O termo “patuleia”
designava originalmente os simpatizantes e militantes da ala esquerdista do
Partido Popular na revolução de 1836, mas também é sinônimo de “plebe”, “ralé”,
daí eu utilizá-lo para definir a malta de anormais que ainda acreditam nas
falácias da autodeclarada “alma viva mais honesta do Brasil”, nas teorias
amalucadas de “golpe” e outras bobagens peroradas pela
ex-grande-chefa-toura-sentada e no retorno de Lula ao poder como forma de... sei lá, acho que para acabar de
destruir o pouco que restou do país depois de 13 anos, 4 meses e 12 dias de
aziagas gestões lulopetistas.
O comunismo foi
uma das experiências que mais deram errado na história da política, embora
ainda seja cultuado por pseudo intelectuais e uma cáfila de seres “não
pensantes”. Para o jornalista J.R. Guzzo,
bem poucos por aí sabem o que foi a Revolução
Soviética ou demonstram alguma vontade de investir uma meia horinha do seu
tempo tentando aprender algo a respeito. Aprender para quê? O que interessa é acreditar ― o que, além disso, dá muito
menos trabalho.
O fato é que no momento é mais fácil ser de “esquerda” do
que não ser. Houve um tempo em que você podia acabar na cadeia por ser de
esquerda; hoje, no entanto, o camarada pode ser ministro do governo de Michel Temer e ser de esquerda. Pode
ser um Eike Batista e, ao mesmo
tempo, “campeão nacional” dos ex-presidentes Lula e Dilma. Pode ser o
ex-governador Sérgio Cabral, que
viveu anos como um herói do PT; pode
receber prêmio literário de 100 000 euros ― dos quais o governo brasileiro paga
a metade ― e discursar contra o “golpe” na hora de pegar o dinheiro. Pode ser
ministro do STF, após advogar para o
maior partido da esquerda nacional ou para “movimentos sociais” que se dizem
“revolucionários”. Pode, como militante, receber verbas do Banco do Brasil, cesta básica e lanche quando é chamado para se
manifestar na rua, além de diária e ônibus fretado. Pode estar na cadeia por
corrupção. Pode ter emprego no Itamaraty.
Pode ser reitor, procurador público, arcebispo. Pode trabalhar na Rede Globo.
Não é preciso ler um único livro ― Marx, então, nem pensar ― nem, Deus o livre, exigir a extinção da
propriedade privada, sobretudo a sua, nem tampouco entrar no PT e pagar contribuição mensal de 10%
do que ganha. Precisa apenas ter “posição” sobre uns tantos assuntos ― mas quem
já teve de tirar do bolso um único real para “ter posição” sobre alguma coisa?
Não num país como o Brasil de hoje, onde, além do mais, o risco de aparecer
como “progressista” etc. está muito abaixo de zero. E quais são as “posições”
que o brasileiro interessado em tirar a sua certidão de “pessoa de esquerda”
deve assumir? Alguns exemplos:
― Ser a favor das normas que permitem aos professores da
rede estadual de ensino de São Paulo faltar até um dia sim, um dia não ao
trabalho, sem desconto nenhum no salário, é claro – incluindo o vale-transporte
e o auxílio-alimentação referentes aos dias em que o professor não foi à
escola;
― Ser contra o aumento da velocidade de tráfego, para
um máximo de 90 quilômetros por hora, nas avenidas marginais de São Paulo. Se
possível, noticiar em tom de denúncia que, logo no primeiro dia com os novos
limites, ocorreu um acidente de carro numa das marginais. O motorista estava
bêbado. Além disso, ninguém se machucou – nem ele;
― Ser contra qualquer mudança na legislação
trabalhista. Num momento em que 12 milhões de brasileiros estão desempregados,
sustentar que as pessoas não precisam de emprego, e sim de proteção — mesmo que
não tenham mais emprego nenhum para ser protegido;
― Ser a favor da aposentadoria das mulheres aos 50
anos, e de todas as regras parecidas com essa — a começar pelas que permitem a
aposentados do serviço público ganhar mais de 50 000 reais por mês, ou 100 000,
ou seja lá quanto for. Considerar correto que a totalidade da população pague,
no fim das contas, a aposentadoria dos funcionários públicos — hoje, na média,
cerca de 7 500 reais por mês. É quase o equivalente ao valor médio da
aposentadoria dos funcionários públicos franceses, de 2 500 euros mensais. O
PIB per capita da França, pela última tabela do Banco Mundial, é de 40 000
dólares por ano, quatro vezes o do Brasil;
― Ser a favor de pichadores ou “grafiteiros” de paredes,
muros, viadutos, em prédios particulares e públicos. Considerar que quem não
concorda está adotando uma atitude “higienista” — ou seja, a favor da higiene,
considerada um hábito de direita;
― Ser contra o “agronegócio” e a favor da
“agricultura familiar”. E quanto aos agricultores “familiares” que trabalham
junto a grandes empresas agrícolas? Não há resposta para essa questão.
Comentários demonstrando que o valor da terra, hoje, é dado pela sua capacidade
de produzir, e não pelo seu tamanho nem por outros fatores, são tidos como
argumentos a favor do “latifúndio”, do capitalismo na agricultura e do atraso.
(A área rural vai pôr 240 bilhões de reais em circulação no interior do Brasil
em 2017.)
― Ser contra os defensivos agrícolas de qualquer tipo,
descritos como “agrotóxicos”, “venenos” ou “agentes químicos”. Considerar como
ato de destruição da natureza a utilização de qualquer área de terra para
produção em grande volume de alimentos. Denunciar como delito social o cultivo
de pastagens e a criação de animais de corte;
― Acreditar que a única maneira de reduzir a pobreza
é tirar dos ricos; a ideia de alcançar esse objetivo por meio da criação de
mais riquezas é considerada de direita. Só o Estado, com a arrecadação de
impostos — que, idealmente, devem ser sempre maiores —, tem a capacidade de
distribuir renda. Cobrar imposto, por esse entendimento, é criar riqueza. Pelo
mesmo entendimento, os pobres só existem porque existem os ricos. Na verdade,
acredita-se que o 1% mais rico da população mundial tirou a sua fortuna dos
demais 99%;
― Assinar manifestos de intelectuais, mesmo que você
confunda Kant com Clark Kent.
É o que temos, hoje. Adeus, Lenin.
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