terça-feira, 6 de agosto de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE VIII)

vivemos tempos estranhos quando os fatos se calam par não ofender as versões, e os sábios silenciam para não constranger a estupidez.

Sabe-se que a história da maçã é pura gentileza 
— o Adão comeu a Eva e a maçã de sobremesa —, mas não se sabe o que o arcebispo irlandês James Ussher teria bebido, fumado ou cheirado quando anotou em "The Annals of the World" que Deus criou o mundo às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.

Seria mais fácil desvendar esses e outros mistérios se as viagens no tempo fossem tão corriqueiras quanto os voos internacionais — que eram inconcebíveis até o início do século passado. Talvez seja apenas uma questão de tempo, pois não há nada como o tempo para passar (isso se ele existir, naturalmente).

A contagem do tempo começou quando nossos ancestrais perceberam padrões no amanhecer e no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Os ciclos diurnos e noturnos foram provavelmente as primeiras unidades de tempo usadas pelos humanos, e as fases lunares, uma das primeiras maneiras de dividir o tempo em períodos maiores, o que ensejou a criação dos calendários lunares. 


Os primeiro calendários foram desenvolvidos sumérios — que habitavam a região que hoje corresponde ao sul do Iraque —, milênios antes da era cristã. Mais ou menos na mesma época, os egípcios criaram um calendário baseado na estrela Sirius, que só era avistada nas madrugadas durante o inicio da enchente do rio Nilo, que não acontecia todos os anos e, quando acontecia, não começava sempre no mesmo dia. 


Mais adiante, os babilônios criaram um calendário lunissolar, combinando meses lunares com ajustes periódicos baseados no ciclo solar e um mês adicional em alguns anos, visando corrigir a discrepância entre o ano lunar e o solar. Já os maias tinham um calendário com múltiplos ciclos, incluindo o Tzolk'in (calendário sagrado de 260 dias) e o Haab' (calendário civil de 365 dias), além do "Calendário de Contagem Longa," que mapeava períodos muito mais longos.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Há quem fale em "estratégia" diplomática ao mencionar o histórico do Itamaraty para analisar a postura de Lula e de seu assessor Celso Amorim na questão, mas isso não faz sentido. Carlos Graieb escreveu em Lula, sócio majoritário da tragédia venezuelana, assim como Ricardo Kertzman em Celso Amorim é mais que “observador” da farsa eleitoral de Maduro o mesmo que Rodolfo Borges escreveu n'O Antagonista: "o governo Lula faz parte da tragédia venezuelana não como mediador, mas como cúmplice."
O Palácio do Planalto não reconhece a vitória de Urrutia — como fizeram Estados Unidos, Argentina e Uruguai, entre outros — não por conta de uma estratégia para a saída da crise, mas por fazer parte da crise. No momento em que admitir que Maduro fraudou a eleição, o governo brasileiro reconhecerá automaticamente o que já deveria ter reconhecido há meses: não há democracia na Venezuela, e não é de hoje.
Faz bem mais de uma década que a Venezuela não sabe o que é democracia, mas Lula recebeu Maduro com pompas de chefe de Estado em maio de 2023 e lhe deu uma dica pública de como lidar com o que ele considerava críticas injustas aos desmandos do regime: "Companheiro Maduro, é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo. É preciso que você construa sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor."
A narrativa que Maduro encontrou para explicar a fraude eleitoral é que o "Golias Elon Musk" foi responsável pelo "primeiro golpe de Estado cibernético na história da humanidade". Será que cola, Lula?
É constrangedor ver o chanceler paralelo Celso Amorim manter um discurso de confiança nas instituições venezuelanas, dominadas há décadas pelo chavismo. Qualquer benefício da alegada mediação brasileira na crise venezuelana ocorrerá por fruto de golpes de sorte. O governo Lula não está nessa condição por se comportar de forma imparcial ou fazer cálculos diplomáticos, mas por ter um lado bem claro nessa história. É por isso que o Brasil toma conta hoje das embaixadas da Argentina e do Peru, cujos representantes foram expulsos com outros que ousaram questionar de fato a "vitória" de Maduro. 
Não é uma questão de solidariedade, mas de responsabilidade pelo que está acontecendo na Venezuela neste momento.
 
