A tramitação da segunda denúncia contra Michel Temer já teve início, e deverá proporcionar não somente um
espetáculo circense tão lastimável quando o anterior, mas também idêntico
resultado, pois o indigesto deputado Carlos Marun, chefe da tropa de choque do
Planalto, já vem cooptando as marafonas da Câmara. Então, a pergunta não é se a denúncia vai passar ou não, mas quanto bilhões o seu arquivamento custará aos
cofres públicos.
Na conjuntura atual, a substituição do Vampiro do Jaburu pelo Bolinha
da Câmara ou outro colosso da nossa política talvez fizesse mais mal do que
bem, por mais difícil que seja aturar a figura do presidente e o ramerrão de
seus acólitos ― que, como Dilma
durante o impeachment e Lula desde
os tempos do Mensalão, tentam defender o indefensável. Além disso, a (pífia) recuperação da economia ― que só comprova
que o Brasil avança a
despeito do governo que tem, e não graças a ele ― não autoriza
um presidente impopular a escancarar ainda mais o rombo nas contas públicas para
barrar um processo cuja instauração ele próprio defendeu ― para quem não se
lembra, quando sua conversa com Joesley
veio a público, Temer disse que a investigação no Supremo seria o território
onde surgiriam as provas de sua inocência.
Uma análise isenta e desapaixonada do cenário ― volto a
lembrar que aqui não se defende este ou aquele político por simpatia a este ou
aquele partido ou ideologia; aqui se pugna pela punição dos corruptos para o
bem do país ― leva à conclusão de que o governo de Michel Temer produziu
alguns resultados positivos, Para ficar apenas nos exemplos mais notórios, a
despeito de apenas 3,5% da população aprovar o atual governo, nos últimos 16
meses o risco Brasil recuou de 400 pontos para 180, a SELIC baixou de 14,25%
para 8,25%; a inflação atingiu o menor patamar em duas décadas e o PIB, o
consumo das famílias e o saldo anualizado de admissões e demissões apresentaram
resultados positivos (pífios, mas inegáveis).
A despeito das evidências de corrupção, o afastamento de Michel Temer a um ano das eleições ― e pouco
mais de 14 meses do final do seu mandato tampão ― talvez fizesse mais mal do
que bem: a instalação de um processo criminal ― desta vez pelo STF ―, a assunção de Rodrigo Maia ― que precisaria negociar
nova maioria parlamentar e a subsequente disputa em torno do processo
sucessório ―, a deliberação sobre como seria a eleição ― porque não há
precedente e o respectivo preceito constitucional nunca foi regulamentado ― e a
retração das atividades econômicas ― inevitável diante da instabilidade
política, pois a mera expectativa de crise leva a bolsa a despencar e o dólar a
se valorizar em relação ao real ― agravariam ainda mais a crise política e
minariam os frágeis sustentáculos da incipiente recuperação da economia.
Por essas e outras, por mais que queiramos a punição dos
corruptos ― sejam eles Lula, Dilma, Aécio, Temer, Padilha, Moreira Franco, Gleisi, Dirceu, Calheiros, Maluf, Collor, e por aí
vai o cortejo suprapartidário de imprestáveis ―, talvez seja melhor (ou menos
pior) que Temer seja processado e
julgado após o término de seu mandato. A propósito, vale lembrar que a decisão
da Câmara em barrar a abertura do inquérito não “sepulta” a denúncia ― embora
essa expressão seja largamente utilizada na mídia ―, apenas adia a instauração da
ação penal. É certo que Temer jamais dará uma desculpa convincente
para a mala de dinheiro de Rodrigo Rocha Loures ou para
os R$ 51 milhões encontrados no bunker de Geddel Vieira Lima
― pessoas de sua mais estrita confiança, que passaram de integrantes do
primeiro escalão do seu governo a hóspedes do sistema prisional tupiniquim ―,
até porque não dá para explicar o inexplicável.
Resta ao presidente continuar desempenhando seu papel ― com
uma fleuma de dar inveja a lordes ingleses ― de inocente injustiçado, fingir
que está governando o país e continuar tentando por todos os meios desqualificar
a denúncia, Janot e o MPF e barrar a investigação, enquanto
sua defesa busca respaldo na tese estapafúrdia de que o cancelamento da delação
da JBS passa uma borracha em tudo ―
das conversas espúrias às provas documentais apresentadas pelos irmãos Batista, Ricardo Saud e distintíssima companhia ― e sua tropa de choque atua
nos bastidores para granjear os 172 votos que lhe garantirão sobrevida à
derradeira flechada de Janot.
Observação: A rigor, Temer não precisa de voto algum, mas apenas impedir que a oposição
consiga 342 votos pelo aceitamento da denúncia.
Resumo da ópera: A permanência de Temer no cargo é um desserviço ao país, pois, como Dilma em 2016, tudo o que ele tem feito
ultimamente é lutar para continuar presidente, às favas com os interesses do
país. As reformas estão em compasso de espera, mas isso se deve também ao fato
de os 513 deputados e 2/3 dos 81 senadores disputarão eleições no ano que vem,
e votar emendas impopulares a esta atura do campeonato é suicídio político. Nem
mesmo a reforma política ― na qual os principais interessados são os próprios
parlamentares ― será votada a tempo de valer para o próximo pleito ― com exceção
de uma ou outra medida que viando o financiamento de suas campanhas milionárias,
deputados e senadores deixarão para retomar o assunto quando ― e se ― forem
reeleitos. Já o presidente Michel Miguel
Elias Temer Lulia, que aspirava a ser lembrado como “o cara que recolocou o
Brasil nos trilhos do crescimento”, entrará para a história como o chefe da quadrilha do PMDB na Câmara, como o primeiro presidente denunciado
por crime comum no exercício do cargo e como o mais impopular chefe de governo
de toda a nossa história.
É certo que o Brasil não merece ser presidido por alguém com
um currículo desses ― embora os eleitores que votaram nessa caterva mereçam
castigo ainda pior. Como diz um velho adágio, BETTER THE DEVIL YE KEN, THAN THE DEVIL
YE DON'T (numa tradução livre, “melhor ficarmos com o diabo que
conhecemos”).
Encerro por aqui. Que cada qual tire as próprias conclusões.
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