Conforme eu mencionei recentemente, o guerrilheiro de araque José Dirceu, em sua terceira condenação (a primeira ocorreu durante a ditadura militar, em 1968, e a segunda, por ocasião do julgamento do mensalão, em 2012), recebeu a maior pena aplicada até agora pela Lava-Jato: 23 anos 3 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Até aí, nenhuma surpresa; o que causa espécie é o chefão da cleptocracia lulopetista continuar livre leve e solto ― embora tudo indique que a farra esteja com os dias contados, mas essa já é uma história que fica para outra vez.

O “cumpanhêro” Dirceu está preso no complexo penitenciário de Pinhais, em Curitiba, desde agosto do ano passado. Ele já havia sido condenado na ação penal 470 ― mais conhecida como “processo do mensalão” ― e vinha cumprindo pena em regime de prisão domiciliar, mas, segundo os investigadores da Lava-Jato, continuava mamando nas tetas do petrolão.

Observação: Diante da magnitude do “escândalo da Petrobras”, o mensalão foi rebaixado a “golpe de amadores”, e “Esquema PC”, que resultou na deposição de Collor, a coisa de “punguista de feira-livre” (vejam vocês a que ponto o trinômio diabólico LULA-DILMA-PT levou esta pobre nação!).

A sentença condenatória proferida pelo juiz Moro aponta o petralha como peça central da “profissionalização” do esquema de desvios e lavagem que abasteceu a petelândia e outros partidos, além de políticos e agentes públicos. Por seu papel de liderança no esquema, a força-tarefa ainda apresentará novas acusações formais contra Dirceu – inclusive em outras áreas, fora da Petrobras. Todavia, nenhuma passagem das 266 páginas da decisão define o petralha como “comandante do grupo criminoso” que sangrou os cofres da Petrobras nos últimos anos. Os procuradores da Lava-Jato sustentaram na denúncia que ele “ocupava papel de destaque, que foi beneficiário final de valores desviados, além de um dos responsáveis pela criação do complexo esquema criminoso praticado em variadas etapas e que envolveu diversas estruturas de poder, público e privado”. O chefão, mesmo, todo mundo sabe quem é, mas isso também é outra história e fica para outra vez.

A quem interessar possa, a trajetória política do cofundador do PT, ex-braço direito de Lula e ministro-chefe da Casa Civil durante o primeiro mandato do molusco de nove dedos é detalhada neste acervo. Quando da prisão petralha em 2015, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima comemorou a chegada da Lava-Jato a um dos "instituidores do petrolão”. Segundo o MPF, Dirceu foi um dos principais líderes desse mega escândalo, beneficiou-se dele mesmo após a sentença que o mandou para a cadeia e era o responsável por definir os cargos no governo de Lula. No momento em que ele nomeou Renato Duque para a Petrobras, deu-se início ao trabalho de captação das empreiteiras. Mas, diferentemente do que fez no mensalão, o gatuno não usou o dinheiro do petrolão para comprar apoio de parlamentares, mas sim em benefício próprio ― quando da prisão de Dirceu em 2015, estimava-se que seus atos de corrupção lhe teriam rendido mais de R$60 milhões.

Depois de sua trajetória no governo Lula ter sido abreviada pela Justiça em 2005 ― quando seu nome era o mais cotado para a sucessão “capo di tutti i capi” na presidência da Banânia ― o petralha passou atuar como consultor, valendo­-se da vasta influência que exercia sobre companheiros instalados nas mais diversas engrenagens do governo. Lula, por seu turno, desceria anos mais tarde a rampa do Planalto com a popularidade nas alturas e ganharia rios de dinheiro proferindo “palestras” ― regiamente remuneradas, em sua maioria, pelas empreiteiras que se beneficiavam do propinoduto da Petrobras).

Voltando a Dirceu, o fato de sua carteira de clientes incluir algumas das principais empreiteiras envolvidas no petrolão lhe garantiu ótimos resultados: de 2006 a 2013, o ex-ministro faturou R$29,3 milhões em contratos de consultoria com empresas de todos os tamanhos e atuantes nos mais variados setores da economia ― de cervejaria a laboratório farmacêutico, de escritório de advocacia a concessionária de automóveis. Para fazer valer os gordos “honorários”, o petralha contava com parceiros ocasionais importantes ― dentre os quais o próprio Lula. Em 2011, por exemplo, a dupla dinâmica viajou ao Panamá, onde, sem esconder a condição de lobista ― e com o beneplácito de auxílio logístico de altos funcionários da embaixada brasileira ― teve lucrativos encontros com o presidente do país e ministros de Estado. E esse é apenas um exemplo de muitos que eu poderia listar, mas resolvi não o fazer, para não estender demasiadamente este texto e torná-lo cansativo para os leitores.

Como não poderia deixar de ser, o estrondoso sucesso do dublê de ex-guerrilheiro e ex-ministro acabou por torna-lo alvo da Lava-Jato e culminou com o fato que eu mencionei no parágrafo de abertura desta postagem. Explicando melhor: No mesmo dia em que o ministro Ricardo Lewandowski alegou não existir previsão de quando o STF julgará a ação que pede o impeachment do presidente interino Michel Temer, a chamada República de Curitiba produziu uma condenação que levou a petelândia ao terror, notadamente porque o juiz Moro desconheceu o papel de liderança de Dirceu na organização criminosa que detonou a Petrobras ― e se ele não era o comandante em chefe, o verdadeiro “chefão” terá de acertar contas com a Justiça. Para bom entendedor...

Resumo da ópera: Diante de tudo isso, é estarrecedor, para se dizer o mínimo, que a militância petista continue defendendo esses imprestáveis, que tanto mal causaram ― e continuam causando ― à nação com seu projeto de poder. Dirceu, na opinião desses apedeutas, não passa de um preso político condenado sem provas ― pasmem! E o mesmo se aplica a João Vaccari Neto, igualmente preso pela Lava-Jato e igualmente considerado pela petralhada como “injustiçado”. Para quem não se lembra, em novembro do ano passado um grupo de petistas e sindicalistas chamado “Amigos do Vaccari” realizou um ato em apoio do ex-tesoureiro do PT. Para essa cambada “defender Vaccari é defender o legado da esquerda do PT e da democracia, pois sua condenação pelo juiz Sérgio Moro criminalizou as doações oficiais de um único partido, sendo um inadmissível atentado à democracia". Como bem disse o escritor português José Saramago, Nobel de literatura em 1998, “a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito”.

Sorte da “valorosa militância petista” que burrice não dói. Ou sorte nossa, pois, se doesse, os gemidos desses aldrabões seriam ainda mais ensurdecedores do que seu alarido em defesa de Lula, Dilma, PT e tudo mais que não presta no cenário político tupiniquim. Todavia, esse povo vota, e é aí que mora o perigo!  

O resto fica para a próxima. Abraços e até lá.