quarta-feira, 9 de outubro de 2024

NOITE ESTRELADA X TURBULÊNCIA DE KOLMOGOROV

THERE ARE MORE THINGS IN HEAVEN AND EARTH, HORATIO, THAN ARE DREAMT OF IN YOUR PHILOSOPHY.

 

Em Noite EstreladaVincent van Gogh retrata um céu revolto, onde estrelas parecem brilhar em meio a um movimento fluido e dinâmico. 

Curiosamente, um artigo publicado na revista Physics of Fluids aponta semelhanças notáveis entre a pintura e a turbulência de KolmogorovMas o mais curioso é que Noite Estrelada foi pintada em 1889, um ano antes da morte do artista e meio século antes da publicação do estudo do matemático russo (1941).

Observação: A teoria de Kolmogorov prevê um comportamento universal na turbulência  em que leis matemáticas descrevem como as energias se dissipam em diferentes escalas. Curiosamente, Noite Estrelada parece capturar essa ideia com precisão artística, mostrando vórtices que se fragmentam em menores, exatamente como a teoria prediz.
 
Acredita-se que as cores vibrantes e o movimento turbulento do céu na tela refletem o estado emocional de Van Gogh, que estava internado em um hospital psiquiátrico quando terminou de pintar o quadro. Mas o que mais impressiona são a forte sensação de movimento produzida pela espirais e as nuances de azul e amarelo que dominam o cenário, que parecem antecipar a descrição científica da turbulência como um fenômeno complexo, 
presente em sistemas que vão da meteorologia à astrofísica. 

Van Gogh se suicidou aos 37 anos, após travar uma longa batalha contra depressão severa. Mas o conceito fluido representado no céu turbulento de Noite Estrelada desafia os cientistas há séculos. Mesmo Leonardo da Vinci já havia tentado compreender o fenômeno — que hoje é estudado através das equações de Navier-Stokes, mas continua sendo um dos maiores enigmas da física.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O embate de 2022 entre Lula e Bolsonaro não se repetiu neste domingo, mas houve semelhanças notáveis, começando pelos menos de 2% de votos que impediram a reeleição do capetão e o triz de pouco menos de 1% que colocou Boulos, e não Marçal, no segundo turno, e seguindo pelos tiros de Roberto Jefferson em policiais e a corrida de Carla Zambelli, de arma em punho, atrás de um desafeto, e o falso atestado de internação de Boulos por consumo de cocaína. 
Jefferson e Zambelli imaginaram-se inimputáveis, protegidos por um impulsionador da onda de loucura coletiva que culminou no 8 de janeiro, e Marçal acreditou no abrigo da lacração na internet, onde grassa a mitificação e a manipulação não tem respostas nem consequências à altura. Em ambos os casos, a aludida rebelião quase deu certo. 
A institucionalidade vence porque (ainda) tem a maioria. E é importante que isso seja mantido, não necessariamente para deixar as coisas como estão, mas para compreender que é possível fazer valer as demandas por mudanças na política sem pretender destruí-la. 
Bolsonaro está inelegível e pode ter a prisão decretada a qualquer momento (hello, Xandão!). Marçal obteve projeção, mas não ganhou consistência. Seu partido não elegeu um mísero vereador, e ele está enrolado com as Justiças Criminal e Eleitoral. O depósito de R$ 28 milhões feito pelo Xwitter na CEF, que deveria ter sido feito na conta da União no Banco do Brasil, deu ao ministro Alexandre a oportunidade de cobrar o então candidato por ter usado a plataforma bloqueada para divulgar o laudo médico fajuto prega em Boulos a pecha de cocainômano. 
Em seu despacho, Xandão citou a cassação do deputado bolsonarista Fernando Francischini, condenado por disseminar mentiras sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, e foi ao ponto: "a conduta de Pablo Henrique Costa Marçal, em tese, caracteriza abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação {...} podendo acarretar a cassação do registro ou do diploma e inelegibilidade, conforme decidido pelo TSE". 
A cassação do registro da candidatura perderam o sentido, já que as pretensões eleitorais do elemento em assunto naufragaram no último domingo. Mas ele tem planos de disputar o governo de SP ou a Presidência em 2026, e a derrota urnas não o livra de amargar um jejum eleitoral até 2032.

Essa conexão fascinante entre arte e ciência levanta questões sobre o olhar excepcional de Van Gogh. Mesmo sem o conhecimento técnico da física moderna, o artista parece ter captado a essência de um fenômeno natural que continua desafiando estudiosos até hoje. Será que sua sensibilidade artística lhe permitiu “vislumbrar” algo que a ciência só viria a compreender mais tarde?
 
Como diria Shakespeare, "há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que pode imaginar a tua vã filosofia". Essa citação de Hamlet, no Ato I, Cena V, quando o príncipe fala com seu amigo após ter se encontrado com o fantasma do pai, nos lembra que há mistérios no mundo que transcendem a compreensão lógica e científica — um pensamento que Van Gogh parece ter compartilhado em sua arte.