SUTOR, NE ULTRA CREPIDAM.
O Velho Testamento é um conjunto de lendas, mitos e tradições culturais que foram transmitidas oralmente por várias gerações até serem compiladas (supostamente) por Moisés em 1200 a.C.
O Velho Testamento é um conjunto de lendas, mitos e tradições culturais que foram transmitidas oralmente por várias gerações até serem compiladas (supostamente) por Moisés em 1200 a.C.
O Gênesis — o primeiro livro da Bíblia judaico-cristã, mas não o primeiro a ser escrito — começa com a palavra bereshit (no princípio, em hebraico) e narra a origem da vida, do mundo e do povo hebreu, que Moisés liderou em busca da terra que Deus prometera a Abraão e seus descendentes.
Diz a Bíblia, a certa altura, que Moisés estendeu seu cajado e o Mar Vermelho se abriu, permitindo que os judeus o atravessassem, e se fechou em seguida, afogando o exército egípcio que os perseguia. Embora dominasse os segredos das águas, o guia dos "judeus errantes" não fez bom uso do GPS que Jeová lhe forneceu, pois ele e seu povo caminharam 40 anos pelo deserto do Sinai até finalmente encontrarem Canaã. Sem mencionar que o conceito de "terra prometida" só fez sentido quase 3 mil anos depois, com a criação do Estado de Israel.
Observação: Se o que começou como uma jornada pelo deserto se tornou uma diáspora cheia de reviravoltas, exílios e retornos, talvez essa lenda tenha menos a ver com a busca por uma terra prometida e mais com a obstinação do povo judeu em seguir adiante, independentemente de quão longa fosse a estrada. Mas isso é outra conversa.
As narrativas que compõem o Gênesis não fornecem uma explicação científica ou histórica sobre o passado, mesmo porque a literatura bíblica não é jornalismo, e nem os fatos foram registrados em tempo real. Ainda assim, os criacionistas e os seguidores das religiões abraâmicas acreditam piamente que Deus criou o mundo e tudo que nele existe em seis dias — e descansou no sétimo, após ver que "tudo quanto tinha feito era muito bom". Aliás, o arcebispo irlandês James Ussher anotou em "The Annals of the World" que o Criador iniciou sua obra precisamente às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.
Diferentemente dos dogmas religiosos, que pedem fé inquestionável, a ciência busca evidências e procura comprová-las por meio de experimentos — lembrando que "ausência de evidência não é evidência de ausência", como ensinou o astrofísico Carl Sagan. A interpretação literal da Bíblia colide com o conhecimento científico adquirido e acumulado ao longo dos séculos. Por outro lado, premissas científicas podem ser questionadas e modificadas conforme novas descobertas surgem.
Escorado na Teoria do Big Bang, o modelo cosmológico mais aceito atualmente sustenta que o Universo surgiu há 13,8 bilhões de anos, a partir de uma explosão de energia e matéria. No entanto, com a descoberta de galáxias primitivas, supostamente mais antigas que o próprio Universo — como Matusalém —, o físico indiano Rajendra Gupta sugeriu recentemente que o cosmos teria se formado há 26,7 bilhões de anos.
Ao longo dos últimos séculos, áreas como a física, a astronomia e a biologia evolutiva revelaram uma complexidade no Universo e na vida muito maior do que as descrições encontradas em textos antigos. A evolução das espécies e a formação de estrelas e planetas são processos que ocorreram ao longo de bilhões de anos.
Diz a Bíblia, a certa altura, que Moisés estendeu seu cajado e o Mar Vermelho se abriu, permitindo que os judeus o atravessassem, e se fechou em seguida, afogando o exército egípcio que os perseguia. Embora dominasse os segredos das águas, o guia dos "judeus errantes" não fez bom uso do GPS que Jeová lhe forneceu, pois ele e seu povo caminharam 40 anos pelo deserto do Sinai até finalmente encontrarem Canaã. Sem mencionar que o conceito de "terra prometida" só fez sentido quase 3 mil anos depois, com a criação do Estado de Israel.
Observação: Se o que começou como uma jornada pelo deserto se tornou uma diáspora cheia de reviravoltas, exílios e retornos, talvez essa lenda tenha menos a ver com a busca por uma terra prometida e mais com a obstinação do povo judeu em seguir adiante, independentemente de quão longa fosse a estrada. Mas isso é outra conversa.
