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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

STF, BENDINE, LULA, RODRIGO MAIA E A DELAÇÃO DA ODEBRECHT


A 2ª Turma do STF anulou por 3 votos a 1 a sentença (proferida pelo então juiz Sérgio Moro) que havia condenado o ex-presidente do BB e da Petrobrás Aldemir Bendine a 11 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O voto vencido foi do relator, ministro Luís Edson Fachin, e o que não houve, do decano Celso de Mello (que não participou do julgamento devido a uma pneumonia).

A tese dos advogados do réu, de que entregar seus memoriais ao mesmo tempo em que delatores da Odebrecht apresentaram suas acusações caracteriza cerceamento de defesa, foi agasalhada por Mendes, Lewandowski e Cármen Lúcia. Com isso, os autos deverão baixar à primeira instância para que a etapa final da instrução processual seja refeita e a 13ª Vara Federal do Paraná (agora sob a pena do juiz Luís Antonio Bonat) profira nova sentença — da qual as partes podem recorrer, e assim por diante.

Vale lembrar que o recurso de Bendine já havia sido julgado pelo TRF-4, a pena de 11 anos, reduzida para 7 anos e 9 meses, mas a condenação, mantida, e, portanto, poderia ser executada em breve com base na decisão do STF que autoriza a prisão após o fim dos recursos em segunda instância.

O entendimento dos 3 togados supremos retrocitados foi de que, mesmo não estando previsto em lei, o interrogatório e a apresentação de alegações finais do investigado delatado deveriam ter sido feitos ao final do processo, após os delatores da Odebrecht terem entregado suas manifestações, sob pena de infringir o princípio constitucional da ampla defesa. Nem seria preciso dizer que essa decisão abre um precedente perigoso, pois os chicaneiros estrelados que defendem a corja de rapinadores do erário certamente pleitearão o mesmo que a defesa de Bendine. No entanto, caso a 1ª Turma decida de maneira diferente, a divergência terá de ser pacificada pelo plenário da Corte. A ver o que resultará de mais essa "hermenêutica suprema".

Last but not least: o julgamento de uma reclamação da defesa do presidiário mais famoso da galáxia, envolvendo o processo que trata do terreno do Instituto Lula e da cobertura vizinha à do petralha em SBC, também estava na pauta de ontem, mas os ministros deram prioridade a outras ações — até porque o decano Celso de Mello, que seria o fiel da balança, está licenciado (Fachin e Cármen já votaram contra o pleito da defesa e Mendes e Lewandowski certamente votarão a favor). Caberá à presidente da turma definir outra data para o julgamento (também está pendente a análise de outros recursos do morfético de Garanhuns, um dos quais questiona a imparcialidade de Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá, mas isso já é outra conversa).

Mudando de pato para ganso:

Andamos bem de presidentes neste arremedo de banânia. No Executivo, temos um parlapatão que fala mais que deve sobre o que não deve rejeita a oferta do G7, que se prontificou a dar 20 milhões de euros para ajudar a combater as queimadas na Amazônia, como estivesse brotando dinheiro a mancheias do erário tupiniquim. E não fica nisso, naturalmente, mas é escusado descer a detalhes, já que as últimas postagens foram todas dedicadas a esse tema.

No Legislativo, o presidente do Senado e do Congresso é David Alcolumbre, que derrotou o Golias das Alagoas, Renan Calheiros, com 42 votos dos 81 senadores (curiosamente, ao final do escrutínio havia 82 votos na urna).

Relembrando: em 2016, o ministro Marco Aurélio apeou liminarmente  o então presidente do Senado, o que, por absurdo, paralisou os trabalhos na Câmara Alta do Congresso Nacional. Era como se nada ali funcionasse sem a presença do senador alagoano réu no STF por crime de peculato e investigado em pelo menos mais 11 processos, oito dos quais no âmbito da Lava-Jato , que, para piorar, apoiado pela mesa diretora da Casa, resolveu simplesmente não acatar a decisão do Judiciário, como se sua deposição fosse uma opção, e não uma determinação da um ministro da nossa mais alta Corte de Justiça.

O Cangaceiro das Alagoas foi sucedido por Eunício de Oliveira, outro prócer da oligarquia política nordestina que é dono de uma capivara respeitável, e que foi chutado pelos eleitores quando tentou renovar seu mandato de senador no ano passado.  

Voltando a Alcolumbre, o senador amapaense é investigado em dois inquéritos no STF por supostas irregularidades relacionadas à campanha de 2014 e já foi alvo de outras investigações, como as da Operação Pororoca (que trata de superfaturamento de obras no Amapá), e as da Operação Miquéias (sobre fraudes na Previdência de prefeituras). Que em 2009, como deputado, conseguiu aprovar um projeto de lei para homenagear seu tio Alberto Alcolumbre, acrescentando o nome do parente ao título do Aeroporto de Macapá.

Em 2013, ainda como deputado, Alcolumbre usou verba de gabinete para abastecer seus carros no posto de gasolina Salomão Alcolumbre e Cia. Ltda., que também pertence a um parente seu. Que, em recente entrevista à revista Veja, disse que não vai levar adiante a CPI da Lava-Toga nem dar andamento aos pedidos de impeachment de ministros do STF — emboloram nos escaninhos do Senado nada menos que 34 petições, sendo 11 contra o semideus togado Gilmar Mendes e 10 contra o atual presidente da Corte, Dias Toffoli; dos outros 9 togados supremos, a única que escapa é a ministra Cármen Lúcia.

Observação: Vale lembrar que Toffoli levou bomba (não uma, mas duas vezes seguidas) em concursos para a magistratura — ou seja, um sujeito não pode ser juiz nem na comarca de Arroio dos Ratos preside o mais alto tribunal de Justiça deste país.

No Judiciário, para além do que eu mencionei parágrafos atrás, preside o STF um petista que não despiu o uniforme de militante quando vestiu a toga de ministro, cujo currículo se limita a uma interminável fieira de relevantes serviços prestados ao PT: Toffoli foi advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, consultor jurídico da CUT e assessor jurídico do PT e de José Dirceu. Atuou como advogado nas campanhas de Lula em 1998, 2002 e 2006 e como subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil da presidência da República. Em 2007, foi promovido ao cargo de Advogado Geral da União, que exerceu até 2009, quando, mais uma vez graças a Lula, preencheu a vaga aberta com a morte do ministro do STF Menezes Direito.

Sua indicação foi (mais) uma demonstração cabal da falta de noção do picareta dos picaretas sobre a dimensão do cargo de ministro. Sem currículo, sem conhecimento, sem luz própria, Toffoli foi buscar apoio em Gilmar Mendes, que é quem melhor encarna a figura do velho coronel político. Já consolidado no novo habitat, passou a emular os piores hábitos do novo padrinho a arrogância incontida, a grosseria, a falta de limites, o uso da autoridade da forma mais arbitrária possível. Em 2005, quando Roberto Jefferson denunciou o MensalãoToffoli trabalhava na Casa Civil e respondia diretamente a José Dirceu, apontado como chefe do esquema o que inacreditavelmente não o impediu de, anos mais tarde, participar do julgamento da ação penal 470, nem de votar pela absolvição de Dirceu.

Em 2015, pouco depois da divulgação da primeira “lista de Janot”, Toffoli pediu transferência para a segunda turma, que ficaria responsável pelos processos da Lava-Jato. Foi ele quem sugeriu que casos não relacionados diretamente à Petrobras fossem tirados do juiz federal Sergio Morolivrando por tabela o rabo da senadora Gleisi Hoffmann. Também foi ele o autor do pedido de vista que interrompeu a votação da limitação do foro privilegiado de políticos quando já se havia formado maioria a favor. A Lava-Jato chegou a bafejar seu cangote quando Léo Pinheiro mencionou, em sua proposta de delação, que a OAS havia executado reformas em sua casa. Mas a informação vazou, Janot (notório admirador do lulopetismo) rodou a baiana e o acordo nunca chegou a ser firmado. Aliás, a Lava-Jato também descobriu que um consórcio suspeito de firmar contratos viciados com a Petrobras chegou a repassar R$ 300 mil ao escritório de advocacia de Roberta Gurgel, esposa de Toffoli — o próprio Toffoli foi sócio do escritório até 2007, mas deixou a sociedade antes de os pagamentos começarem.

