terça-feira, 18 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — CAPÍTULO ESPECIAL

TUDO DEPENDE DE COMO VEMOS AS COISAS, NÃO DE COMO ELAS SÃO.

 

Mencionei várias vezes ao longo desta sequência que viajar tempo como nos filmes de ficção científica é matematicamente possível, mas que, como os táquions e os buracos de minhoca, essa possibilidade permanecerá no campo das conjecturas até que surjam evidências concretas — como ocorreu com os buracos negros, com a antimatéria, e com o conceito de tempo negativo, que deixou de ser mera especulação depois que pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, demonstraram sua existência física tangível."

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No último domingo, a pouco mais de uma semana de virar réu e acossado pela proximidade da cadeia, Bolsonaro discursou para cerca de 18,3 mil apoiadores em Copacabana. Mesmo bem aquém das 500 mil pessoas que os organizadores esperavam reunir, a adesão deixou claro que a liderança política do "mito", mesmo declinante, ainda não desapareceu. Mas nem por isso o Sol brilhará para o bolsonarismo, o centrão se reaproximará ou a prisão sumirá do horizonte. 
Em vez de escamotear, o ato expôs o drama do capetão em toda a sua crueza. Ficou entendido que o pedaço do conservadorismo que rosna para Lula nas pesquisas não se confunde com o bolsonarismo que ronrona nas ruas para Bolsonaro. Nas eleições municipais de 2024, o voto conservador já havia se afastado do capetão nas cidades em que encontrou um caminho alternativo. Nenhum dirigente partidário deu as caras no palanque da praia, exceto Valdemar Costa Neto. Mas Bolsonaro discursou como se a anistia estivesse no papo. "Todos os partidos estão vindo", disse ele. "Tinha um velho problema e resolvi com o Kassab. Ele está ao nosso lado com a sua bancada..." O dono do PSD preferiu não comentar, pois o seu partido está longe de qualquer tipo de unanimidade. 
Já Tarcísio de Freitas, único presidenciável de direita presente no evento, rimou "ovo caro" com "volta Bolsonaro". Usando a carestia como mote, o governador paulista fez da defesa protocolar de uma candidatura inexistente a plataforma de suas próprias pretensões nacionais. Foi como sinalizasse que não resta ao padrinho senão apoiá-lo o quanto antes, para continuar sonhando com um indulto presidencial capaz de livrá-lo da cadeia.
Na oratória de Bolsonaro, a menção aos encrencados do 8 de janeiro é mero adorno de uma proposta de anistia preventiva concebida para beneficiá-lo. Repetiu que não houve trama golpista. Se fosse verdade, teria levado ao Supremo uma defesa prévia que dispensaria o desespero do palanque.
No fim das contas, pouco importa se havia 18 mil pessoas, como informou o grupo de pesquisa da USP, ou 30.000, como indicou o Datafolha — a PM do Rio de Janeiro não explicou como contabilizou 400 mil participantes, talvez por não haver como chegar a esse número. Importa que Bolsonaro apostou em sua capacidade de engajamento e perdeu. 
A julgar pelo ato, a anistia definitivamente não é uma preocupação nacional popular, e não provoca engajamento. Se toda a narrativa sensacionalista criada em torno dos presos condenados pelo ataque no 8 de janeiro tinha a intenção de ser testada para demonstrar a força que o ex-presidente tem no jogo político, ela falhou desgraçadamente. No mundo real, Bolsonaro não é o mártir que diz ser, e ele sabe que precisará mais do que a bajulação de Silas Malafaia para continuar sendo relevante politicamente.

Toda disciplina tem seu jargão, e a astrofísica não foge à regra. Na gramática, podemos confundir "análise sintática" com "análise morfológica e "hipérbole" com "hipérbato", por exemplo. Já o "juridiquês" soa tão misterioso para a maioria de nós quanto a "rebimboca da parafuseta" que o mecânico culpa pelo mau funcionamento do carro. Assim, achei por bem acrescentar este capítulo para tentar explicar como equações matemáticas (como aquelas que os cientistas dos filmes de ficção rabiscam febrilmente em enormes quadros-negros) podem levar a essas previsões. 

Na física, a matemática não é apenas um conjunto de números e símbolos abstratos. Ela funciona como uma linguagem precisa para descrever as leis do universo. Desenvolver equações baseadas em princípios já testados permite aos físicos sugerir possibilidades que ainda não foram observadas. Uma equação que descreve como um objeto se move quando é lançado para cima, por exemplo, pode ser manipulada para prever o que aconteceria se o objeto fosse lançado em um planeta com gravidade diferente. Mesmo sem ir até lá, é possível prever o comportamento do movimento.
 
Em um nível mais avançado, as equações da Relatividade Geral demonstraram como o espaço e o tempo se curvam na presença de massa e energia, e a partir delas os físicos perceberam que certos fenômenos extremos podem existir, mesmo que não tenham sido observados diretamente. Foi assim que os buracos negros foram previstos décadas antes de serem detectados, e o mesmo acontece com os táquions — partículas hipotéticas que se moveriam mais rápido que a luz —, com os buracos de minhoca — atalhos no espaço-tempo — e até com as curvas fechadas do tipo tempo — trajetórias que voltam ao ponto de onde partiram.
 
Essas soluções matemáticas não são provas experimentais, mas indicam que esses fenômenos são compatíveis com as leis da física. A menos que algum princípio ainda desconhecido pela ciência impeça sua existência no mundo real, comprová-los costuma ser apenas uma questão de tempo 
 
Mesmo que nossa limitada tecnologia não permita viagens no tempo como as que a gente vê nos filmes, as equações matemáticas sugerem que, pelo menos em tese, elas são possíveis dentro das leis físicas conhecidas. Aliás, uma das equações mais conhecidas de Einstein, que se tornou um "sinônimo" da relatividade é E=mc² — onde E = energia; m = massa; e c = velocidade da luz no vácuo —, que descreve a equivalência entre massa e energia. 
 
Antes de Einstein, a física clássica tratava a energia e a massa como grandezas independentes. Na mecânica newtoniana, massa pode ser descrita como a quantidade de matéria que compõe um corpo, e a energia, definida como a capacidade de realizar trabalho ou de provocar mudanças no estado de um sistema. 
 
A equivalência massa-energia descrita por Einstein revolucionou a física, pois unificou duas grandezas que eram consideradas completamente distintas até então. Na prática, a fórmula diz que qualquer objeto que possua uma quantidade finita de massa também contém uma quantidade muito grande de energia, mesmo em repouso, além de relacionar as duas grandezas de forma que a massa pode ser convertida em energia e vice-versa.  
 
No próximo capítulo, retomaremos a sequência do ponto em que paramos no post da última sexta-feira.     .