a compreender o amanhecer, o anoitecer e outros fenômenos naturais vinculados ao relógio e ao calendário. Bem mais recentemente, Julian Barbour afirmou que existe um universo onde o tempo flui do que chamamos de passado para o que chamamos de futuro", e outro em que ele corre no sentido inverso.
Tudo isso parece ficção cientifica, mas a verdadeira "beleza" da ciência não está nas respostas, e sim nas perguntas que cada resposta suscita. Então, se o que é futuro para um observador é passado para outro, o tempo não flui necessariamente do ontem para o amanhã, e se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, não seria o tempo apenas uma invenção humana destinada a facilitar a compreensão da realidade?
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Nos EUA, um juiz achou normal um ex-presidente levar para casa documentos secretos do governo; aqui, um ex-presidente acha normal ligar para o chefe da Receita Federal para "aliviar a barra" de um filho investigado. Vivemos tempos estranhos quando ações nitidamente ilegais são consideradas normais e os Poderes conspiram para a transformar uma republiqueta de bananas num governo autoritário que controla os poderes. O presidente de turno pode escolher o secretário da Receita Federal, mas não pode interferir nas investigações, muito menos para defender um filho. Não vivemos numa monarquia absolutista, onde a família do rei é intocável. Mas a vontade de normalizar qualquer deslize vai longe, tanto na visão de direita quanto da esquerda.
O Legislativo é um poço de fisiologismo a serviço do desserviço (no que toca à população), o Judiciário se arroga o direito de direcionar as investigações do ponto de vista de uma maioria relativa — e as togas votam de maneira sobre casos idênticos de acordo com a conjuntura e o bandido de estimação da vez — e Lula acha que pode tudo, de interferir na Petrobras a indicar a velha camarinha de aliados para órgãos estatais.
Nas pegadas da anulação do leilão para a compra de 264 mil toneladas de arroz — que teve entre os vencedores uma loja de queijos e uma locadora de automóveis — o Ministério da Saúde suspendeu a licitação de R$ 840 milhões para a compra de imunoglobulina, depois que as empresas participantes do certame apresentaram preços acima do valor de referência estipulado pelo governo.
Farejando o cheiro de cartel, o plenário do TCU autorizou, no ano passado, a pasta da Saúde a incluir na disputa empresas estrangeiras, que oferecem o medicamento a preços até 30% inferiores aos dos concorrentes nacionais, mas os fornecedores domésticos recorreram ao STF e o ministro Nunes Marques decidiu monocraticamente proibir a aquisição do remédio importado.
A despeito dos riscos apontados pelo TCU, o fantasma da cartelização continua assombrando a licitação, mas não ocorreu a ninguém acionar a Anvisa para examinar a possibilidade de certificar o medicamento fabricado no estrangeiro. A encrenca da imunoglobulina superfaturada chega depois de outra esquisitice licitatória que levou o TCU a obrigar a Secom a suspender contrato de R$ 197,7 milhões com empresas que cuidariam das redes sociais do governo — o resultado da tomada de preços foi exposto na imprensa antes da proclamação dos vencedores.
São tempos muito estranhos, estes que vivemos.
O Legislativo é um poço de fisiologismo a serviço do desserviço (no que toca à população), o Judiciário se arroga o direito de direcionar as investigações do ponto de vista de uma maioria relativa — e as togas votam de maneira sobre casos idênticos de acordo com a conjuntura e o bandido de estimação da vez — e Lula acha que pode tudo, de interferir na Petrobras a indicar a velha camarinha de aliados para órgãos estatais.
Nas pegadas da anulação do leilão para a compra de 264 mil toneladas de arroz — que teve entre os vencedores uma loja de queijos e uma locadora de automóveis — o Ministério da Saúde suspendeu a licitação de R$ 840 milhões para a compra de imunoglobulina, depois que as empresas participantes do certame apresentaram preços acima do valor de referência estipulado pelo governo.
Farejando o cheiro de cartel, o plenário do TCU autorizou, no ano passado, a pasta da Saúde a incluir na disputa empresas estrangeiras, que oferecem o medicamento a preços até 30% inferiores aos dos concorrentes nacionais, mas os fornecedores domésticos recorreram ao STF e o ministro Nunes Marques decidiu monocraticamente proibir a aquisição do remédio importado.
A despeito dos riscos apontados pelo TCU, o fantasma da cartelização continua assombrando a licitação, mas não ocorreu a ninguém acionar a Anvisa para examinar a possibilidade de certificar o medicamento fabricado no estrangeiro. A encrenca da imunoglobulina superfaturada chega depois de outra esquisitice licitatória que levou o TCU a obrigar a Secom a suspender contrato de R$ 197,7 milhões com empresas que cuidariam das redes sociais do governo — o resultado da tomada de preços foi exposto na imprensa antes da proclamação dos vencedores.
São tempos muito estranhos, estes que vivemos.
Num evento organizado pela revista New Scientist em 2020, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda, pendurou a caneta no meio para marcar o presente, disse que o futuro estava à direita e o passado à esquerda e que o tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar e medir com nossos relógios. Depois de uma breve pausa, ele acrescentou: "Quase tudo o que eu disse está errado; é como se eu dissesse que a Terra é plana."
Rovelli ensinou que o aquilo que costumamos chamar de "tempo" é um emaranhado de camadas de fenômenos diferentes, que podem ser relevantes para alguns e irrelevantes para outros. Se nossas medições fossem precisas o suficiente, veríamos que o tempo corre em velocidades distintas para pessoas diferentes, dependendo de onde elas estão e de como se movimentam, mas não percebemos essas diferenças porque as velocidades que experimentamos no dia a dia são muito pequenas.
Parafraseando Stephen Hawking, se o calendário for apenas uma convenção, nossa existência estaria pré-definida desde o Big Bang. Se tudo que existe é um efeito-cascata de causas e consequências, o plasma de quark-glúon dos primeiros instantes do universo já estaria destinado a dar origem à matéria, às estrelas, aos planetas e a formas de vida como nós. Assim, nossa correria para cumprir prazos e horários se deve a uma ilusão criada por nós mesmos, da mesma forma que o coelhinho da Páscoa serve para vender chocolate.
Observação: Segundo a física tradicional, o tempo como é uma dimensão real tão fundamental quanto o espaço — que Einstein unificou com o tempo num tecido contínuo que ficou conhecido como espaço-tempo. Embora possamos viver a vida baseados na ilusão útil do tempo ou assumir que tudo é uma sequência de momentos independentes, ainda teremos de acordar na hora certa todas as manhãs.
A tese segundo a qual o espaço-tempo é uma estrutura única e inseparável é quase uma unanimidade no meio científico, mas algumas "incompatibilidades" entre a relatividade geral e a mecânica quântica permitem questionar se Einstein estava certo em tudo que postulou. No mundo das partículas, diferentemente das outras três forças da natureza, a gravidade deixa de ser uma atração entre dois corpos e passa a ser uma deformação no tecido do cosmos causada pela matéria e de acordo com sua massa. Isso significa que o trânsito pelas três dimensões espaciais no espaço-tempo flui por "vias de mão dupla", mas na quarta dimensão a via é de mão única.
Ou seria, pois a Termodinâmica Quântica admite a possibilidade de invertê-la, de modo que o tempo pode, sim, "andar’ para trás", ao menos no diminuto universo atômico e subatômico. Isso se o tempo realmente existir. Se não existir, sempre resta a causalidade.
Continua...