Quanto à Câmara Federal, também é escusado relembrar as virtudes de Eduardo Cunha. Basta dizer que o ex-todo-poderoso presidente da Casa está preso desde 2016 — em maio passado, ele foi transferido do Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, para o presídio de Bangu 8, no Rio de Janeiro, para que cumprisse mais próximo da família a pena de 14 anos e seis meses de prisão a que foi condenado na Lava-Jato. Quem lhe sucedeu no comando da lojinha foi Rodrigo Maia, vulgo Bolinha — ou Botafogo, que é como ele era identificado nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht. Em relatório conclusivo, a PF lhe atribuiu os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa dois (e três) a partir de investigações que envolvem delação da empreiteira no âmbito da Lava-Jato (Maia teria recebido R$ 350 mil nas eleições de 2010 e 2014). No último dia 23, o ministro Fachin deu prazo de 15 dias para a PGR oferecer denúncia ou solicitar o aprofundamento das investigações.
 
Segundo Fausto Macedo publicou em sua coluna no Estadão, Maia é a peça-chave no jogo político que envolve na Câmara projetos de grande impacto e interesse do governo e do ministro Sérgio Moro, como o pacote anticrime e a Lei do Abuso de Autoridade, que provoca desconforto entre promotores, juízes e delegados. A conclusão da PF que coloca Maia contra a parede ocorre em meio ao clima nervoso que paira entre delegados da corporação e o presidente da República (para ler a coluna na íntegra, clique aqui).

Para mais detalhes, assista a este clipe (avance até a marca dos 10 minutos e acompanhe a partir daí):

terça-feira, 27 de agosto de 2019

SOBRE LULA E BOBÔ


No meio de tanta notícia ruim, salvou-se ao menos uma alma do purgatório: a 2ª Turma do STF rejeitou por unanimidade o pedido da defesa de Lula para anular atos de Sérgio Moro na ação envolvendo o Instituto Lula — o único dos três processos originários da Lava-Jato em Curitiba que ainda não foi julgado em primeira instância. Cristiano Zanin e companhia desistiram de outros dois recursos cujo conteúdo era o mesmo do pedido de suspeição de Moro tratado no habeas corpus cujo julgamento deve ser concluído hoje. Edson Fachin e Cármen Lucia votaram na primeira etapa; resta saber como se posicionará o decano Celso de Mello, já que os votos de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski são fáceis de prever.

Agora uma notícia não tão boa, sobretudo pelo impacto no mercado financeiro: Em relatório conclusivo, a PF atribuiu ao presidente da Câmara os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa dois em investigações que envolvem a delação da Odebrecht no âmbito da Lava-Jato. Com isso o IBOVESPA, que estava se recuperando timidamente durante a manhã de ontem, voltou a despencar no final da tarde.

Observação: Na planilha de propinas da empreiteira, Rodrigo Maia que é identificado como Botafogo, teria recebido R$ 350 mil nas eleições de 2010 e 2014. No dia 23, o ministro Fachin concedeu prazo de 15 dias para a PGR decidir se oferece denúncia. O presidente da Câmara, um dos mais ferrenhos defensores da recondução de Raquel Dodge ao cargo de procuradora-geral da República, não conseguiu seduzir Jair Bolsonaro, e ainda virou matéria-prima para a chefe do MPF.

Mudando de um ponto a outro, Bolsonaro negou desavenças com Moro, mas reagiu quando questionado se o ministro teria carta branca: “Eu tenho poder de veto em qualquer coisa, senão eu não era presidente. Todos os ministros têm ingerência minha. Eu fui eleito para mudar”. Sobre essa postura do capitão, submeto ao leitor as seguintes considerações:

Com quase oito meses de governo, o capitão se divide entre o político que ostenta índices positivos de avaliação e aspira à reeleição e o que é criticado até por seus apoiadores. O comportamento combativo — sobretudo contra o PT e a corrupção — que lhe garantiu a vitória sobre o bonifrate manipulado por Lula parece não funcionar fora do palanque — e talvez por isso ele continue agindo como se estivesse em plena campanha.

Sem preparo para exercer o cargo nem consciência do tamanho da cadeira presidencial, o "mito" dispara os impropérios que lhe vêm à cabeça — da defesa extremada do filho 03 para assumir a embaixada no EUA à afirmação leviana de ONGs e governadores promovem queimadas na Amazônia para prejudicá-lo. Mas há uma estratégia por trás disso: manter sua usina de crises à todo vapor desvia o foco dos índices cambaleantes na economia e mantém inabalável a fé dos bolsomínions, o que pode lhe ser útil caso não seja abatido em seu voo de galinha e venha a disputar a reeleição em 2022.

Mas será seu governo tão ruim quanto dizem? Para responder essa pergunta é preciso ter em mente que a maioria das coisas só é ruim ou boa em comparação com outras da mesma natureza. Partindo dessa premissa, a questão passa a ser: será o atual governo pior do que foi o de Dilma Rousseff ou de Lula? E se comparando ao de Fernando Collor, então, ou ao de José Sarney?

Apesar dos pesares — e olha que não são poucos — e dos esforços da turminha do quanto pior melhor, é improvável que o governo Bolsonaro seja um desastre total, ou que o centroavante seja expulso de campo antes do final da partida. Improvável não significa impossível, mas como fará a oposição para reunir no Congresso três quintos dos parlamentares se na última vez que a Câmara votou uma questão essencial, a reforma da Previdência, deu 74% dos votos para o governo?

 Em outros governos, foram necessárias graves crises econômicas para que a população ficasse em pé de guerra contra o presidente. FHC, entre a reeleição e o início do segundo mandato, teve de lidar com a desvalorização cambial e se desgastou por completo com o apagão de 2001. Dilma perdeu capital político nos protestos de 2013 e desabou de vez com o ajuste fiscal fracassado do segundo mandato. Lula é um caso à parte, pois deixou o Palácio com a popularidade nos píncaros — o que lhe permitiu eleger e reeleger a gerentona de araque e, à sombra dela, continuar enchendo as burras a mais não poder — e acabou na cadeia.

Recente levantamento feito pelo Instituto FSB Pesquisa dá conta de que 45% dos entrevistados acreditam que o presidente deixará um legado positivo. Somente 8% disseram que sua gestão será ruim e 21% apostam que ela será péssima. Mas é bom lembrar que 15 milhões de brasileiros acreditam que a Terra é plana e que a Apollo 11 jamais pousou na Lua.

Independentemente de você ter votado ou não em Bolsonaro e dos motivos que o levaram a tal, seria esperar demais que ele se revelasse um estadista, considerando a maneira como encerrou sua carreira militar. Para quem não sabe ou não se lembra, em 1986, quando tinha 31 anos, o capitão publicou na revista VEJA um artigo em reclamava do soldo — que lhe rendeu 15 dias de prisão e um processo por indisciplina. No ano seguinte, também em protesto contra os baixos salários, planejou explodir bombas de baixa potência em quartéis e academias. O assunto foi resolvido discretamente e o insurreto foi absolvido de todas as acusações, mas sua carreira militar terminou ali.

Depois que deixou o Exército, aquele que viria a ser o 38º Presidente desta republiqueta de bananas resolveu tentar a sorte como vereador — na hipótese de não se eleger, seu plano B era aproveitar o curso de mergulho que fizera anos antes para trabalhar como limpador de casco de navio. Após dois anos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ele venceu a primeira das 7 eleições para deputado federal que disputou. No Congresso, respondeu a sete processos por quebra de decoro parlamentar, apresentou 172 projetos e foi relator em 73 deles, mas conseguiu aprovar somente dois. Passou os 27 anos seguintes como um membro do baixo-clero, sem destaque, sem poder e sem uma turma para chamar de sua. 

