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quinta-feira, 25 de agosto de 2022

PREVENIR ACIDENTES É DEVER DE TODOS (OU: QUEM AVISA AMIGO É)

VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT.

Há quem diga que a sorte só bate à porta uma vez e quem diga que às vezes a vida nos dá uma segunda chance, mas se a aproveitamos ou não, aí é outra conversa.


Em tempos de polarização exacerbada e com as eleições se aproximando, é comum a gente falar ou escrever algo ditado pelo fígado, sem ouvir a voz da razão. Aliás, isso me lembra um filme no qual o protagonista se arrepende de postar uma carta (os detalhes não vêm ao caso) e se vê em em apuros quando tenta recuperá-la da caixa de correio. 

 

O correio tradicional foi superado pelo email, que foi superado por apps mensageiros, como o onipresente WhatsApp, onde digitamos a mensagem, tocamos na setinha verde e...  um abraço. O o Gmail oferece uma espécie de cláusula de arrependimento, mas é preciso ser rápido no gatilho para selecionar a opção "Desfazer", que fica disponível por poucos segundos.

 

Tudo seria diferente se pudéssemos simplesmente voltar no tempo e virar à esquerda na encruzilhada da vida em que optamos por dobrar à direita. Como eu mencionei na sequência publicada sob o título A Computação Quântica e a Viagem no Tempo (se você não leu, clique aqui para acessar o capítulo de abertura), viagens no tempo, recorrentes nos livros e filmes de ficção científica, são uma possibilidade que a Teoria da Relatividade de Einstein até admite, mas com ressalvas.

 

O deus grego Cronos devorava os próprios filhos, daí usarmos o termo “cronológico” para situar os eventos em nossa linha temporal. Digo "nossa" porque não sabemos ao certo se o tempo passa para nós, se nós passamos por ele, ou mesmo se o tempo é apenas um conceito criado para colocar alguma ordem no caos. Mas "vajamos" rumo ao futuro desde o instante em que nascemos e "visitamos" o passado quando olhamos as estrelas (o que vemos no céu é a luz que elas emitiram há dezenas, centenas, milhares, milhões, ou mesmo bilhões de anos). 

 

Até não muito tempo atrás, achava-se que a "seta termodinâmica do tempo" só apontava para o futuro, já que quando dois corpos ou sistemas com temperaturas diferentes são colocados em contato (como quando se adiciona gelo a uma bebida) o mais quente esfria e o mais frio esquenta, até o equilíbrio termodinâmico ser alcançado (esse fenômeno foi batizado de "seta do tempo", ou, tecnicamente, "seta termodinâmica do tempo", pelo astrônomo britânico Arthur Eddington). 


A Segunda Lei da Termodinâmica explica porque um vaso que cai e se parte em mil pedaços não volta intacto a seu pedestal, mas experimentos combinando teorias quânticas com termodinâmica levaram à termodinâmica quântica, à luz da qual é possível inverter a seta termodinâmica do tempo usando dois sistemas quanticamente correlacionados e com temperaturas distintas (fenômeno corriqueiro no microuniverso dos átomos e suas partículas, onde núcleos atômicos desempenham os papeis de "corpo quente" e "corpo frio"). Quando os dois sistemas interagem entre si, o mais frio esfria e mais quente esquenta, contrariando a seta termodinâmica do tempo e, por conseguinte, a Segunda Lei da Termodinâmica. Em tese, isso significa que o tempo pode, sim, andar para trás — pelo menos no diminuto universo atômico e subatômico.

 

O espaço-tempo é uma espécie de pano de fundo para todos os fenômenos do Universo, onde o trânsito pelas três dimensões espaciais se dá por "vias de mão dupla". Mas na quarta dimensão — que acontece de ser justamente a do tempo — essa via é de mão única. Ou seria. Talvez a seta do tempo não precise "apontar" necessariamente para o futuro, e talvez um dia as viagens no tempo se tornem tão corriqueiras quanto os voos internacionais (que eram uma possibilidade inconcebível até o início do século passado). 


Os físicos veem o tempo como algo que permite a evolução de um fenômeno, daí ser inexata a "Marcha do Progresso" (vide figura que ilustra esta postagem). Mas o tempo é o que está por trás de um fluxo de eventos sucessivos. Se assumirmos que esse fluxo ocorre numa direção preferencial, o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje. E "esse hoje", quando deixa de existir (isto é, quando vira ontem), impõe novos limites ao novo presente (ou futuro, como queiram). Pelo fato de esse fluxo rumo ao futuro depender do presente que virou passado, o Universo evolui lentamente, sempre com o tempo impondo limites ao que pode acontecer.

