quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO

ASSIM COMO AS ÁGUAS DO MAR E DO RIO SE ENFRENTAM BRAVAMENTE NA FOZ, O NOVO E O VELHO TEMPO SE CHOCAM E SE MISTURAM.

Nossos ancestrais começaram a contar o tempo quando identificaram padrões no ciclo do dia e da noite, nas fases da Lua e nas mudanças das estações. Os primeiros calendários surgiram milênios antes da era cristã, e o Calendário Gregoriano, adotado atualmente pela maioria dos países, foi instituído em 1582, sucedendo ao modelo implementado por Júlio César em 46 a.C.

Embora o hoje seja o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, o tempo não flui da mesma maneira para todos. De acordo com a Teoria da Relatividade — principal sustentáculos da física moderna —, tudo no Universo é relativo, exceto a velocidade da luz, que é constante e absoluta porque o tempo é relativo, ou seja, a sua velocidade é inversamente proporcional à velocidade do observador. Quanto mais rápido o observador se move, mais devagar o tempo passa para ele em relação a quem está parado. 

Não percebemos os efeitos dessa dilatação temporal no dia a dia porque as velocidades que experimentamos são muito pequenas, mas os relógios dos satélites que orbitam a Terra a 28.000 km/h atrasam 0,000007 s/dia em razão da velocidade e adiantam 0,0045 s/dia devido à gravidade, que é menor a 20.000 km de altitude. 

 

Até o século XVII, acreditava-se que a luz era "instantânea". Isso mudou em 1676, quando o astrônomo Ole Romer observou um atraso de 22 minutos nos eclipses das luas de Júpiter e estimou a velocidade da luz em 225.000.000 m/s — o valor correto, que é 299.792.458 m/s, só foi determinado em 1926 pelo físico alemão Albert Michelson, que passou 25 anos aperfeiçoando o interferômetro. 
 
Se fosse possível acelerar uma espaçonave a 80% da velocidade da luz, 5 horas corresponderiam a 8 horas e 19 minutos pelo tempo terrestre. A 99,999999999% da velocidade da luz, a partida e a chegada seriam praticamente simultâneas, embora o tempo continuasse passando normalmente na Terra, como ilustra o paradoxo dos gêmeos

Considerando que o tempo para de passar quando o observador alcança a velocidade da luz, e retrocede a uma velocidade superluminal, os tripulantes da nossa hipotética nave desembarcariam em algum ponto no futuro ou no passado do calendário terrestre. Ainda que alguns astrofísicos adotem uma interpretação "mais realista da relatividade" e sustentem que o tempo não para nem retrocede, apenas se dilata conforme a velocidade do observador aumenta, o conceito de tempo negativo deixou de ser mera ficção científica depois que pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, demonstraram sua existência física tangível. 

Mas nem tudo que é matematicamente possível é passível de ser comprovado na prática com a tecnologia de que dispomos atualmente. A sonda Parker Solar Probe — o objeto mais veloz lançado pelo homem até agora — atingiu respeitáveis 700.000 km/h no final do ano passado. Essa velocidade permite ir da Terra à Lua em menos de meia hora, mas uma viagem a Proxima Centauri, que fica a 4,2 anos-luz de nós (cerca 40 trilhões de quilômetros), demoraria mais de 7.000 anos. 

Outro problema é que a massa relativística de um objeto aumenta conforme sua velocidade cresce e tende ao infinito quando se aproxima da velocidade da luz, exigindo uma quantidade igualmente infinita de energia para continuar acelerando. 

Se a velocidade da luz no vácuo é a própria velocidade do tecido do espaço-tempo e o limite universal segundo a física moderna, então jamais colheremos o fruto mais ambicionado da "árvore da relatividade de Einstein", certo? Talvez não. Basta lembrar que viagem que Cabral fez em 44 dias em 1500 hoje é feita por ar em cerca de 10 horas (o saudoso supersônico Concorde, que foi aposentado em 2003, voou de Nova Iorque a Londres em 2 horas, 52 minutos e 59 segundos em 1996. 

Como veremos nos próximos capítulos, teorias inovadoras sugerem que viagens em velocidades superluminais podem migrar da ficção para a realidade, não nesta década ou na próxima, mas possivelmente até o final do século. Dito isso, talvez as próximas gerações possam tomar um cafezinho com D. Pedro II, fazer uma excursão pela Roma Antiga ou mesmo conferir ao vivo e em cores se foi realmente um meteoro que extinguiu os dinossauros. 

Se a viagem tripulada à Lua — que Júlio Verne "profetizou" com riqueza de detalhes em 1865 — se tornou realidade, por que não as viagens no tempo, já que as equações de Einstein as admitem em cenários específicos?
 
Continua...