Em meados de 2014, então filiado ao fisiológico PP — cuja bancada de 40 deputados era adestrada para apoiar qualquer um com chance de vencer —, apresentou-se como opção para concorrer ao Planalto e lançou seu ultimato: “Ou o PP sai da latrina ou afunda de vez”. Graças à Lava-Jato, o PP afundou de vez; graças a sua pregação antipetista, foi reeleito como o deputado mais votado do Rio de Janeiro (saltando de 120,6 mil votos em 2010 para 464,5 mil em 2014). Em 2016, trocou o PP pelo PSC, depois namorou com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo), rompeu com a sigla ao descobrir que ela havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista) e acabou se filiando ao PSL. Em outubro passado, derrotou o esbirro de Lula por uma diferença significativa de votos, além de contribuir para que o PSL, até então nanico, elegesse 52 deputados federais, 4 senadores e 3 governadores.

Dora Kramer pondera que os presidentes que terminaram seus mandatos, falando da redemocratização para cá, tinham como traço comum uma espécie de freio interno que os impedia de ultrapassar (em público, ao menos) a linha que determina até onde pode ir um mandatário. O limite de Sarney era a transição democrática, o de FHC, a consciência de que o poder em si limita, e o de Lula, o apoio popular e/ou político. Mas fato é que os dois presidentes mandados de volta à planície antes de completado o tempo regulamentar não tinham ou não utilizavam essa ferramenta tão essencial ao exercício da governança. Ambos de personalidade impositiva, faziam o gênero “vão ter de me aguentar”. 

Má notícia para Bolsonaro, a quem tanto apraz ser do jeito que é, sem intenção de mudar. Disso sabemos, ninguém muda depois dos 60. Patente está também tratar-se de um caso de exibicionismo crônico, cujas causas aos meandros de sua mente pertencem. A dúvida, portanto, recai sobre aonde pensa chegar o presidente com essa pose de valentão old fashioned.

É certo que desperta identificação em setores ainda amplos. Verdade também que serve de distração à ausência de qualificação para o exercício do cargo e faz a festa dos ressentidos, tanto os que o aplaudem quanto aqueles que acreditam exercer oposição atuando na mesma sintonia de insultos e fantasias persecutórias. O dom de distrair, contudo, tende a desviar o autor de seus propósitos, levá-lo ao caminho da incoerência que resulta na quebra de princípios anteriormente defendidos. Daí para a perda de apoios importantes é questão de tempo. Acontece isso com Bolsonaro em seu afã de medir a República pela régua de seus interesses e convicções pessoais.

Quem o elegeu o fez na crença da prometida mudança de paradigmas vigentes nos governos do PT e até antes deles. Pois o que o presidente tem feito é justamente adotar e acirrar velhas práticas como o filhotismo, o mandonismo, o intervencionismo, o histrionismo e demais “ismos” incompatíveis com um ambiente de razoável modernidade e civilidade. Esbravejou contra o aparelhamento petista, mas tenta aparelhar o Estado quando interfere no funcionamento de órgãos de fiscalização. Condenou roubalheira e desmandos, mas atua para proteger os suspeitos que lhe são caros. Confronta até o eleitorado robusto representado pelo agronegócio quando suas diatribes contra ações de preservação do meio ambiente põem o sustentáculo da pauta de exportações sob o risco de retaliações.

A continuar com a agenda e a conduta regressivas, não irá a lugar nenhum, tantas são e serão as barreiras de contenção que encontrará num país que já percebeu as vantagens e se acostumou a viver nos parâmetros da institucionalidade. Se pensa formatar adiante novo arranjo de alianças, é tarde, pois esses parceiros potenciais já guardam distância e se organizam para tomar rumos próprios.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A VITÓRIA PÍRRICA DE MICHEL TEMER


Para quem não sabe, “vitória pírricaé uma expressão usada para designar uma vitória obtida a alto custo, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Sua origem remonta à Grécia Antiga e faz alusão às perdas sofridas pelo exército do Rei Pirro, que derrotou os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C., mas perdeu uma parte considerável forças que trouxera consigo, além de quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes. A despeito do viés militar, o uso dessa expressão é comum também na economia, política, justiça, literatura, arte e desporto, sempre para descrever uma luta prejudicial ao vencedor.

Como disse o jornalista José Simão, dias antes de votação na Câmara o presidente foi ao Shopping Congresso e comprou um deputado de Lego para o filho Michelzinho, um deputado Luiz Vuitton para a esposa Marcela e 200 deputados de baixo clero e alto custo para si mesmo. E assim sobreviveu à segunda denúncia, gostemos ou não. Com menos votos do que na primeira, é verdade, mas conseguiu se manter no cargo e lá ficará até o final do mandato ― ou até que sobrevenha uma nova denúncia que tenha resultado diverso das anteriores. Até porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já mandou arquivar os 25 pedidos de impeachment contra Temer ― não sem deixar claro que o peemedebista lhe deve um favorzão pelo apoio empenhado nas duas votações (tire o leitor suas próprias conclusões).

Na avaliação do jornalista J.R. Guzzo, quem deveria ter feito o “Fora Temer”, anos atrás, era Lula. Não fez. Agora não adianta. Quando menos se espera que o presidente permaneça no cargo, segundo o que dizem dia e noite os analistas políticos, é aí que ele fica mais grudado que nunca na poltrona presidencial. As votações envolvendo a primeira e a segunda denúncia foram um duplo espetáculo de perda abusiva de tempo e de enganação em massa do público. Até porque a oposição sabe perfeitamente que nada do que está fazendo vai resultar em alguma coisa prática. Mas finge liderar uma epopeia nas “lutas populares” e afirma que seu objetivo real era fazer o governo “sangrar”, sem explicar que diabo a população teria a se beneficiar com isso. Não ganham porque não têm os votos necessários, não têm o apoio nem de meia dúzia de cidadãos de carne e osso dispostos a protestar na rua e não têm, por fim, a razão, pois seu objetivo não é obter justiça e sim derrubar um inimigo político.

Todo esse processo foi uma farsa grosseira, pois Temer e Lula são a mesma coisa. A gestão do peemedebista nada mais é que o “terceiro tempo” dos governos petistas, que focaram em roubar os brasileiros como nunca antes na história deste país ― aliás, nunca ninguém governou o Brasil tão mal quanto Dilma, e dificilmente alguém virá a governar. Fora isso, qual a diferença entre Lula e Temer? Lula, na verdade, é pior, pois foi ele que gestou a situação que está aí. O fato é que não existiria Temer nenhum se Lula não tivesse imposto seu nome para vice-presidente na chapa de Dilma, momento em que foi considerado, mais uma vez, um gênio político pela mídia e por todos os que hoje se horrorizam com o presidente que ele nos enfiou reto acima. Quem deveria ter feito o verdadeiro “Fora Temer”, muitos anos atrás, eram Lula e o PT. Agora é tarde.

Voltando ao placar da votação da segunda denúncia ― que o deputado Carlos Marun, líder da tropa de choque do presidente, considerou uma “vitória de lavada” e comemorou em grande estilo; vi pela televisão a cena ridícula em que ele, com a graça e a leveza de um hipopótamo, ensaiou uns passinhos de dança pra lá de idiotas ―, o os míseros 251 votos deixaram claro que o governo dificilmente conseguirá aprovar a reforma da Previdência e outras mais, tão necessárias para o país entrar nos eixos. Para o povo, fica mais uma vez a sensação de ter sido feito de palhaço, de que tudo não passou de um acordão, de que tudo acabou em pizza.

Por ser minoria e, portanto, incapaz de derrotar o Planalto, a oposição resolveu obstruir a votação ― o que se justificou à luz das negociatas que aconteceram nos bastidores. Mas, convenhamos: mesmo que tivesse logrado êxito, o único resultado que esse atraso produziria seria manter o país paralisado por mais alguns dias ou semanas, com mais danos à economia. Já os puxa-saco do presidente deram seguidas demonstrações do baixo nível da nossa política, ora falando bobagens ao microfone ― sobre o cultivo da tilápia ou as qualidades do vinho nacional ―, ora dando show de grosserias ― como aquele deputado que horas antes viralizara no plenário em um vídeo pornô em plena atividade sexual.