 

O tempo é isso, familiar e íntimo, e sua força nos arrasta”, anotou o físico italiano Carlo Rovelli no livro A Ordem do Tempo. Rovelli tem como campo de pesquisa a Gravidade Quântica em loop, que descreve a gravidade em níveis subatômicos, o que permite descrever o tempo quanticamente e teorizar sobre sua ausência. Comprovar essas teorias talvez seja apenas uma questão de tempo, mas onde há um físico teórico sempre existe uma possibilidade — a princípio teórica, pois a palavra final cabe aos físicos experimentais. 

 

Da feita que "shit happens" e a viagem ao passado ainda não é possível, leia, releia e torne a ler os emails e as mensagens de WhatsApp antes de clicar em "Enviar". Prevenir acidentes é dever de todos, e quem avisa, amigo é.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE VIII)

vivemos tempos estranhos quando os fatos se calam par não ofender as versões, e os sábios silenciam para não constranger a estupidez.

Sabe-se que a história da maçã é pura gentileza 
— o Adão comeu a Eva e a maçã de sobremesa —, mas não se sabe o que o arcebispo irlandês James Ussher teria bebido, fumado ou cheirado quando anotou em "The Annals of the World" que Deus criou o mundo às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.

Seria mais fácil desvendar esses e outros mistérios se as viagens no tempo fossem tão corriqueiras quanto os voos internacionais — que eram inconcebíveis até o início do século passado. Talvez seja apenas uma questão de tempo, pois não há nada como o tempo para passar (isso se ele existir, naturalmente).

A contagem do tempo começou quando nossos ancestrais perceberam padrões no amanhecer e no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Os ciclos diurnos e noturnos foram provavelmente as primeiras unidades de tempo usadas pelos humanos, e as fases lunares, uma das primeiras maneiras de dividir o tempo em períodos maiores, o que ensejou a criação dos calendários lunares. 


Os primeiro calendários foram desenvolvidos sumérios — que habitavam a região que hoje corresponde ao sul do Iraque —, milênios antes da era cristã. Mais ou menos na mesma época, os egípcios criaram um calendário baseado na estrela Sirius, que só era avistada nas madrugadas durante o inicio da enchente do rio Nilo, que não acontecia todos os anos e, quando acontecia, não começava sempre no mesmo dia. 


Mais adiante, os babilônios criaram um calendário lunissolar, combinando meses lunares com ajustes periódicos baseados no ciclo solar e um mês adicional em alguns anos, visando corrigir a discrepância entre o ano lunar e o solar. Já os maias tinham um calendário com múltiplos ciclos, incluindo o Tzolk'in (calendário sagrado de 260 dias) e o Haab' (calendário civil de 365 dias), além do "Calendário de Contagem Longa," que mapeava períodos muito mais longos.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Há quem fale em "estratégia" diplomática ao mencionar o histórico do Itamaraty para analisar a postura de Lula e de seu assessor Celso Amorim na questão, mas isso não faz sentido. Carlos Graieb escreveu em Lula, sócio majoritário da tragédia venezuelana, assim como Ricardo Kertzman em Celso Amorim é mais que “observador” da farsa eleitoral de Maduro o mesmo que Rodolfo Borges escreveu n'O Antagonista: "o governo Lula faz parte da tragédia venezuelana não como mediador, mas como cúmplice."
O Palácio do Planalto não reconhece a vitória de Urrutia — como fizeram Estados Unidos, Argentina e Uruguai, entre outros — não por conta de uma estratégia para a saída da crise, mas por fazer parte da crise. No momento em que admitir que Maduro fraudou a eleição, o governo brasileiro reconhecerá automaticamente o que já deveria ter reconhecido há meses: não há democracia na Venezuela, e não é de hoje.
Faz bem mais de uma década que a Venezuela não sabe o que é democracia, mas Lula recebeu Maduro com pompas de chefe de Estado em maio de 2023 e lhe deu uma dica pública de como lidar com o que ele considerava críticas injustas aos desmandos do regime: "Companheiro Maduro, é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo. É preciso que você construa sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor."
A narrativa que Maduro encontrou para explicar a fraude eleitoral é que o "Golias Elon Musk" foi responsável pelo "primeiro golpe de Estado cibernético na história da humanidade". Será que cola, Lula?
É constrangedor ver o chanceler paralelo Celso Amorim manter um discurso de confiança nas instituições venezuelanas, dominadas há décadas pelo chavismo. Qualquer benefício da alegada mediação brasileira na crise venezuelana ocorrerá por fruto de golpes de sorte. O governo Lula não está nessa condição por se comportar de forma imparcial ou fazer cálculos diplomáticos, mas por ter um lado bem claro nessa história. É por isso que o Brasil toma conta hoje das embaixadas da Argentina e do Peru, cujos representantes foram expulsos com outros que ousaram questionar de fato a "vitória" de Maduro. 
Não é uma questão de solidariedade, mas de responsabilidade pelo que está acontecendo na Venezuela neste momento.
 
