Quanto mais discreto o ataque, mais eficaz, daí os cibercriminosos agirem "na surdina" para não levantar suspeitas. Uma maneira de passar despercebido é adulterar extensões para o Google Chrome para coletar informações — como token de acesso do Facebook e ID do usuário, por exemplo — e enviá-las, juntamente com os cookies da plataforma, para um servidor de comando e controle.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Os espelhamentos não param por aí. Em 2018, o então ex-presidente presidiário esticou sua candidatura ficcional até o último minuto, e não conseguindo convencer Jaques Wagner a lhe servir de preposto, resignou-se a indicar Fernando Haddad como bonifrate (sempre existe um chinelo velho para um pé doente). Em 2026, essa tragicomédia tem grandes chances de ser reprisada, com Bolsonaro — que está inelegível até 2030 por duas decisões do TSE — no papel principal e com ainda-não-se-sabe-quem no papel de esbirro.
Mas nada é tão ruim que não possa piorar: o deputado bolsonarista Bibo Nunes propôs reduzir de 8 para dois anos a inelegibilidade de políticos condenados por crimes eleitorais, e seu colega Hélio Lopes (também conhecido como Hélio Negão e Hélio Bolsonaro), vincular a inelegibilidade ao trânsito em julgado da sentença condenatória.
Mesmo que as propostas sejam aprovadas na Câmara e no Senado, sua aplicação dependerá de análises do TSE — que pode avaliar a retroatividade ao julgar os pedidos de registro de candidatura — e do STF — que pode considerar as mudanças inconstitucionais ou entender que a redução do período de inelegibilidade tornará inócua a Lei da Ficha Limpa.
Se for condenado por abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, organização criminosa, venda das joias sauditas e fraude em cartões de vacinação, Bolsonaro pode pegar até 28 anos de prisão. Mas vale lembrar que Lula foi condenado a 25 anos por corrupção e lavagem de dinheiro (somadas as penas do caso do tríplex e do sítio), mas deixou a carceragem da PF após míseros 580 dias (6 das 11 supremas togas decidiram mudar as regras da prisão em segunda instância) e foi "descondenado" (com 5 anos de atraso, uma epifania revelou ao ministro Fachin que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência territorial para julgar o pontifex maximus da Petelândia.
Para bom entendedor, meia palavra basta.
O vetor de ataque inicial, que foi usado para adulterar extensões de ao menos 30 empresas — dentre as quais a Cyberhaven, que é voltada à prevenção de perda de dados —, evidencia que as técnicas dos cibercriminosos estão cada vez mais sofisticadas: um email de phishing tendo o Google como remetente avisava a empresa de que sua extensão seria removida por violar as políticas da Chrome Web Store. Quando alguém da equipe de desenvolvimento clicava no botão que supostamente dava acesso às políticas, entregava de bandeja o controle da extensão aos criminosos, que posteriormente publicaram versões manipuladas para fazer novas vítimas.
Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.