sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 2ª PARTE

SÓ ANDA SOBRE AS ÁGUAS QUEM SABE ONDE ESTÃO AS PEDRAS.

 
Há tempos que buracos negros, paradoxos temporais e outros fenômenos teorizados por Einstein servem de matéria-prima para escritores e roteiristas de ficção científica. 

Em A Máquina do Tempo, acompanhamos a saga de um cientista em uma fabulosa jornada ao futuro distante; na trilogia De Volta para o Futuro, mergulhamos em intricados paradoxos temporais; e em Interestelar, exploramos os mistérios da dilatação do tempo

 

Com a possível exceção do seriado Lost, que trabalha com a "noção de causalidade fechada" (os personagens que voltam ao passado descobrem que não podem alterar o futuro, pois sempre fizeram parte da conjuntura em que os eventos ocorreram), a maioria dos filmes sobre viagens no tempo não leva em conta a teoria segundo a qual um objeto que percorre o espaço-tempo sempre retorna às coordenadas que ocupava originalmente (Closed Timelike Curve). 

Outra "liberdade poética" hollywoodiana é atribuir aos buracos negros o papel de "túnel cósmico" dos buracos de minhoca. Ainda assim, a arte vai muito além da realidade, onde nos limitamos a "viajar para o futuro" dia após dia e a vislumbrar o passado olhando as estrelas, já que o que vemos é a luz emitida por elas há milhares, milhões ou bilhões de anos.

Os buracos negros nascem da colisão entre estrelas de nêutrons ou da explosão de estrelas supermassivas em supernovas. Eles "engolem" planetas, estrelas e quaisquer outros corpos celestes que se aproximam de seu horizonte de eventos e transformam tudo um ponto infinitesimal, mas com a massa original, o que resulta em tamanha atração gravitacional que nem a luz consegue escapar.

Observação: Embora seja usado como sinônimo de buraco negro, o termo singularidade designa um ponto no cosmos onde algo com densidade infinita cria uma curva igualmente infinita no espaço-tempo — daí os buracos negros serem o melhor exemplo de locais onde a singularidade pode existir.

A existência desses corpos celestes foi comprovada pela primeira vez em 2017, quando o Event Horizon Telescope fotografou o M87* — no centro da galáxia Messier 87, a 55 milhões de anos-luz da Via Láctea —, mas Einstein jamais sugeriu que eles fossem portais para outras dimensões. Já os buracos de minhoca, também chamados de Pontes Einstein-Rosen, permanecem no campo teórico, mas detectá-los pode ser apenas uma questão de tempo — Carl Sagan ensinou que "ausência de evidência não é evidência de ausência", e não faltam exemplos de cientistas ridicularizados por suas ideias heterodoxas e posteriormente reconhecidos, como foi o caso de Copérnico, de Semmelweis, de Ehrlich e de Wegener, entre outros.

Acredita-se que os buracos de minhoca surjam no interior dos buracos negros e funcionem como "atalhos", permitindo percorrer milhares de anos-luz em poucos segundos e alcançar galáxias diferentes, neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo. O nome (wormhole, em inglês) surgiu de uma analogia usada para explicar o fenômeno: da mesma forma que o bicho-da-maçã chega do outro lado da fruta abrindo caminho através do miolo. 

Observação: Para ilustrar como um buraco de minhoca interliga regiões cósmicas distantes, dobre o mapa do Brasil ao meio e repare que o Monte Caburaí, que fica próximo à fronteira de Roraima com a Guiana, e "encosta" no município de Chuí, que fica a 5.000 km, na divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai. 
 
Uma mergulho em Gaia BH1 — o buraco negro mais próximo do nosso sistema solar — poderia confirmar a existência, ou não, de um buraco de minhoca. Mesmo na velocidade da luz, uma viagem até lá demoraria mais de 1,5 mil anos (embora fosse praticamente instantânea para os astronautas). Com base na velocidade alcançada pela Parker Solar Probe no final do ano passado, seriam necessários 2,4 milhões de anos para percorrer essa distância, lembrando que, a 692 mil km/h, uma missão tripulada não fruiria dos benefícios da dilatação temporal.

Continua...