Consideramos o tempo como o plano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. De acordo com o princípio da causalidade (e a sabedoria do Conselheiro Acácio), as causas sempre precedem as consequências, razão pela qual o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje e o que acontece hoje faz o mesmo em relação ao que acontecerá amanhã. 

Se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se esse fluxo de eventos rumo ao futuro depende do presente que virou passado, o tempo sempre imporá limites ao que pode acontecer. Mas será mesmo que a seta do tempo aponta sempre para o futuro?
 
Como eu mencionei nos capítulos anteriores — mas repito em atenção a quem não acompanhou esta sequência desde o começo —, todos viajamos rumo ao futuro do momento em que nascemos até o momento em que morremos (o que existe depois — se é que existe — já foi discutido em outra sequência. Isso filosoficamente falando, já que, cientificamente falando, Einstein definiu o universo como um bloco quadridimensional estático que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um “agora” especial. 
 
Para o físico Julian Barbour, o universo tem "dois lados" e o tempo "corre nos dois sentidos ao mesmo tempo". Cada direção é uma seta cuja origem é zero. À medida que a seta da direita aumenta até o infinito, a seta da esquerda aponta para o infinito negativo. 
Em outras palavras, existe um universo onde o tempo corre do que chamamos de passado para o que chamamos de futuro e outro em que ele se move do futuro para o passado. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, já que "tempo é mudança". 

Mas se o que vemos acontecer não for o tempo, e sim a mudança, o tempo não existe. E ainda que ele exista, o universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido o tempo se mover numa única direção. Isso parece coisa de ficção científica, mas é uma teoria séria. 

Escorado no princípio da entropia e nas leis da termodinâmica, Barbour sustenta que a própria natureza do Big Bang fez o tempo fluir em direções opostas. Isso faz sentido, já que a física associa o tempo ao aumento da entropia num sistema fechado, que sempre evolui para um estado mais caótico. A questão é que as leis da termodinâmica foram criadas em 1824, com base em cilindros e máquinas, onde a energia e o calor passam de um lugar para outro e se dissipam parcialmente durante esse processo. 

Em 1865, o físico Rudolf Clausius descobriu que o calor só pode passar de um corpo frio para um corpo quente se ocorrer alguma mudança em torno desses corpos. Assim, a entropia pode aumentar, mas não pode diminuir. Só que nem tudo que se aplica a um espaço delimitado também se aplica a um universo infinito. 

O que diferencia os objetos quentes dos frios é agitação de suas moléculas. Uma bola pode rolar montanha abaixo ou ser chutada de volta para o pico, mas o calor não pode fluir do frio para o quente. Quando uma molécula de água colide com outra, a flecha do tempo desaparece, já que a entropia é um conceito equivalente ao caos, e o caos é irreversível. 

ObservaçãoQuanto mais o tempo passa, mais a entropia do Universo aumenta. O que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, mas o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço. Segundo Rovelli, a entropia é a única lei básica da física que distingue o passado do futuro. 

Como a entropia só pode aumentar, a conclusão é de que o tempo só pode avançar na mesma direção em que a entropia aumenta, mas Barbour esclarece que esses conceitos foram observados em um contexto "normal" e, portanto, se aplicam ao planeta, à matéria, às moléculas e a tudo mais. Ao colapsarem, as partículas que compõem os objetos viajam em diferentes direções e se unem a outras partículas, formando novas estruturas mais complexas.

