As viagens no tempo são matematicamente possíveis, até porque os fenômenos da dilatação temporal e do tempo negativo já foram comprovados experimentalmente. No entanto, nada que contenha matéria pode alcançar e muito menos ultrapassar a velocidade da luz, que é o limite máximo universal.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
José Saramago escreveu que "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram". No Brasil, a eleição recorrente de criminosos e a paixão nacional por bandidos de estimação não deixam dúvidas de que o Nobel português sabia exatamente do que estava falando.
Em dezembro de 2022, quando deveria transferir a faixa presidencial a seu sucessor, Bolsonaro preferiu se homiziar na cueca do Pateta e avaliar, de uma distância segura, as consequências dos atos de vandalismo cometidos por "inocentes úteis" que ele cooptou defendendo a ruptura democrática ao longo de toda sua gestão e durante todo o processo eleitoral.
O plano era pressionar as FFAA a darem aquele empurrãozinho democrático, tipo estado de sítio com toque de recolher seletivo e AI-5 gourmet, mas faltou combinar com os comandantes do Exército de da Aeronáutica. Graças à leniência do Judiciário — palco de encenações morais e pirotecnias processuais quando se trata de "expoentes" da política nacional, o Messias que não miracula segue livre, leve e solto, promovendo manifestações em defesa dos "pobres coitados" que, vejam só!, foram condenados por crimes que eles realmente cometeram.
A prisão do "mito" dos apedeutas descerebrados e seus comparsas golpistas são favas contadas, mas o aparente recuo estratégico do STF em alguns casos e o arquivamento do inquérito sobre a fraude no cartão de vacina são no mínimo preocupantes. Lula, réu em mais de 20 processos e condenado em dois deles a mais de 24 anos de reclusão, deixou a carceragem da PF em Curitiba depois de míseros 580 dias e voltou ao Planalto, imbuído da nobre missão de derrotar o espantalho autoritário.
Como Charles De Gaulle não disse: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux.”
Mesmo que assim não fosse, o recorde de velocidade batido pela Parker Solar Probe em dezembro do ano passado (692 mil km/h) corresponde a míseros 0,064% da velocidade da luz. Para complicar, ainda que a tecnologia nos permitisse superar a velocidade da luz e retornar ao passado, teríamos de lidar com os paradoxos temporais.
A conjectura de proteção cronológica obsta qualquer retorno a um ponto do passado e impede a continuidade de uma curva fechada do tipo tempo alcançar novamente o ponto de partida. Além disso, o princípio de autoconsistência sugere que qualquer evento capaz de gerar um paradoxo ou criar inconsistências no Universo tem probabilidade zero de ocorrer. Em outras palavras, uma viagem ao passado só poderia acontecer se ela não alterasse o presente.
No filme O Som do Trovão, alguém pisa em uma borboleta e desencadeia uma série de mudanças drásticas, como a ascensão de um líder fascista. Fora da ficção, o matemático e meteorologista Edward Lorenz percebeu que arredondamentos em dados como temperatura, umidade e pressão podem alterar drasticamente a previsão do tempo. Já a franquia De volta para o futuro explora os paradoxos temporais — ou seja, a possibilidade de o viajante alterar o passado de forma a interferir no presente — levando-nos a crer que voltar ao passado é impossível, mesmo sendo uma possibilidade matematicamente admissível.
Na física clássica, conhecer as condições iniciais permite calcular com precisão a trajetória de uma bala ou o movimento dos planetas, mas a teoria do caos, aplicada ao estudo de sistemas dinâmicos, mostra que pequenas perturbações podem crescer exponencialmente, tornando previsões de longo prazo inviáveis — fenômeno conhecido como efeito borboleta. Por outro lado, estudos demonstram que um viajante do tempo que entrasse numa curva rumo ao passado poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações, pois qualquer tentativa de mudar o que já aconteceu criaria um linha de tempo alternativa à linha original a partir do ponto de mudança. E como a própria chegada ao passado já seria uma mudança, esse viajante se materializaria numa nova linha do tempo, onde nada que ele fizesse mudaria o curso da história em sua linha do tempo original.
Se cada decisão que tomamos cria uma linha do tempo alternativa, é possível voltar ao passado sem dar azo a paradoxos como o do Avô. Mas essa é apenas mais uma entre muitas teorias que, apesar de matematicamente plausíveis, carecem de comprovação experimental. E sem múltiplos universos e linhas do tempo alternativas, um loop infinito de causas e efeitos seria criado, da mesma forma que uma pedra jogada num lago cria ondas concêntricas em direção à margem.
Em 2020, ao anunciar sua demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich assinalou que "a vida é feita de escolhas". E com efeito: basta dobrarmos à direita em vez de à esquerda numa encruzilhada da vida para que uma porção de consequências se materializem no futuro. A ideia básica (sintetizada magistralmente pelo Conselheiro Acácio como "as consequências vêm sempre depois") é que eventos no presente decorrem de eventos do passado e dão margem aos eventos que ocorrerão no futuro.
Tudo parece se acomodar numa inexorável linha do tempo, mas uma das muitas esquisitices da mecânica quântica é a possibilidade de uma mesma partícula poder estar em dois lugares simultaneamente e causa e efeito coexistirem. Assim, o "evento A" pode ser a causa do "evento B" e, ao mesmo tempo, consequência do evento que ele próprio causou. Esse fenômeno — chamado de superposição e ilustrado pelo experimento conhecido como Gato de Schrödinger — ressalta a estranheza do comportamento das partículas em nível quântico, onde a realidade só "se define" quando é observada.
Observação: No sistema binário, um bit só pode valer 0 ou 1, mas um qubit (bit quântico) pode existir com diferentes probabilidades para cada valor, permanecendo em superposição até que seja medido.
Além da superposição, uma propriedade chamada emaranhamento permite que o estado de um qubit esteja diretamente ligado ao estado de outro, independentemente da distância entre eles, dando azo a cálculos extremamente eficientes e rápidos quando comparados com os do sistema binário tradicional.
Da feita que a natureza não está obrigada a obedecer aos postulados da teoria que tenta explicá-la, uma seta do tempo que aponta sempre na mesma direção não passa de um pressuposto. Assim, é preciso deixar a prancheta de lado e buscar na natureza algum indício de uma superposição de eventos que revogue o princípio da causalidade (o Conselheiro Acácio que coloque as barbichas de molho).
Por outro lado, viajar para o passado só faz sentido quando admitimos a existência do tempo e o comparamos a uma estrada pela qual se pode avançar em velocidade constante, acelerar, desacelerar e até mesmo parar. Talvez a causalidade não seja tão absoluta quanto imaginamos, e se a realidade for uma tapeçaria tecida com fios de múltiplas possibilidades, como fica o observador nesse bordado quântico?
The answer, my friend, is blowing in the wind.
Continua...