As narrativas que compõem o Gênesis não fornecem uma explicação científica ou histórica sobre o passado, mesmo porque a literatura bíblica não é jornalismo, e nem os fatos foram registrados em tempo real. Ainda assim, os criacionistas e os seguidores das religiões abraâmicas acreditam piamente que Deus criou o mundo e tudo que nele existe em seis dias — e descansou no sétimo, após ver que "tudo quanto tinha feito era muito bom". Aliás, o arcebispo irlandês James Ussher anotou em "The Annals of the World" que o Criador iniciou sua obra precisamente às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.
Diferentemente dos dogmas religiosos, que pedem fé inquestionável, a ciência busca evidências e procura comprová-las por meio de experimentos — lembrando que "ausência de evidência não é evidência de ausência", como ensinou o astrofísico Carl Sagan. A interpretação literal da Bíblia colide com o conhecimento científico adquirido e acumulado ao longo dos séculos. Por outro lado, premissas científicas podem ser questionadas e modificadas conforme novas descobertas surgem.
Escorado na Teoria do Big Bang, o modelo cosmológico mais aceito atualmente sustenta que o Universo surgiu há 13,8 bilhões de anos, a partir de uma explosão de energia e matéria. No entanto, com a descoberta de galáxias primitivas, supostamente mais antigas que o próprio Universo — como Matusalém —, o físico indiano Rajendra Gupta sugeriu recentemente que o cosmos teria se formado há 26,7 bilhões de anos.
Ao longo dos últimos séculos, áreas como a física, a astronomia e a biologia evolutiva revelaram uma complexidade no Universo e na vida muito maior do que as descrições encontradas em textos antigos. A evolução das espécies e a formação de estrelas e planetas são processos que ocorreram ao longo de bilhões de anos.
Nosso sistema solar se formou há 5 bilhões de anos, e a Terra surgiu 500 milhões de anos depois. A família dos Hominídeos (que inclui os humanos e os grandes símios) divergiu das demais há 20 milhões de anos, o gênero Homo surgiu 2,5 milhões de anos atrás, e o Homo sapiens evoluiu do Homo erectus há 300 mil anos. Não são meras conjecturas, mas estimativas baseadas em descobertas arqueológicas e no estudo de ossos e crânios encontrados por paleontólogos.
Há muito que se busca conciliar visões religiosas com a Ciência. Para que a fé (não confundir com religião) e a Ciência não sejam mutuamente excludentes, é preciso que suas esferas sejam respeitadas. As religiões podem oferecer conforto espiritual e respostas a questões como o propósito e o sentido da vida, e a ciência, explicar os processos naturais que moldaram o Universo. Quando as narrativas religiosas são tomadas como fatos científicos, perdem-se nuances importantes. Insistir que o Gênesis é uma descrição literal da criação é ignorar séculos de progresso científico que expandiram nossa compreensão sobre o universo.
Há muito que se busca conciliar visões religiosas com a Ciência. Para que a fé (não confundir com religião) e a Ciência não sejam mutuamente excludentes, é preciso que suas esferas sejam respeitadas. As religiões podem oferecer conforto espiritual e respostas a questões como o propósito e o sentido da vida, e a ciência, explicar os processos naturais que moldaram o Universo. Quando as narrativas religiosas são tomadas como fatos científicos, perdem-se nuances importantes. Insistir que o Gênesis é uma descrição literal da criação é ignorar séculos de progresso científico que expandiram nossa compreensão sobre o universo.
Não se pode menosprezar a importância da Bíblia ou negar que o Gênesis teve uma influência cultural imensa, mas essa influência não deve ser confundida com evidência factual ou científica. Há que ver a Bíblia dentro de seu contexto histórico e mitológico, sem desdenhar das revelações científicas sobre a criação do universo, mas sem perder de vista que o sapateiro não deve ir além das sandálias.
O literalismo religioso pode alimentar a negação de descobertas científicas amplamente aceitas, como a evolução e o aquecimento global. Movimentos que rejeitam essas descobertas em nome de crenças religiosas minam o progresso em questões vitais para o futuro da humanidade.
Continua...