Ao fazer a matéria e o tempo se moverem em duas direções opostas, o Big Bang criou um "universo espelho" onde tudo acontece ao contrário de como acontece no nosso, e tudo que lá existe é o progresso retrocedendo em direção ao ano zero. 

Conclui no próximo capítulo.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

ALÔ? HELLO? PRONTO? ESTÁ LÁ?

SE TODO MUNDO FALASSE SOMENTE DO QUE REALMENTE ENTENDE, O SILÊNCIO SERIA INSUPORTÁVEL.

Sabe-se que índios usavam tambores e sinais de fumaça para se comunicar, que Alexander Graham Bell registrou a primeira patente de um aparelho telefônico em 14 de março de 1876, e que D. Pedro II ficou tão encantado com a novidade que o Brasil se tornou o segundo país do mundo a ter telefone.

 

O que muitos não sabem (ou não se lembram) é que até o final dos anos 1990, quando FHC sepultou o abominável Sistema Telebras (criado pelos militares em 1972), as linhas telefônicas custavam os olhos da cara e demoravam anos para ser instaladas. No município paraense de Cachoeira do Arari, a espera era tamanha (15 anos) que alguns aderentes do famigerado "Plano de Expansão" da Telepará morreram antes de terem o gostinho de dar um telefonema


Até o final dos anos 1970, quando o DDD e o DDI foram implantados nacionalmente, fazer uma chamada interurbanas ou internacional exigia passar pela telefonista e esperar horas até a ligação ser completada, sem falar que as tarifas eram caríssimas. Mas não há nada como o tempo para passar. 

 

A telefonia móvel celular começou a ser testada experimentalmente no início do século passado, e os primeiros aparelhos para automóveis surgiram nos anos 1940. O Mobilie Telephony A, lançado pela sueca Ericsson na década seguinte, pesava 40 kg e era tão grande que precisava ser acomodado no porta-malas. Em 1973, a americana Motorola lançou o DynaTAC 8000X, que media 25 cm x 7 cm e pesava cerca de 1 kg. A "nova" tecnologia entrou em operação no Japão e na Suécia em 1979, mas o tamanho avantajado do hardware, a autonomia medíocre da bateria e o longo tempo de recarga desestimularam as vendas.

 

O primeiro celular vendido no Brasil foi Motorola PT-550 (um "tijolão" de 800 g). Os demais modelos dos anos 1990 eram igualmente grandes, desajeitados e caros. Habilitar uma linha era trabalhoso e custava os olhos da cara. A insuficiência de células (antenas) restringia o sinal às capitais e grandes centros urbanos, e a profusão de "áreas de sombra" limitava ainda mais o uso dos aparelhos. O preço das ligações era proibitivo e, para piorar o que já era ruim, pagava-se tanto pelas chamadas efetuadas quanto pelas recebidas. Mas, de novo, não há nada como o tempo para passar.

 

A privatização das Teles estimulou a concorrência entre as operadoras, que passaram a oferecer aparelhos subsidiados e planos com chamadas ilimitadas para qualquer parte do país e franquias de dados (nem sempre generosas) para acessar a Internet através de suas redes móveis. Assim, com mais celulares do que habitantes no Brasil, os "orelhões" desapareceram das esquinas e os usuários de linhas fixas minguaram. 

 

Até 2007, os aparelhos encolhiam e a gama de funções crescia a cada lançamento. Com o lançamento do iPhone, a Apple levou a concorrência a lançar seus smartphones, e com isso o que já era bom ficou melhor, só que maior: a a partir do momento em que os telefones móveis se tornaram computadores pessoais ultraportáteis, a miniaturização deixou de fazer sentido. 


Observação: Vale destacar que o primeiro telefone móvel capaz de acessar a Internet não foi o iPhone, mas o Nokia 9000 Communicator — lançado em 1996 —, mas a conexão só era possível na Finlândia.

 

Embora não haja nada como o tempo para passar, o espaço-tempo é uma espécie de pano de fundo para todos os fenômenos do Universo, onde o trânsito pelas três dimensões espaciais se dá por "vias de mão dupla". Até não muito tempo atrás, achava-se que a quarta dimensão — a do tempo — fosse uma via de mão única, mas, de novo, não há nada como o tempo para passar. 


