Para quem não sabe, “vitória
pírrica” é uma expressão usada para designar uma vitória obtida a alto custo,
potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Sua origem remonta à Grécia Antiga e faz alusão às perdas
sofridas pelo exército do Rei Pirro,
que derrotou os romanos na Batalha de
Heracleia, em 280 a.C., mas perdeu uma parte considerável forças que
trouxera consigo, além de quase todos os seus amigos íntimos e principais
comandantes. A despeito do viés militar, o uso dessa expressão é comum também
na economia, política, justiça, literatura, arte e desporto, sempre para
descrever uma luta prejudicial ao vencedor.
Como disse o jornalista José
Simão, dias antes de votação na Câmara o presidente foi ao Shopping Congresso e comprou um deputado de Lego para o filho Michelzinho, um deputado Luiz Vuitton para a esposa Marcela e 200 deputados de
baixo clero e alto custo para si mesmo. E assim sobreviveu à segunda denúncia,
gostemos ou não. Com menos votos do que na primeira, é verdade, mas conseguiu
se manter no cargo e lá ficará até o final do mandato ― ou até que sobrevenha
uma nova denúncia que tenha resultado diverso das anteriores. Até porque o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já
mandou arquivar os 25 pedidos de impeachment contra Temer ― não sem deixar claro que o peemedebista lhe deve um
favorzão pelo apoio empenhado nas duas votações (tire o leitor suas próprias
conclusões).
Na avaliação do jornalista J.R. Guzzo, quem deveria ter feito o “Fora Temer”, anos atrás, era Lula.
Não fez. Agora não adianta. Quando menos se espera que o presidente permaneça
no cargo, segundo o que dizem dia e noite os analistas políticos, é aí que ele
fica mais grudado que nunca na poltrona presidencial. As votações envolvendo a
primeira e a segunda denúncia foram um duplo espetáculo de perda abusiva de
tempo e de enganação em massa do público. Até porque a oposição sabe perfeitamente
que nada do que está fazendo vai resultar em alguma coisa prática. Mas finge
liderar uma epopeia nas “lutas populares” e afirma que seu objetivo real era
fazer o governo “sangrar”, sem explicar que diabo a população teria a se
beneficiar com isso. Não ganham porque não têm os votos necessários, não têm o
apoio nem de meia dúzia de cidadãos de carne e osso dispostos a protestar na rua
e não têm, por fim, a razão, pois seu objetivo não é obter justiça e sim
derrubar um inimigo político.
Todo esse processo foi uma farsa grosseira, pois Temer e Lula são a mesma coisa. A gestão do peemedebista nada mais é que o “terceiro
tempo” dos governos petistas, que focaram em roubar os brasileiros como nunca
antes na história deste país ― aliás, nunca ninguém governou o Brasil tão mal
quanto Dilma, e dificilmente alguém
virá a governar. Fora isso, qual a diferença entre Lula e Temer? Lula, na verdade, é pior, pois foi ele
que gestou a situação que está aí. O fato é que não existiria Temer nenhum se Lula não tivesse imposto seu nome para vice-presidente na chapa de Dilma, momento em que foi considerado,
mais uma vez, um gênio político pela mídia e por todos os que hoje se
horrorizam com o presidente que ele nos enfiou reto acima. Quem deveria ter
feito o verdadeiro “Fora Temer”,
muitos anos atrás, eram Lula e o PT. Agora é tarde.
Voltando ao placar da votação da segunda denúncia ― que o
deputado Carlos Marun, líder da
tropa de choque do presidente, considerou uma “vitória de lavada” e comemorou
em grande estilo; vi pela televisão a cena ridícula em que ele, com a graça e a
leveza de um hipopótamo, ensaiou uns passinhos de dança pra lá de idiotas ―, o os
míseros 251 votos deixaram claro que o governo dificilmente conseguirá aprovar
a reforma da Previdência e outras mais, tão necessárias para o país entrar nos
eixos. Para o povo, fica mais uma vez a sensação de ter sido feito de palhaço,
de que tudo não passou de um acordão, de que tudo acabou em pizza.
Por ser minoria e, portanto, incapaz de derrotar o Planalto,
a oposição resolveu obstruir a votação ― o que se justificou à luz das
negociatas que aconteceram nos bastidores. Mas, convenhamos: mesmo que tivesse
logrado êxito, o único resultado que esse atraso produziria seria manter o país
paralisado por mais alguns dias ou semanas, com mais danos à economia. Já os
puxa-saco do presidente deram seguidas demonstrações do baixo nível da nossa política,
ora falando bobagens ao microfone ― sobre o cultivo da tilápia ou as qualidades
do vinho nacional ―, ora dando show de grosserias ― como aquele deputado que
horas antes viralizara no plenário em um vídeo pornô em plena atividade sexual.
Em última análise, a votação foi um exemplo de hipocrisia
política, com deputados do PT ou PCdoB criticando o governo por
fragilizar nossas estatais e supostamente entregar nossas riquezas ao
estrangeiro, como se não fossem os responsáveis pelo descalabro acontecido na
Petrobras e companhia. Ou deputados governistas atacando as gestões petistas
anteriores pela corrupção desavergonhada, como se não estivessem ali para
discutir justamente as graves acusações de corrupção do governo que apoiam. Pouquíssimos
parlamentares passaram a sensação de que são verdadeiros representantes do povo
que os elegeu, de que respeitam seus mandatos e estão ali pensando nos
interesses da nação.
De acordo com Merval
Pereira, os tucanos foram os principais responsáveis pela salvação de Temer, notadamente pelo relatório de Bonifácio de Andrada ― o “nosso relator”,
como se referiam a ele os integrantes da tropa de choque do Planalto. Os elogios
que o macróbio recebeu dos governistas não podiam ser compartilhados com boa
parte da bancada tucana, que votou contra o presidente ― e muito menos com a
maioria de seus eleitores ―, mas os ataques oposicionistas contra o relatório
eram ataques contra o partido que representava, queira ou não a alta cúpula do PSDB.
Ainda que a vitória do Planalto tenha gerado menos
instabilidade do que uma eventual derrota ― até porque o mercado já “precificou”
Michel Temer ―, no dia seguinte á
votação o IBOVESPA recuou mais de
1%, e o dólar acompanhou o exterior e encostou em R$ 3,30. O fato de Temer ter obtido 12 votos a menos, se
não chega a enfraquecê-lo, certamente exigirá esforços redobrados para aprovar
a reforma da Previdência ainda neste ano. Pelo andar da carruagem, Temer ― que, segundo os resultados das
últimas pesquisas, goza de míseros 3% de aprovação popular ―, se sobreviver até
as próximas eleições, dificilmente terá cacife político para eleger seu
sucessor.
Por hoje é só, pessoa. Amanhã tem mais.
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