Em última análise, a votação foi um exemplo de hipocrisia política, com deputados do PT ou PCdoB criticando o governo por fragilizar nossas estatais e supostamente entregar nossas riquezas ao estrangeiro, como se não fossem os responsáveis pelo descalabro acontecido na Petrobras e companhia. Ou deputados governistas atacando as gestões petistas anteriores pela corrupção desavergonhada, como se não estivessem ali para discutir justamente as graves acusações de corrupção do governo que apoiam. Pouquíssimos parlamentares passaram a sensação de que são verdadeiros representantes do povo que os elegeu, de que respeitam seus mandatos e estão ali pensando nos interesses da nação.

De acordo com Merval Pereira, os tucanos foram os principais responsáveis pela salvação de Temer, notadamente pelo relatório de Bonifácio de Andrada ― o “nosso relator”, como se referiam a ele os integrantes da tropa de choque do Planalto. Os elogios que o macróbio recebeu dos governistas não podiam ser compartilhados com boa parte da bancada tucana, que votou contra o presidente ― e muito menos com a maioria de seus eleitores ―, mas os ataques oposicionistas contra o relatório eram ataques contra o partido que representava, queira ou não a alta cúpula do PSDB.  

Ainda que a vitória do Planalto tenha gerado menos instabilidade do que uma eventual derrota ― até porque o mercado já “precificou” Michel Temer ―, no dia seguinte á votação o IBOVESPA recuou mais de 1%, e o dólar acompanhou o exterior e encostou em R$ 3,30. O fato de Temer ter obtido 12 votos a menos, se não chega a enfraquecê-lo, certamente exigirá esforços redobrados para aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano. Pelo andar da carruagem, Temer ― que, segundo os resultados das últimas pesquisas, goza de míseros 3% de aprovação popular ―, se sobreviver até as próximas eleições, dificilmente terá cacife político para eleger seu sucessor.

Por hoje é só, pessoa. Amanhã tem mais.

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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

TEMER, O PATÉTICO

Temer, homem de letras e poeta desde os verdes anos, endereçou, no final de 2015, uma carta à ex-presidente (de nada saudosa memória) Dilma Rousseff, reclamando, dentre outras coisas, de ser um “vice decorativo”. Quando a anta foi devidamente penabundada e ele ocupou seu posto, prometeu um ministério de notáveis que recolocaria o país nos trilhos e o entregaria recuperado a seu sucessor, em janeiro de 2019. No entanto, bastou assumir a presidência para se aliar ao que há de pior na política tupiniquim e se cercar de ministros e assessores de reputação duvidosa. Seu grande articulador político, o senador Romero Jucá, responde a 13 inquéritos, oito dos quais oriundos da Lava-Jato. Nos últimos 17 meses, viu seus ministros caírem feito moscas, à medida que os mais estarrecedores indícios de corrupção eram trazidos à luz pela Lava-Jato e seus desdobramentos.

Como sua predecessora ― e Lula antes dela ―, Temer insiste que nunca soube de nada ― discurso estapafúrdio que manteve até mesmo depois de sua conversa com Joesley Batista, gravada à sorrelfa pelo próprio moedor de carne bilionário, ser publicada em O Globo pelo jornalista Lauro Jardim.  Além de negar os fatos (boa parte deles incontestáveis), sua insolência disse com todas as letras que “a investigação no STF seria o território onde aflorariam as provas de sua inocência”. Ato contínuo, passou a mover mundos e fundos (principalmente fundos) para barrar as denúncias da PGR.

Agora, com apenas 3% de aprovação popular, mas mais do que nunca agarrado ao cargo ― talvez pela aterradora perspectiva de perder a prerrogativa de foro ―, Temer envia uma missiva aos parlamentares que decidirão o destino da segunda denúncia contra si e dois de seus acólitos, na qual fala em “conspiração” para derrubá-lo. Referindo-se à delação de Lúcio Funaro, preso na Lava-Jato, diz-se “vítima de torpezas e vilezas” e se vale de uma entrevista concedida por Eduardo Cunha ― seu suposto comparsa em boa parte dos atos espúrios de que é acusado ― para criticar a PGR.

Observação: Curiosamente, Lula, Temer e tantos outros enrolados na Justiça rechaçam sistematicamente o conteúdo das delações, quando este lhes é desfavorável, mas o tomam como a quintessência da verdade quando vem ao encontro de seus interesses.

Temer inicia a carta falando de sua “indignação” e diz que, por isso, decidiu se dirigir aos parlamentares, apesar de muitos o aconselharem a não se pronunciar. “Para mim é inadmissível. Não posso silenciar. Não devo silenciar. Tenho sido vítima desde maio de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais rapidamente, têm vindo à luz. Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis”.

Parte inferior do formulário
O presidente tece duras críticas ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que estaria mancomunado com Joesley Batista ― que não se furtou a receber num encontro cordial, mas a quem agora se refere como “delinquente” ― com o objetivo de “derrubar o presidente da República”. Reitera que é “vítima de uma campanha implacável com ataques torpes e mentirosos, que visam a enlamear seu nome e prejudicar a República”, diz estar “indignado” por “ser vítima de gente tão inescrupulosa” e afirma que “todos esses episódios estão sendo esclarecidos” ― aliás, nada muito diferente do que prometeu quando sua conversa com Joesley veio a público, lembram-se? Fica então a pergunta: por que tanto medo de a investigação seguir adiante?

Os fatos estão aí; a conclusão fica por conta de cada um.


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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

LEIA UM TRECHO DA COLUNA DE MÍRIAM LEITÃO ― E DEPOIS, JOGUE-SE DEBAIXO DE UM TREM!



 “Não bastou ao relator [Bonifácio de Andrada] propor a rejeição da denúncia contra Temer. Ele estendeu sua defesa a Lula e Dilma. Disse que não há nada contra nenhum dos três. Culpados, na visão do deputado, são apenas o Ministério Público e a Polícia Federal. Formou-se uma grande aliança em que um tucano tenta criar uma barreira de proteção em torno do presidente e dos ex-presidentes.

A se fiar no relatório de Bonifácio, que vem prestando serviços aos governos desde o regime militar, tudo o que o Brasil tem vivido nos últimos tempos são apenas ‘ações espetaculosas’. Segundo ele, na denúncia, ‘a Presidência não é tratada com referida deferência que o cargo requer’. Quem não tratou a Presidência com o respeito que o cargo exige foi quem teve com um investigado pela Justiça, Joesley Batista, uma conversa como a que o presidente Temer teve naquela noite. Em mais uma inversão dos fatos, os investigadores é que são acusados de não respeitar a Presidência, e não o ocupante do cargo”.



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domingo, 1 de outubro de 2017

QUE SITUAÇÃO!


Mesmo no limite da credibilidade, a caterva política faz de conta que está por cima da carne-seca. Tivessem os eleitores um mínimo de esclarecimento ― e vergonha na cara ―, nenhum dos sacripantas que aí estão sobreviveria às próximas eleições.

O espírito de corpo do Senado em defesa de Aécio Neves é mais uma cuspida no olho da sociedade. Curiosamente, ninguém sai às ruas para protestar. Aliás, a votação da primeira denúncia contra Temer no plenário da Câmara ― uma escandalosa marmelada protagonizada pela tropa de choque do presidente ― também passou ilesa, encorajando os baba-ovos do Planalto a afirmar, como falassem a um bando de boçais, que “não existe isso de comprar votos para barrar a denúncia, que as emendas parlamentares contemplam igualmente a todos, independentemente de apoiarem ou não o presidente”. Com o perdão da má palavra, excelências, vão fazer pouco caso da inteligência do povo na puta que os pariu!

Cientes de que precisam se livrar do estigma da corrupção, alguns partidos apostam na renovação. Mas isso não significa exigir de seus filiados que abandonem os maus hábito, até porque o lobo perde o pelo, mas não perde o vício. O que se pretende é fazer uma recauchutagem meramente cosmética: o PEN, que abriga o famigerado Jair Bolsonaro, passa a se chamar Patriotas ― ou PAB, de Pátria Amada Brasil; o PTN passa a atender por Podemos; o PTdoB, por Avante... e por ai vai.