Consideramos o tempo como o plano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. De acordo com o princípio da causalidade (e a sabedoria do Conselheiro Acácio), as causas sempre precedem as consequências, razão pela qual o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje e o que acontece hoje faz o mesmo em relação ao que acontecerá amanhã. 

Se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se esse fluxo de eventos rumo ao futuro depende do presente que virou passado, o tempo sempre imporá limites ao que pode acontecer. Mas será mesmo que a seta do tempo aponta sempre para o futuro?
 
Como eu mencionei nos capítulos anteriores — mas repito em atenção a quem não acompanhou esta sequência desde o começo —, todos viajamos rumo ao futuro do momento em que nascemos até o momento em que morremos (o que existe depois — se é que existe — já foi discutido em outra sequência. Isso filosoficamente falando, já que, cientificamente falando, Einstein definiu o universo como um bloco quadridimensional estático que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um “agora” especial. 
 
Para o físico Julian Barbour, o universo tem "dois lados" e o tempo "corre nos dois sentidos ao mesmo tempo". Cada direção é uma seta cuja origem é zero. À medida que a seta da direita aumenta até o infinito, a seta da esquerda aponta para o infinito negativo. 
Em outras palavras, existe um universo onde o tempo corre do que chamamos de passado para o que chamamos de futuro e outro em que ele se move do futuro para o passado. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, já que "tempo é mudança". 

Mas se o que vemos acontecer não for o tempo, e sim a mudança, o tempo não existe. E ainda que ele exista, o universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido o tempo se mover numa única direção. Isso parece coisa de ficção científica, mas é uma teoria séria. 

Escorado no princípio da entropia e nas leis da termodinâmica, Barbour sustenta que a própria natureza do Big Bang fez o tempo fluir em direções opostas. Isso faz sentido, já que a física associa o tempo ao aumento da entropia num sistema fechado, que sempre evolui para um estado mais caótico. A questão é que as leis da termodinâmica foram criadas em 1824, com base em cilindros e máquinas em que a energia e o calor passam de um lugar para outro e se dissipam parcialmente durante o processo. 

Em 1865, o físico Rudolf Clausius descobriu que o calor só pode passar de um corpo frio para um corpo quente se ocorrer alguma mudança em torno desses corpos. Assim, a entropia pode aumentar, mas não pode diminuir. Só que nem tudo que se aplica a um espaço delimitado também se aplica a um universo infinito. 

O que diferencia os objetos quentes dos frios é agitação de suas moléculas. Uma bola pode rolar montanha abaixo ou ser chutada de volta para o pico, mas o calor não pode fluir do frio para o quente. Quando uma molécula de água colide com outra, a flecha do tempo desaparece, já que a entropia é um conceito equivalente ao caos, e o caos é irreversível. 

ObservaçãoQuanto mais o tempo passa, mais a entropia do Universo aumenta. O que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, mas o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço. Segundo Rovelli, a entropia é a única lei básica da física que distingue o passado do futuro. 

Como a entropia só pode aumentar, a conclusão é de que o tempo só pode avançar na mesma direção em que a entropia aumenta, mas Barbour esclarece que esses conceitos foram observados em um contexto "normal" e, portanto, se aplicam ao planeta, à matéria, às moléculas e a tudo mais. Ao colapsarem, as partículas que compõem os objetos viajam em diferentes direções e se unem a outras partículas, formando novas estruturas mais complexas.

Ao fazer a matéria e o tempo se moverem em duas direções opostas, o Big Bang criou um "universo espelho" onde tudo acontece ao contrário de como acontece no nosso, e tudo que lá existe é o progresso retrocedendo em direção ao ano zero. 

Conclui no próximo capítulo.