Depois daquele distante abril, as impossibilidades foram crescendo. Os novos poderosos tomaram nas mãos a política, a justiça, a educação, a diversão, a produção, a economia, o meio ambiente, as comunicações, a vida social, e a ocupação foi-se propagando em metástase maligna.
As revistas de fotos ousadas só podiam ser vendidas nas bancas envoltas em plástico opaco. Os filmes em que apareciam mulheres seminuas eram exibidos nos cinemas com tarja preta cobrindo partes do corpo.
Revistas de nus femininos não podiam mostrar pelos nem dois peitos, só um. Predominavam os nus de perfil.
Os porteiros dos prédios tinham fichas com o nome dos moradores de cada apartamento e todos os visitantes tinham de se identificar, e os registros eram fornecidos ao DOPS, quando solicitados.
Não havia habeas corpus: você podia ser preso incomunicável por simples suspeita. Agentes podiam invadir sua casa de noite ou de dia, sem mandado judicial, e levar quem quisessem.
Comentários contra ações do governo não podiam ser publicados.
Manifestações de rua eram proibidas.
Peças de teatro podiam ser proibidas, e foram, às dezenas, e até de autores clássicos.
Filmes podiam ser proibidos, e foram.
Músicas podiam ser proibidas, e foram, centenas delas.
Decidiam o que você podia ou não podia ler: livros eram proscritos.
Professores, por mais competentes que fossem, podiam ser impedidos de dar aula em faculdades e colégios.
O Congresso, fechado uma vez, e expurgado, podia ser fechado a qualquer momento.
Ninguém ligava para licença ambiental: as cachoeiras mais belas podiam ser alagadas por barragens hidrelétricas, matas virgens desvirginadas, grutas arqueológicas destruídas.
Os preços não obedeciam ao mercado, só aos decretos. O dólar subia ou descia se o ministro permitisse.
A inflação, mentira mensal, recebia apelidos como “inflação do chuchu”, “do tomate”...
Estudantes, sindicalistas, associados de entidades de classe e outros grupos suspeitos não podiam se reunir.
A televisão só podia noticiar a favor.
Jornalistas só podiam opinar sobre abobrinhas.
Só podia ser governador, prefeito, deputado, senador ou vereador quem eles permitissem.
Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas da União, Superior Tribunal de Justiça, Ministério Público Federal, Superior Tribunal Eleitoral e outros braços do Judiciário estavam intimidados. Forte era o Superior Tribunal Militar.
Bombas explodiam na madrugada.
Você não podia conhecer alguém que conhecia alguém que se tornara suspeito, porque isso fazia de você também um suspeito, e a coisa ficava feia se fossem à sua casa e você tivesse lá objetos suspeitos, como livros de estudo de sociologia, ou um pôster de Alice Cooper sentado no vaso sanitário, ou de Guevara com aquela boina subversiva. Você podia ser levado e apanhar dias seguidos para confessar coisas de que não tinha a menor ideia.
As famílias nunca mais viam os parentes mortos pelos agentes de segurança.
Não havia debate.
Não havia impeachment.
Os porteiros dos prédios tinham fichas com o nome dos moradores de cada apartamento e todos os visitantes tinham de se identificar, e os registros eram fornecidos ao DOPS, quando solicitados.
Não havia habeas corpus: você podia ser preso incomunicável por simples suspeita. Agentes podiam invadir sua casa de noite ou de dia, sem mandado judicial, e levar quem quisessem.
Comentários contra ações do governo não podiam ser publicados.
Manifestações de rua eram proibidas.
Peças de teatro podiam ser proibidas, e foram, às dezenas, e até de autores clássicos.
Filmes podiam ser proibidos, e foram.
Músicas podiam ser proibidas, e foram, centenas delas.
Decidiam o que você podia ou não podia ler: livros eram proscritos.
Professores, por mais competentes que fossem, podiam ser impedidos de dar aula em faculdades e colégios.
O Congresso, fechado uma vez, e expurgado, podia ser fechado a qualquer momento.
Ninguém ligava para licença ambiental: as cachoeiras mais belas podiam ser alagadas por barragens hidrelétricas, matas virgens desvirginadas, grutas arqueológicas destruídas.
Os preços não obedeciam ao mercado, só aos decretos. O dólar subia ou descia se o ministro permitisse.
A inflação, mentira mensal, recebia apelidos como “inflação do chuchu”, “do tomate”...
Estudantes, sindicalistas, associados de entidades de classe e outros grupos suspeitos não podiam se reunir.
A televisão só podia noticiar a favor.
Jornalistas só podiam opinar sobre abobrinhas.
Só podia ser governador, prefeito, deputado, senador ou vereador quem eles permitissem.
Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas da União, Superior Tribunal de Justiça, Ministério Público Federal, Superior Tribunal Eleitoral e outros braços do Judiciário estavam intimidados. Forte era o Superior Tribunal Militar.
Bombas explodiam na madrugada.
Você não podia conhecer alguém que conhecia alguém que se tornara suspeito, porque isso fazia de você também um suspeito, e a coisa ficava feia se fossem à sua casa e você tivesse lá objetos suspeitos, como livros de estudo de sociologia, ou um pôster de Alice Cooper sentado no vaso sanitário, ou de Guevara com aquela boina subversiva. Você podia ser levado e apanhar dias seguidos para confessar coisas de que não tinha a menor ideia.
As famílias nunca mais viam os parentes mortos pelos agentes de segurança.
Não havia debate.
Não havia impeachment.