Mesmo no limite da credibilidade, a caterva política faz de
conta que está por cima da carne-seca. Tivessem os eleitores um mínimo de
esclarecimento ― e vergonha na cara ―, nenhum dos sacripantas que aí estão sobreviveria
às próximas eleições.
O espírito de corpo do Senado em defesa de Aécio Neves é mais uma cuspida no olho
da sociedade. Curiosamente, ninguém sai às ruas para protestar. Aliás, a votação
da primeira denúncia contra Temer no
plenário da Câmara ― uma escandalosa marmelada protagonizada pela tropa de
choque do presidente ― também passou ilesa, encorajando os baba-ovos do
Planalto a afirmar, como falassem a um bando de boçais, que “não existe isso de comprar votos para
barrar a denúncia, que as emendas parlamentares contemplam igualmente a todos,
independentemente de apoiarem ou não o presidente”. Com o perdão da má
palavra, excelências, vão fazer pouco caso da inteligência do povo na puta que
os pariu!
Cientes de que precisam se livrar do estigma
da corrupção, alguns partidos apostam na renovação. Mas isso não
significa exigir de seus filiados que abandonem os maus hábito, até porque o lobo perde o pelo, mas não
perde o vício. O que se pretende é fazer uma recauchutagem meramente cosmética: o PEN, que abriga o famigerado Jair Bolsonaro, passa a se chamar Patriotas ― ou PAB, de Pátria Amada Brasil; o PTN passa a atender por Podemos; o PTdoB, por Avante... e por ai vai.
Valer-se do apelo do “novo” é uma prática antiga. Em 1937, Getúlio
Vargas criou o Estado
Novo; em 1990, Collor se elegeu pelo nanico PRN (Partido
da Renovação Nacional) como artífice de um “Brasil novo”. E os resultados são o que se sabe. Em meio a esse salseiro ― e faltando um ano para as eleições ―, o que, exatamente, há de novo no front?
― Pelo PT, Lula, o embusteiro, que
tenta requentar a velha farsa de 2002 chamando para o picadeiro o
picareta Renan Calheiros?
― Pela Rede, Marina Silva, a insuportável
―, com sua cara de maracujá de gaveta e suas frases torturadas até o
desfalecimento?
― Pelo PSC, Bolsonaro, o extremista,
cujas promessas são música para os ouvidos peludos dos trogloditas?
― Pelo PMDB, Rodrigo Maia, o Bolinha da Câmara, que pose de aliado do
Planalto, mas não vê a hora de puxar o tapete do chefe Michel?
― Pelo PSDB, Alckmin, o eterno
picolé de chuchu, que vem sendo derretido dia após dia pelo “novato” João
Doria?
― Joaquim Barbosa?
Luciano Huck? Eles não estão no
páreo, mas, segundo o Ideia Big Data,
o ex-ministro do STF aparece com 34%
das intenções de voto, e o apresentador de TV, com 31%.
Na contramão da democracia e em defesa do retrocesso,
“generais-tipo-mourão” acenam com uma intervenção militar para pôr fim à crise ética
e político-institucional. Escusado reproduzir a fala do estrelado, que teve
espaço em todos os noticiários nos últimos 15 dias. Lembro somente que há
mais de 30 anos não se ouvia um militar de alta patente dizer algo
parecido.
Nenhum nenhum colosso da nossa vida pública deu um pio. Como observou o jornalista J.R. Guzzo em sua coluna em Veja da semana passada “nem os ministros do Supremo, que passam dia e noite baixando bulas de excomunhão contra o mundo em geral e entre si próprios, foram capazes de abrir a boca”. E fizeram eco ao silêncio das autoridades as lideranças populares, os intelectuais de grande porte, os formadores de opinião, etc. Talvez porque é mais fácil gritar “Fora Temer” do que “Fora, general”, ou escrever editoriais, cheios de indignação e fúria cívicas, exigindo a demissão de tal ministro, punições para soldados da PM e transparência no futebol quando se fazem gols com o braço.
Nenhum nenhum colosso da nossa vida pública deu um pio. Como observou o jornalista J.R. Guzzo em sua coluna em Veja da semana passada “nem os ministros do Supremo, que passam dia e noite baixando bulas de excomunhão contra o mundo em geral e entre si próprios, foram capazes de abrir a boca”. E fizeram eco ao silêncio das autoridades as lideranças populares, os intelectuais de grande porte, os formadores de opinião, etc. Talvez porque é mais fácil gritar “Fora Temer” do que “Fora, general”, ou escrever editoriais, cheios de indignação e fúria cívicas, exigindo a demissão de tal ministro, punições para soldados da PM e transparência no futebol quando se fazem gols com o braço.
Mourão não foi
uma voz isolada nem sua fala se deu de forma casual, na churrascaria ou no balcão do bar da esquina. Antes de discursar numa loja maçônica em
Brasília, o general havia participado de um encontro do Alto Comando do Exército, que contou com a presença de 16 generais
de 4 estrelas, o que torna suas palavras públicas e configura uma violação ao Regulamento Disciplinar do Exército. Mesmo assim, não houve qualquer punição.
Se nossa claudicante democracia resistir até as próximas
eleições, teremos fortes emoções; reserve já o seu camarote, pois a disputa
promete ser interessante ― quando nada, porque escolhas erradas são uma
especialidade brasileira.
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