Carlo RovelliGuido Tonelli e outros astrofísicos respeitados internacionalmente teorizam que a "seta do tempo" não precisa necessariamente apontar para o futuro. O que entendemos por tempo é na verdade um fluxo de eventos sucessivos; esse fluxo ocorrer numa direção preferencial, o ontem impõe restrições ao hoje, e o amanhã, que transforma o hoje em ontem, novos limites ao "novo presente" (aquele que chamamos de "futuro"). 


Deixando a física e a mecânica quântica de lado, parece que o tempo retrocedeu para a Nokia, que vem promovendo há alguns anos a volta dos "dumbphones" (dumb = burro), como ficaram conhecidos os aparelhos celulares de era "pré-iPhone" com o advento do "smartphone" (smart = inteligente). Sem sistema operacional que lhes capacitasse a rodar aplicativos, os primeiros celulares se limitavam a fazer e receber chamadas e SMS (mensagens de texto curtas). 


É fato que os dumbphones ganharam novos recursos ao longo do tempo (como relógio, despertador, calculadora, calendário, agenda e alguns joguinhos elementares), mas fato é que eles nunca chegaram ao pés de sues irmãos inteligentes. Por outro lado, uma gama de funções tão espartana prolongava significativamente a autonomia da bateria. Meu saudoso Motorola RAZR V3 (cuja imagem ilustra este post) passava quase uma semana longe da tomada. Mas não há nada como o tempo para passar.


A genialidade de Steve Jobs converteu um jegue num puro-sangue árabe, ou seja, um telefone móvel de longo alcance num dispositivo com 1001 utilidades que também serve para fazer e receber chamadas telefônicas. E o excesso de informação, decorrente do uso massivo do smartphone, ensejou a ressureição do dumbphoneAndar com um celular burro em pleno século 21 cheira a saudosismo, mas está de bom tamanho para quem precisa de um telefone móvel, não de um computador de bolso, ou que se "desintoxicar" das redes sociais. 


Os modelos da Nokia, cujo slogan é "dumb phone, smart choice" (telefone burro, escolha inteligente), dispõem de tela colorida, mas de baixa resolução, e teclado numérico analógico. E custam bem menos que seus irmãos espertos (cerca de R$ 300). Quem nunca teve um aparelho com teclado analógico vai estranhar o uso das teclas numéricas para escrever texto, mas, noves fora a tecla 1, cuja função secundária é ligar para o "correio de voz", as demais servem para escrever textos. Se você pressionar a tecla 2 uma vez num campo de texto, você obterá o número 2; pressionado-a duas vezes, a letra "a"; três vezes, a letra "b"; quatro vezes, a letra "c". As demais teclas inserem as demais letras do alfabeto e sinais gráficos que não estão impressos no teclado, como caracteres acentuados, cedilha e pontuação, bem como alternam letras maiúsculas e minúsculas. Caso você precise digitar duas letras iguais em sequência, faça um intervalo de 1 ou 2 segundos entre os toques.

 

A exemplo dos dumbphones antigos, os novos limitam a diversão fica a joguinhos simples  como o "jogo da cobrinha", cujo objetivo é coletar objetos na tela para ir crescendo sem esbarrar nas laterais. Enviar uma foto para um contato, só via Bluetooth. Mas o preço (baixo) e a autonomia (invejável) da bateria faz deles a solução ideal para quem quer ter um celular de backup ou usar viagens para falar o essencial com familiares e amigos. 


Quando compuseram NADA SERÁ COMO ANTES, em 1971, Milton Nascimento e Ronaldo não tinham como prever o advento dos celulares nem (muito menos) o renascimento das cinzas da Phoenix da telefonia móvel. Mas eu jamais trocaria meus Galaxy M23 e Moto g60 por um Nokia 105 NK093 Dual Chip com rádio FM, lanterna e joguinhos pré-instalados (R$ 142,80 na Amazon). Com a devida venia de quem pensa diferente, acho que quem vive de passado é museu. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

ACREDITE QUEM QUISER (PARTE 5)

NÃO É TANTO POR ESTAR CONFIANTE DE QUE OS CIENTISTAS TÊM RAZÃO, MAS MAIS POR ESTAR CONFIANTE DE QUE OS QUE NÃO-CIENTISTAS ESTÃO ERRADOS.

