As denúncias
que o líder da Lava-Jato fez contra Lula na última quarta-feira continuam dividindo opiniões. Em situações assim,
a divisão entre apoiadores e detratores é mais do que natural. O que é digno de
nota, do meu ponto de vista, é o fato de muita gente se insurgir contra a
postura do procurador Deltan
Dallagnol.
Aquele que se
autodeclara a “alma viva mais honesta do Brasil” mostrou-se indignado com
a denúncia, reiterou a absurda tese de perseguição e,
num discurso melodramático digno de concorrer ao Oscar do caradurismo ― que
levou arrancou lágrimas da militância ignara ― desafiou: "Prova uma
corrupção minha que irei a pé ser preso". E não perdeu a chance de
alfinetar o governo Temer com seu batido papo-furado de palanque: “Vocês vão
ter problema com o golpe, com o que vocês querem tirar dos trabalhadores desses
país, entregar nosso pré-sal, nossa Petrobras para o capital internacional.
Assim não precisa de governo, mas de um vendedor”.
Com o profundo
conhecimento de causa que só a experiência própria concede, o petralha brindou
os ouvintes com mais essas pérolas: 1) “A desgraça de quem conta a
primeira mentira é que tem que mentir sempre”. 2) A profissão mais
honesta
é a do político, porque todo ano, por mais
ladrão
que ele seja, ele tem que enfrentar o povo para
pedir voto” (confira neste vídeo). E eu que achava que a mulher sapiens fosse imbatível no quesito besteirol!
A forma como a
denúncia foi apresentada incomodou até mesmo alguns aliados de Temer, que
a consideraram “exagerada e baseada em delações sem provas concretas”, mas
preferiram não externar opiniões contrárias à operação para não alimentar os
rumores de que o governo quer interferir na Lava-Jato ― vale lembrar que tem
gente grossa do PMDB sendo investigada, como é o caso de Renan
Calheiros e Romero Juca, o que dá pistas do real motivo dessa “preocupação”.
Por outro lado, há ainda no Planalto quem avalie que o as denúncias contra o
ex-presidente petralha pode enfraquecer a tese de que o impeachment de Dilma
foi um golpe e inibir futuras manifestações contra o presidente interino. Já o
deputado Paulinho da Força, líder do Solidariedade, afirmou que a
forma como os procuradores apresentaram a denúncia não só foi contundente demais,
como também deu margem para Lula posar de vítima no processo.
A defesa de Lula
― que já chegou a denunciar à ONU a suposta perseguição da justiça pena
brasileira contra seu cliente ― protocolou junto ao Conselho Nacional do
Ministério Público um “pedido de providências” contra os procuradores da
Lava-Jato, alegando que eles “violaram a regra de tratamento que decorre da garantia
constitucional da presunção de inocência ― ao tratar Lula como culpado,
inclusive sobre assunto que sequer está sob a competência funcional dessas
autoridades ― e, ainda, regras estabelecidas pelo próprio CNMP, que
vedam a antecipação de juízo de valor sobre fatos pendentes de investigação e
que disciplinam a forma de divulgação de ações tomadas por membros do MP”.
Para o jornalista Reinaldo
Azevedo ― que eu admiro, embora nem sempre concorde com ele ―, o
insurgimento dos advogados faz sentido, pois os procuradores usaram a maior parte do tempo para tratar de
assunto que não estava sob a sua competência ― a acusação de que Lula é
o centro de uma organização criminosa, sendo cabível, portanto o pedido de que
“se abstenham de usar a estrutura e recursos do Ministério Público Federal para
manifestar posicionamentos políticos ou, ainda, jurídicos que não estejam sob
atribuição dos mesmos”.
Ontem, após uma
palestra na Universidade da Pensilvânia (EUA), o juiz Moro afirmou “não
ser sábio” um juiz tecer comentários sobre as críticas à operação Lava-Jato.
Questionado sobre a acusação de que Lula seria o comandante máximo do
petrolão, saiu pela tangente: “Sobre um assunto tão concreto assim eu
prefiro não falar. Não é muito sábio da parte de um juiz ficar fazendo
comentários porque até parece que a gente está respondendo a esse tipo de
crítica”.
Controversa ao não,
“espetaculosa” ou não, a denúncia contra Lula teve o aval de Rodrigo
Janot e já está com Moro, que deverá publicar sua decisão na próxima
segunda-feira. Caso ela seja aceita, o capo di tutti i capi e os demais
denunciados se tornarão réus no processo.
Os 13 procuradores
que assinam o documento não pedem a prisão do petralha ou de qualquer outro
denunciado. Para o procurador Dallagnol, que produziu a denúncia, essa
prática é “padrão” e visa não antecipar juízos ou avaliações.
Vamos ver que bicho
dá.