Valer-se do apelo do “novo” é uma prática antiga. Em 1937, Getúlio Vargas criou o Estado Novo; em 1990, Collor se elegeu pelo nanico PRN (Partido da Renovação Nacional) como artífice de um “Brasil novo”. E os resultados são o que se sabe. Em meio a esse salseiro ― e faltando um ano para as eleições ―, o que, exatamente, há de novo no front?

― Pelo PTLula, o embusteiro, que tenta requentar a velha farsa de 2002 chamando para o picadeiro o picareta Renan Calheiros?

― Pela Rede, Marina Silva, a insuportável ―, com sua cara de maracujá de gaveta e suas frases torturadas até o desfalecimento?

― Pelo PSC, Bolsonaro, o extremista, cujas promessas são música para os ouvidos peludos dos trogloditas?

― Pelo PMDBRodrigo Maia, o Bolinha da Câmara, que pose de aliado do Planalto, mas não vê a hora de puxar o tapete do chefe Michel?

― Pelo PSDBAlckmin, o eterno picolé de chuchu, que vem sendo derretido dia após dia pelo “novato” João Doria?

Joaquim Barbosa? Luciano Huck? Eles não estão no páreo, mas, segundo o Ideia Big Data, o ex-ministro do STF aparece com 34% das intenções de voto, e o apresentador de TV, com 31%.

Na contramão da democracia e em defesa do retrocesso, “generais-tipo-mourão” acenam com uma intervenção militar para pôr fim à crise ética e político-institucional. Escusado reproduzir a fala do estrelado, que teve espaço em todos os noticiários nos últimos 15 dias. Lembro somente que há mais de 30 anos não se ouvia um militar de alta patente dizer algo parecido.

Nenhum nenhum colosso da nossa vida pública deu um pio. Como observou o jornalista J.R. Guzzo em sua coluna em Veja da semana passada “nem os ministros do Supremo, que passam dia e noite baixando bulas de excomunhão contra o mundo em geral e entre si próprios, foram capazes de abrir a boca”. E fizeram eco ao silêncio das autoridades as lideranças populares, os intelectuais de grande porte, os formadores de opinião, etc. Talvez porque é mais fácil gritar “Fora Temer” do que “Fora, general”, ou escrever editoriais, cheios de indignação e fúria cívicas, exigindo a demissão de tal ministro, punições para soldados da PM e transparência no futebol quando se fazem gols com o braço.

Mourão não foi uma voz isolada nem sua fala se deu de forma casual, na churrascaria ou no balcão do bar da esquina. Antes de discursar numa loja maçônica em Brasília, o general havia participado de um encontro do Alto Comando do Exército, que contou com a presença de 16 generais de 4 estrelas, o que torna suas palavras públicas e configura uma violação ao Regulamento Disciplinar do Exército. Mesmo assim, não houve qualquer punição.

Se nossa claudicante democracia resistir até as próximas eleições, teremos fortes emoções; reserve já o seu camarote, pois a disputa promete ser interessante ― quando nada, porque escolhas erradas são uma especialidade brasileira.

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sábado, 30 de setembro de 2017

É POR ESSAS E OUTRAS...


A tramitação da segunda denúncia contra Michel Temer já teve início, e deverá proporcionar não somente um espetáculo circense tão lastimável quando o anterior, mas também idêntico resultado, pois o indigesto deputado Carlos Marun, chefe da tropa de choque do Planalto, já vem cooptando as marafonas da Câmara. Então, a pergunta não é se a denúncia vai passar ou não, mas quanto bilhões o seu arquivamento custará aos cofres públicos.

Na conjuntura atual, a substituição do Vampiro do Jaburu pelo Bolinha da Câmara ou outro colosso da nossa política talvez fizesse mais mal do que bem, por mais difícil que seja aturar a figura do presidente e o ramerrão de seus acólitos ― que, como Dilma durante o impeachment e Lula desde os tempos do Mensalão, tentam defender o indefensável. Além disso, a (pífia) recuperação da economia ― que só comprova que o Brasil avança a despeito do governo que tem, e não graças a ele ― não autoriza um presidente impopular a escancarar ainda mais o rombo nas contas públicas para barrar um processo cuja instauração ele próprio defendeu ― para quem não se lembra, quando sua conversa com Joesley veio a público, Temer disse que a investigação no Supremo seria o território onde surgiriam as provas de sua inocência.

Uma análise isenta e desapaixonada do cenário ― volto a lembrar que aqui não se defende este ou aquele político por simpatia a este ou aquele partido ou ideologia; aqui se pugna pela punição dos corruptos para o bem do país ― leva à conclusão de que o governo de Michel Temer produziu alguns resultados positivos, Para ficar apenas nos exemplos mais notórios, a despeito de apenas 3,5% da população aprovar o atual governo, nos últimos 16 meses o risco Brasil recuou de 400 pontos para 180, a SELIC baixou de 14,25% para 8,25%; a inflação atingiu o menor patamar em duas décadas e o PIB, o consumo das famílias e o saldo anualizado de admissões e demissões apresentaram resultados positivos (pífios, mas inegáveis).

A despeito das evidências de corrupção, o afastamento de Michel Temer a um ano das eleições ― e pouco mais de 14 meses do final do seu mandato tampão ― talvez fizesse mais mal do que bem: a instalação de um processo criminal ― desta vez pelo STF ―, a assunção de Rodrigo Maia ― que precisaria negociar nova maioria parlamentar e a subsequente disputa em torno do processo sucessório ―, a deliberação sobre como seria a eleição ― porque não há precedente e o respectivo preceito constitucional nunca foi regulamentado ― e a retração das atividades econômicas ― inevitável diante da instabilidade política, pois a mera expectativa de crise leva a bolsa a despencar e o dólar a se valorizar em relação ao real ― agravariam ainda mais a crise política e minariam os frágeis sustentáculos da incipiente recuperação da economia.

Por essas e outras, por mais que queiramos a punição dos corruptos ― sejam eles Lula, Dilma, Aécio, Temer, Padilha, Moreira Franco, Gleisi, DirceuCalheiros, Maluf, Collor, e por aí vai o cortejo suprapartidário de imprestáveis ―, talvez seja melhor (ou menos pior) que Temer seja processado e julgado após o término de seu mandato. A propósito, vale lembrar que a decisão da Câmara em barrar a abertura do inquérito não “sepulta” a denúncia ― embora essa expressão seja largamente utilizada na mídia ―, apenas adia a instauração da ação penal. É certo que Temer jamais dará uma desculpa convincente para a mala de dinheiro de Rodrigo Rocha Loures ou para os R$ 51 milhões encontrados no bunker de Geddel Vieira Lima ― pessoas de sua mais estrita confiança, que passaram de integrantes do primeiro escalão do seu governo a hóspedes do sistema prisional tupiniquim ―, até porque não dá para explicar o inexplicável.

Resta ao presidente continuar desempenhando seu papel ― com uma fleuma de dar inveja a lordes ingleses ― de inocente injustiçado, fingir que está governando o país e continuar tentando por todos os meios desqualificar a denúncia, Janot e o MPF e barrar a investigação, enquanto sua defesa busca respaldo na tese estapafúrdia de que o cancelamento da delação da JBS passa uma borracha em tudo ― das conversas espúrias às provas documentais apresentadas pelos irmãos Batista, Ricardo Saud e distintíssima companhia ― e sua tropa de choque atua nos bastidores para granjear os 172 votos que lhe garantirão sobrevida à derradeira flechada de Janot.

Observação: A rigor, Temer não precisa de voto algum, mas apenas impedir que a oposição consiga 342 votos pelo aceitamento da denúncia.