Ainda restam 109 réus do 8 de janeiro presos na Papuda. Um deles, Cleriston Pereira da Cunha, que era cardiopata, hipertenso e diabético, morreu no último dia 20, durante o banho de sol. Curiosamente, seus problemas de saúde não o impediram de participar do quebra-quebra. Igualmente curioso e o fato de a caterva bolsonarista culpar Alexandre de Moraes pela morte do baderneiro. Segundo eles, o ministro "ignorou o laudo, a petição da defesa e a solicitação do MP" pedindo a soltura do dito-cujo, para que ele pudesse receber "cuidados médicos de emergência". 
Há no rol de detidos e sentenciados um hediondo déficit de fardas, embora seja impossível elucidar os atos terroristas sem incluir no roteiro o papel desempenhado pelos militares. Oficiais bolsonaristas contribuíram — por ação ou omissão — com a formação da conjuntura que produziu a tentativa de golpe, mas nenhum deles foi punido a sério.
Dias atrás, o coronel do Exército Adriano Camargo Testoni surgiu como o primeiro militar hipoteticamente "condenado". Nada a ver com os rigores do ministro Alexandre: a "condenação" foi decretada pela Justiça Militar, e o crime do sentenciado foi xingar generais e o alto comando do Exército  na sua percepção, as tropas deveriam ter sido mobilizadas para proteger os "patriotas" que se insurgiram contra o resultado das urnas.
O militar divulgou nas redes sociais um vídeo em que disparou ofensas contra 5 generais. Numa delas, chamou seus superiores de filhos da puta; noutra, mandou-os  se foder. Por mal dos pecados, o ofensor postou o vídeo em grupos de WhatsApp frequentados pelos ofendidos.
No dia dos ataques, Testoni prestava serviços no Hospital das Forças Armadas de Brasília. Foi exonerado em janeiro e condenado na semana passada a um mês e dezoito dias de prisão em regime aberto. Ainda cabe recurso ao Superior Tribunal Militar, e a condenação não o impede de continuar recebendo aposentadoria de cerca de R$ 25 mil mensais.
Ironicamente, a Justiça Militar não enxergou problemas na presença de um coronel do Exército no cenário do surto antidemocrático. Ao contrário. A sentença anota que "o réu agiu como cidadão no seu livre direito de se manifestar (pacificamente, por óbvio)." O problema foi ele ter direcionado "suas descrenças e dissabores a superiores hierárquicos, olvidando a sua condição inafastável de militar, ainda que da reserva remunerada." 
Concluiu-se que "a perda de controle emocional do acusado, naquelas circunstâncias, se distancia em muito do que era esperado de um oficial superior, pertencente à Arma de Combate (Infantaria) do Exército Brasileiro, não servindo como escudo a presença de sua esposa naquela manifestação popular".
Observada isoladamente, a "condenação" é ridícula; analisada num contexto em que nenhum outro militar foi lançado no rol dos culpados pelo 8 de janeiro, é constrangedora e aviltante. 
Constrange porque são abundantes as evidências de que integrantes da cúpula das FFAA foram cúmplices de Bolsonaro na incitação à tentativa de golpe. Avilta porque ficou entendido que é mais fácil simular a punição à ofensa a um grupo de generais do que condenar o desacato de oficiais à Constituição e ao Estado Democrático de Direito.

***

Quando se trata da idade do Universo, estima-se que tudo começou com o Big Bang há 13,7 bilhões de anos — lembrando que um estudo publicado recentemente no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society aumentou essa estimativa para 26,7 bilhões de anos.  
Aplicado ao cosmos, o Teorema CPT (de carga, paridade e tempo) admite a possibilidade de um universo simétrico ter sido criado junto com o nosso e se expandido na direção oposta. Em ambos esses universos, o tempo se afasta do Big Bang, mas em direções opostos — num deles, a seta aponta para a direita, e no outro, para a esquerda.
 
Segundo o princípio da simetria, qualquer processo físico permanece o mesmo, ainda que o tempo retroceda, o espaço fique invertido e as partículas sejam substituídas por antipartículas. Já se conseguiu identificar um conjunto de simetrias fundamentais na natureza, sendo as mais importantes a carga (se você inverte as cargas de todas as partículas envolvidas numa interação para a carga oposta, você obtém a mesma interação), a paridade (se você observa a imagem espelhada de uma interação, você obtém o mesmo resultado) e o tempo (se você faz uma interação voltar no tempo, ela tem a mesma aparência da original).
 
