Temer, homem de
letras e poeta desde os verdes anos, endereçou, no final de 2015, uma carta à
ex-presidente (de nada saudosa memória) Dilma
Rousseff, reclamando, dentre outras coisas, de ser um “vice decorativo”. Quando
a anta foi devidamente penabundada e ele ocupou seu posto, prometeu um
ministério de notáveis que recolocaria o país nos trilhos e o entregaria recuperado
a seu sucessor, em janeiro de 2019. No entanto, bastou assumir a presidência
para se aliar ao que há de pior na política tupiniquim e se cercar de ministros
e assessores de reputação duvidosa. Seu grande articulador político, o senador Romero Jucá, responde a 13 inquéritos,
oito dos quais oriundos da Lava-Jato. Nos últimos 17 meses, viu seus ministros
caírem feito moscas, à medida que os mais estarrecedores indícios de corrupção eram
trazidos à luz pela Lava-Jato e seus
desdobramentos.
Como sua predecessora ― e Lula antes dela ―, Temer
insiste que nunca soube de nada ― discurso estapafúrdio que manteve até mesmo
depois de sua conversa com Joesley
Batista, gravada à sorrelfa pelo próprio moedor de carne bilionário, ser
publicada em O Globo pelo jornalista
Lauro Jardim. Além de negar os fatos (boa parte deles
incontestáveis), sua insolência disse com todas as letras que “a investigação no STF seria o território
onde aflorariam as provas de sua inocência”. Ato contínuo, passou a mover
mundos e fundos (principalmente fundos) para barrar as denúncias da PGR.
Agora, com apenas 3% de aprovação popular, mas mais do que
nunca agarrado ao cargo ― talvez pela aterradora perspectiva de perder a prerrogativa de foro ―, Temer envia uma missiva aos parlamentares que
decidirão o destino da segunda denúncia contra si e dois de seus acólitos, na
qual fala em “conspiração” para
derrubá-lo. Referindo-se à delação de Lúcio
Funaro, preso na Lava-Jato, diz-se “vítima
de torpezas e vilezas” e se vale de uma entrevista concedida por Eduardo Cunha ― seu suposto comparsa em
boa parte dos atos espúrios de que é acusado ― para criticar a PGR.
Observação: Curiosamente, Lula, Temer e tantos
outros enrolados na Justiça rechaçam sistematicamente o conteúdo das delações,
quando este lhes é desfavorável, mas o tomam como a quintessência da verdade
quando vem ao encontro de seus interesses.
Temer inicia a
carta falando de sua “indignação”
e diz que, por isso, decidiu se dirigir aos parlamentares, apesar de muitos o
aconselharem a não se pronunciar. “Para
mim é inadmissível. Não posso silenciar. Não devo silenciar. Tenho sido vítima
desde maio de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais
rapidamente, têm vindo à luz. Jamais poderia acreditar que houvesse uma
conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me
convenceram. E são incontestáveis”.
O presidente tece duras críticas ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que estaria mancomunado
com Joesley Batista ― que não se
furtou a receber num encontro cordial, mas a quem agora se refere como “delinquente” ― com o objetivo de “derrubar o presidente da República”. Reitera
que é “vítima de uma campanha implacável
com ataques torpes e mentirosos, que visam a enlamear seu nome e prejudicar a
República”, diz estar “indignado”
por “ser vítima de gente tão
inescrupulosa” e afirma que “todos
esses episódios estão sendo esclarecidos” ― aliás, nada muito diferente do
que prometeu quando sua conversa com Joesley
veio a público, lembram-se? Fica então a pergunta: por que tanto medo de a
investigação seguir adiante?
Os fatos estão aí; a conclusão fica por conta de cada um.
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