Resumo da ópera: A permanência de Temer no cargo é um desserviço ao país, pois, como Dilma em 2016, tudo o que ele tem feito ultimamente é lutar para continuar presidente, às favas com os interesses do país. As reformas estão em compasso de espera, mas isso se deve também ao fato de os 513 deputados e 2/3 dos 81 senadores disputarão eleições no ano que vem, e votar emendas impopulares a esta atura do campeonato é suicídio político. Nem mesmo a reforma política ― na qual os principais interessados são os próprios parlamentares ― será votada a tempo de valer para o próximo pleito ― com exceção de uma ou outra medida que viando o financiamento de suas campanhas milionárias, deputados e senadores deixarão para retomar o assunto quando ― e se ― forem reeleitos. Já o presidente Michel Miguel Elias Temer Lulia, que aspirava a ser lembrado como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento”, entrará para a história como o chefe da quadrilha do PMDB na Câmara, como o primeiro presidente denunciado por crime comum no exercício do cargo e como o mais impopular chefe de governo de toda a nossa história.

É certo que o Brasil não merece ser presidido por alguém com um currículo desses ― embora os eleitores que votaram nessa caterva mereçam castigo ainda pior. Como diz um velho adágio, BETTER THE DEVIL YE KEN, THAN THE DEVIL YE DON'T (numa tradução livre, “melhor ficarmos com o diabo que conhecemos”).

Encerro por aqui. Que cada qual tire as próprias conclusões.

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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

HOMENAGEM À PRIMAVERA



A primavera começa oficialmente às 17h02min desta sexta-feira. Em homenagem à estação das flores, relembro o inesquecível Cartola e sua igualmente inesquecível “As rosas não falam” ― que você pode ouvir no clipe abaixo (ou seguindo este link).

Disse o poeta que “as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti”. No contexto atual, no entanto, se pensarmos no antro de ladrões em que se transformou a capital da República, existe o risco do cheiro da podridão ser insuportável.

Para não ficar só nisso, o STF autorizou a remessa da derradeira denúncia de Janot contra o presidente da Banânia. O rito a ser seguido será o mesmo da anterior, mas já começamos com adiamentos. Nesta manhã, dos 513 deputados que integram a Câmara Federal, havia apenas 2 marcaram presença, e como a leitura da denúncia ― ato essencial para que o processo tenha andamento na Casa ― exige quórum de pelo menos 51 parlamentares, o troço vai ficar para a próxima terça-feira, se tudo correr bem.

O resultado, imagina-se, será o mesmo da primeira denúncia. Resta saber isso vai nos custar, pois Temer vai precisar molhar a mão dos proxenetas e marafonas do Parlamento para obter os 172 votos de que precisa para barrar a abertura do inquérito no STF.

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O DESTINO DE TEMER NAS MÃOS DOS PROXENETAS DO PARLAMENTO. OUTRA VEZ.

O mundo dá voltas, a história se repete, e quem não aprende com os erros do passado está fadado a tornar a cometê-los indefinidamente.

Há pouco mais de um mês, assistimos a um espetáculo circense de quinta categoria, protagonizado na Câmara Federal, que teve como apoteose o sepultamento da denúncia contra o presidente Michel Temer ― que gastou bilhões de reais para saciar o apetite pantagruélico dos proxenetas do Parlamento e suas quengas amestradas. Ao que tudo indica, teremos um repeteco, ainda que com produção mais pobre, porque já não dinheiro para o governo pagar o michê das marafonas. Mas o resultado deverá ser o mesmo.

No início da noite da última quarta-feira, a ministra Cármen Lúcia suspendeu a sessão que decidia se a segunda e derradeira flechada de Janot contra Temer será submetida à Câmara, onde os parlamentares já estão se mobilizando para escolher relator e membros da CCJ ― e os “presentinhos” que querem ganhar em troca de livrar o rabo do presidente da Banânia.

Especulava-se que 4 ministros poderiam votar a favor da defesa ― que pugna pela suspensão da denúncia até que sejam esclarecidos os indícios de irregularidade envolvendo as delações da JBS/J&F ―, mas, dentre os que já se posicionaram, somente o inevitável Gilmar Mendes divergiu do relator.

Dias Toffoli discordou em parte, com base na convicção de que a denúncia não pode ser aceita caso se baseie em fatos ocorridos antes de Temer assumir a presidência ― mas disse que falava “em tese”, e não quis analisar o mérito, pois o relator tampouco o fizera. Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes seguiram integralmente o voto de Fachin, estabelecendo uma maioria a favor de enviar a denúncia ― embora tenham manifestado suas preocupações com os “desvios” das delações premiadas.

A votação será retomada na tarde de hoje, quando os ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e a presidente Carmem Lucia devem proferir seus votos ― e, espera-se, acompanhar a maioria. Mesmo assim, quatro ministros potencialmente divergentes antecipam o próximo embate no plenário da Corte, sobre a possibilidade de anulação das provas das delações, especialmente os áudios da JBS. O tema não estava em discussão na sessão de ontem, mas Gilmar Mendes, o supremo, não se furtou a suscitar a questão ― e só não conseguiu levar o debate adiante porque Carmem Lucia lembrou-o de que o tema não estava na pauta, embora reconhecesse que o Supremo tem um encontro marcado com o assunto. A propósito, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que os novos áudios da JBS revelam desvio de finalidade na colaboração, e que, em tese, isso poderia até mesmo levar à anulação total ― tanto do acordo quanto das provas.

Pelo visto, o próximo embate no STF já está definido.

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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

STF NEGA PEDIDO DE SUSPEIÇÃO CONTRA JANOT

A maioria dos ministros do STF decidiu pela rejeição do pedido feito pela defesa do presidente Michel Temer para seja declarada a suspeição de Rodrigo Janot nas investigações relacionadas ao presidente. Antes de chegar ao plenário, o pedido havia sido rejeitado monocraticamente pelo ministro Edson Fachin. Todos os ministros presentes ― Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Cármen Lúcia ― votaram contra o afastamento do procurador-geral (Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes não participam da sessão). 

Ao apresentar defesa no caso, Janot ―  que não compareceu à audiência, talvez por estar ultimando as providências para apresentar a segunda denúncia contra Temer ― disse que as acusações da defesa do presidente são “meras conjecturas” e que atua com imparcialidade no caso que envolve sua insolência.

A defesa de Temer parece ter se inspirado na de Lula, que chorou as pitangas até na ONU por conta da suposta “perseguição” do juiz Sérgio Moro. Mas isso não passa de pirotecnia, ou, como se diz no âmbito do Direito, de jus sperniandi. Quando não se tem como defender o indefensável, acusa-se o acusador para tentar desqualificar a acusação.

Falando em Lula, a informação mais recente é de que seu depoimento teve início às 14h15. É a segunda vez que ele fica frente à frente com o juiz Moro, e sua situação atual é ainda pior do que na vez anterior (no processo sobre o tríplex, em que o molusco acabou condenado a 9 anos e 6 meses de prisão). Em seu depoimento, na quarta-feira feira da semana passada, o “cumpanhêro” Antonio Palocci informou que havia “pacto de sangue” entre a Odebrecht e o PT, que incluía presentes pessoais, palestras de R$ 200 mil pagas a Lula e uma reserva de R$ 300 milhões que ficaram disponíveis para o petralha e para campanhas do partido.

Amanhã a gente fala mais sobre essa audiência.

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terça-feira, 5 de setembro de 2017

CRONÓGRAFO COM PONTEIROS DESSINCRONIZADOS... (PARTE IV)

HÁ TRÊS COISAS NA VIDA QUE NÃO VOLTAM JAMAIS: A FLECHA LANÇADA, A PALAVRA DITA E A OPORTUNIDADE PERDIDA.

Diferentemente dos relógios fabricados até os anos 60/70, os modelos atuais são, em sua maioria, resistentes à água (water resist). Isso significa que você pode lavar as mãos ou tomar uma chuva moderada sem danificá-los, mas para tomar banho ou lavar o carro com um deles no pulso, só mesmo se ele for à prova d'água (water proof).

Essa informação vem gravada no fundo da caixa (tampa) e, em alguns modelos, também no mostrador. Por uma questão de marketing, no entanto, os fabricantes “carregam nas tintas” e identificam relógios que suportam apenas respingos de água como WR 30m (ou 100ft, ou 3atm), sugerindo que o usuário não só possa entrar com eles na piscina ou no mar como também mergulhar a profundidades de até 30 metros ― o que só seria seguro com modelos identificados como WR 50M (ou 165ft, ou 5 atm).

Observação: Na água, a pressão aumenta à razão de uma atmosfera a cada 10 metros de profundidade; quanto maior a pressão, maior o risco de o líquido penetrar pela junção do vidro com a caixa, pelo retentor da tige (“eixo” da coroa) ou pela tampa traseira do relógio. Veja mais detalhes sobre estanqueidade na tabela que ilustra esta postagem.

A rigor, para praticar esportes aquáticos (nadar ou mergulhar sem tanque de ar), convém investir num modelo WR 100m (ou 300ft, ou 10atm), de preferência com coroa rosqueada. Claro que não há problema em tomar banho de chuveiro ou banheira com um relógio desses no pulso, mas convém evitar mergulhá-lo em água muito quente. Sauna, então, nem pensar, pois a diferença de temperatura entre o ambiente e o ar no interior da caixa resulta em condensação (formação de gotículas) e pode danificar o mecanismo, especialmente nos modelos à quartzo, que são alimentados por bateria.

Note que nem os relógios indicados para mergulho estão livres dos efeitos da água salgada. O oxigênio presente nas moléculas de água propicia a oxidação do metal, e o sal acelera ainda mais esse processo. Mesmo que a caixa seja de aço, ouro, titânio, os fechos e pinos da pulseira não são inoxidáveis, e, portanto, estão sujeitos à corrosão.


Continuamos no próximo capítulo.

TEMER X JANOT ― E VIVA O POVO BRASILEIRO

Temer diz não estar preocupado com a nova denúncia que Janot deve apresentar dentro de mais alguns dias e que virá robustecida com novas informações de Joesley Batista e do operador do PMDB na Câmara, Lucio Funaro. Diz estar seguro de que a acusação será inepta e que sua preocupação é “levar o Brasil adiante”, pautando e aprovando a reforma da previdência, à semelhança do que já ocorreu com a PEC dos gastos e a reforma trabalhista. Mas isso é conversa fiada, como comprova a antecipação de seu retorno da China, a despeito da justificativa oficial, que é acompanhar a votação da meta fiscal. Ademais, o Planalto está longe de contar com o apoio parlamentar necessário à aprovação de propostas de emenda constitucional, que exigem o mínimo de 308 votos.

Se Temer não estivesse preocupado com a denúncia, por que sua defesa teria pedido a suspensão da acusação até que o STF julgue a suspeição de Rodrigo Janot para atuar em casos contra ele? Aliás, voltado a pedir, porque o pedido havia sido feito originalmente no mês passado, mas Fachin o rejeitou monocraticamente, e ele foi reapresentado na última sexta-feira, juntamente com um agravo regimental que postula a suspensão da denúncia que ainda nem chegou.

Para barrar a denúncia anterior, o presidente moveu mundos e fundos (principalmente fundos), mas conseguiu sensibilizar apenas 263 dos 513 deputados. Agora o buraco é mais embaixo; primeiro, porque novos fatos ― como a confirmação de Funaro ter recebido dinheiro para ficar calado e que o Temer não só tinha conhecimento do esquema, mas também o apoiava ― tornaram a segunda acusação ainda mais robusta que a anterior.

O circo já está sendo montado: enquanto o Planalto chama Joesley Batista de “grampeador-geral da República”, o empresário chama Temer de “ladrão geral da República”, diz que ele é uma vergonha para os brasileiros, que a colaboração premiada é um direito que o presidente tem por dever respeitar, e que atacar os colaboradores só evidencia sua incapacidade de se defender dos crimes de que é acusado. Já o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, encarregado da defesa do presidente, diz que Parte inferior do formulário Joesley não merece resposta em face de seu comportamento absolutamente reprovável, e que a resposta foi dada pela Câmara com a rejeição da primeira denúncia. Sob a justificativa de que a “segunda delação de Funaro apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes”, o causídico afirma que seu cliente se reserva o direito de não tratar de “ficções e invenções" de quem quer que seja.

De acordo com O Estado, a delação do operador do PMDB da Câmara ― ou de Temer, como preferem alguns ― não atinge não apenas o Planalto, mas também diversas figuras de expressão no PMDB. Segundo Merval Pereira, a segunda denúncia não só será mais robusta como também deverá corroborar a anterior. Mas o que importa mesmo nessa pantomima é se o governo terá condições de comprar os proxenetas da Câmara com verbas, cargos, etc., já que não honrou tudo que prometeu da primeira vez, e agora não há dinheiro para prometer mais nada.

O fato é que, se o processo for adiante, não será pela gravidade da denúncia, mas porque o Temer não tem mais o que oferecer aos deputados mercenários em troca de seu apoio. Diante desse cenário estapafúrdio, não surpreende que, a pouco mais de um ano das próximas eleições, a onda de rejeição a políticos e autoridades públicas, até recentemente limitada ao Executivo e ao Legislativo, tenha se estendido também ao Judiciário e Ministério Público. Pesquisa Ipsos mostra que, nos últimos meses, houve um aumento significativo na desaprovação popular a ministros do Supremo e até ao juiz Sérgio Moro ― que ainda é majoritariamente aprovado pela sociedade, mas cuja taxa de rejeição atingiu o nível mais alto em dois anos.

Essa é, lamentavelmente, a nossa realidade política. 

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

COMO EVITAR GOLPES ONLINE ― FINAL

O CACHORRO É O MELHOR AMIGO DO HOMEM PORQUE NÃO CONHECE O DINHEIRO.

Para concluir esta sequência sobre segurança, mais algumas dicas:

Ao receber um link por email, mensagem instantânea ou rede social, pouse o ponteiro do mouse sobre ele ― via de regra, isso faz com que o caminho completo seja exibido. Se você reconhecer o domínio do seu banco, por exemplo, pode ser que a mensagem seja legítima. Mesmo assim, não deixe de fazer pesquisa no Google, mas preste muita atenção, pois as páginas falsas podem ser bem parecidas com as verdadeiras.

Se o logo do banco e/ou as indicações de seus serviços aparecerem no meio de uma página branca, por exemplo, ou “boiando” no meio de uma borda que tenta imitar a cor usada no site verdadeiro, pode ter certeza de que o troço é mesmo falso ― ou seja, o cibervigarista explorou uma vulnerabilidade do SQL e dos serviços do ISS para fazer com que o endereço da homepage do banco aponte para a página falsa (o pior é que isso pode ser feito de maneira surpreendentemente simples). 

Se o nome que aparece no e-mail é o nome verdadeiro da instituição ou domínio que ela utiliza, copie o link suspeito na barra de outro navegador (Firefox, Opera, etc.) e atente para o endereço exibido no pé da página. Se não bater, é maracutaia.

Desconfie de links terminados em .exe ou .bat (extensões que designam arquivos executáveis ou programas que podem fazer downloads muito rápidos e infectar sua máquina com trojans ou keyloggers). Para tirar a limpo, copie o URL da página na caixa de pesquisa do Google, faça o download do arquivo ― mas não o abra ―  e cheque-o com seu antivírus. Se nada for detectado, repita a verificação com o VIRUSTOTAL ou o URLVOID, que checam os endereços com diversos serviços ao mesmo tempo.

ObservaçãoSe você usa o Mozilla Firefox, uma boa ideia é instalar as extensões Long URL please ― que substitui a maior parte dos URLs encurtados pelos originais, facilitando a identificação do destino ― e o URL Tollpit ― que mostra o destino do link quando o ponteiro do mouse é pousado sobre ele.  
Os links encurtados ― muito populares entre usuários do Twitter ― se popularizaram também em BlogsWebpages e até na mídia impressa (como sabem que lê as publicações da Editora Abril, por exemplo). O problema é que, depois de abreviados (http://zip.net/bntFJp, por exemplo), eles não oferecem nenhum indício que permita identificar seu endereço “real”. Em casos assim, vale recorrer ao SUCURI, que checa a segurança tanto em links encurtados quanto normais.

Observação: Para checar os links com os serviços sugeridos linhas acima, é preciso informar o URL suspeito no campo de buscas do site. Como é mais fácil copiar do que digitar o endereço, caractere por caractere, é preciso tomar cuidado para não abrir o link por descuido. Para evitar, dê um clique direito sobre o link em questão e, no menu suspenso, escolha a opção Copiar atalhoCopiar Link ou Copiar endereço do link (o nome varia conforme o navegador). Em seguida, posicione o ponteiro do mouse dentro da caixa de busca, dê outro clique direito e selecione a opção Colar (ou simplesmente pressione o atalho Ctrl+V).

Sites como ExpandMyURLKnowurl LongUrl convertem links encurtados em convencionais e, em alguns casos, informam também se a página é segura. Dependendo do serviço usado no encurtamento do link, você pode obter mais informações introduzindo o URL reduzido na barra de endereços do navegadoracrescentando um sinal de adição (+) e teclando Enter.

Boa sorte.

SIMPLES ASSIM

O Brasil está falido porque o governo gasta mais do que arrecada. Qualquer dona de casa sabe que as despesas domésticas não podem superar a renda da família. O governo, não. A expectativa era de fechar 2017 com um déficit de R$ 139 bilhões. Como a arrecadação ficou abaixo, o governo, em vez de cortar gastos, simplesmente elevou a meta fiscal para escandalosos R$ 159 bi. A conta das despesas deveria ser de subtração, mas virou multiplicação. Seria o mesmo que a nossa dona de casa, em vez de apertar o cinto ao constatar que iria sobrar mês no fim do salário, negociasse um aumento nos limites do cartão de crédito e do cheque especial. Simples assim.

O rombo fiscal não foi criado por Michel Temer. Ele é fruto da incompetência administrativa da gerentona de festim. Mas o governo Temer nada mais é do que o terceiro tempo do governo Dilma, e os ratos continuam roendo, os corruptores corrompendo, os corruptos se locupletando e a máquina pública gastando à larga para sustentar um Estado incompetente, perdulário e corrupto. Simples assim.

No Rio de Janeiro, há 200 mil servidores vivendo da caridade de parentes ou morrendo por não ter como comprar medicamentos ou receber atendimento médico. Na UERJ, a penúria é tanta que se estende ao refeitório e aos banheiros. Professores e alunos, sem aula e sem perspectiva, assistem estupefatos o governador Pezão ― que não pagou o 13º salário de 2016 e nem os salários e aposentadorias de maio, junho por falta de recursos ― torrar R$ 2,5 milhões no aluguel de um jatinho para “ter mais conforto” ao viajar com sua equipe. O Rio é apenas mais um exemplo de um sistema político falido. No âmbito federal, o Planalto liberou R$ 5,7 bilhões para emendas de parlamentares em troca da fidelidade a um presidente sem autoridade moral para colocar o país nos trilhos. Simples assim.

Na terça-feira retrasada, o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo registrou R$ 1,3 trilhão em tributos pagos pelos brasileiros. A marca foi alcançada 22 dias mais cedo que em 2016, demonstrando que arrecadação acelerou de um ano para outro ― ou, em outras palavras, que o rombo no bolso dos consumidores ficou maior. Um trilhão de reais é dinheiro pra burro. Aliás, o Brasil tem a maior carga tributária em toda América Latina ― proporcionalmente, o montante é mais de 50% superior à média da região. O problema é que aqui se rouba muito, e o pouco dinheiro que escapa é usado para bancar mordomias absurdas.

De acordo com a ONG Contas Abertas, o Poder Legislativo ― isto é, a Câmara Federal e o Senado ― custa aos brasileiros R$ 1,16 milhão por hora, 24 horas por dia, 365 dias por ano ― aí incluídos os finais de semana, recessos parlamentares e as segundas e sextas-feiras, embora os parlamentares trabalhem somente de terça a quinta. Cada parlamentar recebe um salário bruto de R$ 33,7 mil. Os 513 deputados federais custam, em média, R$ 86 milhões ao mês, o que representa um custo anual de R$ 1 bilhão. E ainda contam com uma porção de mordomias, como o direito a uma penca de assessores ― um senador pode ter 50, 60 apaniguados, inclusive no seu próprio escritório de representação. E o que fazem nossos “caros” representantes quando o presidente da República é denunciado por corrupção? Vendem seus votos descaradamente, como prostitutas que comercializam o corpo nas zonas de baixo meretrício. E o que fazem na hora de votar as tão necessárias reformas? Cuidam de seus próprios interesses, buscando maneiras de obstruir as investigações da Lava-Jato, de aprovar leis que os favoreçam na renegociação de dívidas ― como no caso vergonhoso do REFIS, que virou palco de disputas políticas por um perdão de R$ 220 bilhões. Simples assim.

Observação: Deputados e senadores que integram a “bancada do Refis” devem cerca de R$ 3 bilhões à União, como revelou a Folha em abril. Liderado pelo deputado peemedebista Newton Cardoso Jr, o bando pôs em xeque o Ministério da Fazenda no último dia 9. O senador Fernando Coelho Bezerra foi o porta-voz da bancada, que entregou uma lista com seis “prioridades inegociáveis”, a fatura a ser paga em troca de 54 votos contrários à admissibilidade da denúncia contra Michel TemerR$ 13,8 bilhões, em 2017. A bancada quer manter a ampliação do limite de R$ 15 milhões para R$ 150 milhões em dívidas que permitem uma entrada menor (5%) no ato da adesão (emenda apresentada por um deputado que tem dívidas de R$ 53 milhões), a manutenção de descontos de juros e mora (chegam a 99% em alguns casos), a permissão para que devedores que respondem a processos criminais por questões tributárias possam ser contemplados pelo programa e que devedores excluídos de Refis anteriores por pagamentos irrisórios sejam reinseridos no novo programa. Simples assim.

A divergência de opiniões entre o núcleo político e a equipe econômica aniquilou o maior trunfo do atual governo ― o time de especialistas supostamente descolado dos tradicionais hábitos brasilienses. O desgaste pessoal de Henrique Meirelles começou a se acentuar ainda na fase de resistência à ampliação oficial do rombo ― ao anunciar o aumento dos impostos sobre combustíveis, ele quebrou um pacto não escrito com seus principais eixos de sustentação, o empresariado e o mercado financeiro. E o Planalto agravou o problema ao abrir o pacote de bondades que construiu sua ponte para a sobrevivência. Até quem não considera a revisão da meta um desastre, caso de Raul Velloso, especialista em contas públicas, faz a conexão: “Emendas são gastos obrigatórios em que não se consegue mexer. Mas acreditar que o governo de plantão não vai usar o orçamento em benefício próprio é muita ingenuidade. Seria suicídio. E a última coisa que esse governo é, é suicida”. Simples assim!

O rombo da meta moral é a outra face dessa mesma moeda. O déficit dos políticos com a população cresceu astronomicamente após as duas votações ― na CCJ e no plenário da Câmara ― da denúncia contra Michel Temer. Todos sabiam ― ou deveriam saber, ainda que alguns deputados não passem de ilustres imbecis ― que não lhes cabia condenar ou absolver o presidente, mas autorizar o Supremo a investigá-lo. Mesmo assim, resolveram mandar às favas a opinião pública ― 81% da população querem que Temer seja investigado ―, ignorar o maior escândalo de corrupção já surgido contra um presidente da República no exercício do cargo e impedir o curso da Justiça, talvez por medo da sentença do Supremo e também para salvar o próprio rabo.

A sociedade não se esquecerá de que partidos e parlamentares da situação e da oposição barraram uma investigação legítima e necessária. O próprio Temer, no atordoado pronunciamento que fez à nação depois que sua conversa de alcova com o moedor de carne bilionário veio a público, disse que ansiava pelo inquérito no STF, pois seria o território onde surgiriam as provas de sua inocência. Mas sua insolência mudou de ideia e optou pelo caminho mais fácil ― mais fácil ainda porque quem paga a fatura, como sempre, é o contribuinte. Simples assim.

Haveria muito mais a dizer, mas o tempo é curto e a paciência do leitor tem limites. Particularmente, se pudesse, eu muraria o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a Esplanada dos Ministérios, encheria d’água como uma banheira monumental e jogaria dentro dela centenas de secadores de cabelo ligados numa rede de 220v. Simples assim. 

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