Acredita-se que o Big Bang produziu quantidades idênticas de matéria e antimatéria 
— segundo a Teoria das Partículas Elementares, sempre que surge uma partícula de matéria, outra de antimatéria (idêntica, mas com carga elétrica oposta) é criada. Como as interações físicas obedecem a maioria dessas simetrias durante a maior parte do tempo, mas não durante todo o tempo, pode haver violações, porém os físicos jamais observaram uma violação da combinação dessas três simetrias ao mesmo tempo.
 
Observação: Vivemos num universo em expansão, que se move para frente no tempo. Mas basta estendermos o conceito da simetria CTP para todo o cosmos para nos deparamos com a possibilidade de existir um universo espelho, onde todas as cargas opostas às que temos estariam "espelhadas" e o tempo correria para trás.

Acredita que o "antiverso" seja uma imagem do nosso universo refletida no tempo, e que lá exista um "anti-eu" de cada um de nós. De acordo com ele, se comermos ovos no café da manhã, nossa versão no antiverso não poderá optar por bacon — ou seja, terá de comer anti-ovos. Cada lado do universo acredita que é perfeitamente normal, e que seu tempo está avançando. Do nosso ponto de vista, o tempo no antiverso retrocede, mas nossos "anti-eus" acham que nós é que estamos na contramão. 
 
Experimentos em busca das ondas gravitacionais primordiais, geradas durante a chamada fase inflacionária cosmológica vêm sendo realizados. Pesquisadores do BICEP2 anunciaram recentemente que as teriam detectado, mas a comunidade científica recomenda esperar os resultados de outros estudos similares, como os do satélite Planck, uma vez que essas ondas não existiriam num universo de simetria CTP, e uma eventual não-confirmação da existência delas seria mais uma evidência da existência do antiverso.
 
Mesmo que o antiverso exista, visitá-lo exigiria retornar pelo espaço-tempo até a singularidade do Big Bang e sair do outro lado. Ainda assim, vários estudos oferecem soluções para questões cosmológicas como a da matéria escura,
 que os astrofísicos afirmam compor cerca de 80% do universo (o percentual varia conforme a fonte), mas não sabem o que é — acredita-se que seja feita de "neutrinos destros" (neutrinos que não fazem parte do modelo padrão e cuja existência ainda depende de comprovação).
 
Observação: Os neutrinos são considerados "canhotos" devido ao sentido em que eles giram. Num universo simétrico, os "antineutrinos" seriam "destros", já que girariam no sentido inverso. A exemplo dos canhotos, eles seriam praticamente invisíveis e sua presença só poderia ser detectada pela gravidade — o físico Joseph Formaggio, que investiga o papel dos neutrinos na cosmologia, acha interessante a proposta de Boyle para explicar a matéria escura. 

Quanto à existência da inflação cósmica e das ondas gravitacionais primordiais, a matéria no universo pode ter se expandido com menos força; se não houve inflação, também não houve "ondas gravitacionais primordiais".

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

BURACOS DE MINHOCA ATRAVESSÁVEIS (CONTINUAÇÃO)

MELHOR UM FIM HORROROSO AINDA DO QUE UM HORROR SEM FIM.

No filme Superman, o protagonista volta ao passado voando no sentido oposto ao da rotação da Terra a uma velocidade superior à da luz. Em tese, isso poderia funcionar no mundo real, mas na prática a teoria é outra.

Nada com matéria pode se mover mais rápido que a luz no vácuo (299.792.458 m/s), lembrando que os fótons são partículas sem massa e sem peso. Mas ir além da velocidade da luz talvez não baste para voltarmos ao passado, já que, em nível macroscópico, a seta do tempo aponta sempre para o futuro. Mas isso não quer dizer que jamais poderemos assistir ao desembarque de Cabral e sua trupe em Pindorama, por exemplo.

Buracos de minhoca são distorções no espaço-tempo causadas por objetos supermassivos. Acredita-se que eles possam funcionar como atalhos cósmicos, encurtando a distância entre dois pontos, neste ou em outro universo, no presente ou em outro momento da linha do tempo.

Observação: Para entender isso melhor, imagine uma folha de papel com um X na margem superior um Y na inferior. Se a folha for dobrada ao meio, os pontos X e Y podem ser trespassados por um alfinete. Assim, um buraco de minhoca permitiria ir de um ponto a outro no espaço-tempo em questão de segundos, mesmo que, numa linha reta, a distância entre eles fosse de milhares de anos-luz.

Ao contrário dos buracos negros, que já foram avistados e fotografados, os buracos de minhoca ainda são uma projeção teórica. Mas Carl Sagan ensinou que "ausência de evidência não é necessariamente evidência de ausência", e vários cientistas — incluindo o descobridor do sistema heliocêntrico, o pai da desinfecção, o criador da imunoterapia e o proponente da deriva continental — foram alvo de chacota até o tempo provar que eles estavam certos. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA 

Escorado numa decisão do STF, o presidente Lula disse que o avanço do Congresso Nacional sobre o Orçamento da União é "uma loucura" — e com razão, já que as emendas parlamentares representarem quase 24% do bolo orçamentário. Igualmente fora de esquadro foi a demora do Lula presidente em constatar o que o Lula candidato externou ao apontar o absurdo da sistemática no manejo daqueles recursos. Na época, o palanque ambulante prometeu dar um jeito na desordem mediante tratativas com o Parlamento, mas em um ano e meio de governo fez vista grossa à continuidade da metodologia repaginada do orçamento secreto vetado pelo STF em 2022.

A desvantagem na correlação de forças entre Executivo e Legislativo explica a atitude do xamã petista, mas a justifica num político tido, havido e autoproclamado ás no exercício do convencimento e o mais experiente dos governantes desde Tomé de Souza.

A impressão que se tem é de que o presidente tem medo de um Parlamento diante do qual suas celebradas qualidades de articulador são insuficientes. E ele não é o único a pisar em ovos. Em recente entrevista, o presidente do TCU, Bruno Dantas, qualificou os abusos como um "descuido" do Congresso (o que não se justifica, pois ali há distração, o foco é total nos interesses de suas excelências).

O uso do Supremo como muro de arrimo ocorreu também no caso da desoneração das folhas de pagamento, quando o Planalto se escorou em liminar do ministro Cristiano Zanin para obter um trunfo na mesa de negociações com os congressistas. 

A corte também procura amenizar os efeitos de suas decisões, defendendo negociação em torno da exigência de nitidez no trato das emendas. É de se perguntar como poderia o conceito de transparência abrigar o sentido de meio-termo.

 
Um novo estudo sugere que uma compreensão mais aprimorada da gravidade pode comprovar a existência desses "túneis cósmicos", mas daí a usá-los para cortar caminho vai uma longa distância (sem trocadilho). Mesmo que a força gravitacional do horizonte de eventos do buraco negro que hospeda o buraco de minhoca não fechasse a passagem antes que qualquer objeto conseguisse transpô-la, a radiação Hawking certamente causaria sua destruição.
 
Num artigo baseado teoria da gravidade híbrida  que permite maior flexibilidade nas relações entre matéria/energia e espaço/tempo  o físico João Luís Rosa sustentou a possibilidade de criar um buraco de minhoca estável e atravessável usando 
algum tipo de matéria exótica. Segundo ele, a energia negativa da matéria escura poderia estabilizar o túnel pelo tempo suficiente para a travessia, mas o problema é que a existência de matéria exótica no universo ainda é mera suposição.

Ocorre que a matemática usada para teorizar os buraco de minhoca é baseada na Relatividade Geral, que não é compatível com a física quântica — o que não quer dizer que as equações de Einstein estejam erradas, mas que alguma coisa está faltando —, e a suposta existência de matéria exótica é limitada à escala quântica. 

Ainda assim, o cosmólogo lusitano acredita que os efeitos gravitacionais necessários para garantir a atravessabilidade do atalho cósmico aconteçam naturalmente com a modificação da gravidade, dispensando as propriedades gravitacionais repulsivas da matéria exótica. "Modifique a gravidade e você poderá viajar com segurança por um buraco de minhoca para o que quer que esteja do outro lado", ele afirmou em entrevista ao site UFO

Ainda segundo Rosa, a teoria da gravidade modificada será comprovada pelo estudo das estrelas próximas de Sagitário A* — buraco negro supermassivo com cerca de 35 milhões de quilômetros de diâmetro que foi descoberto em 1974 no centro da Via Láctea

Como disse Einstein, "o impossível só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário".