Todo cidadão honesto que tem uma causa na justiça deseja,
acima de tudo, que o processo ande o mais rápido possível. Se a pessoa está com
a consciência tranquila em relação aos atos que praticou, por que iria querer
algo diferente? No Brasil, todavia, há, neste preciso momento, um homem que
deseja exatamente o contrário, que reclama de, no seu caso, a Justiça estar
indo rápido demais. Quem já ouviu falar de uma coisa dessas?
Há 500 anos existe neste país uma certeza acima de qualquer
outra: do presidente do STF ao mais ordinário
rábula de porta de cadeia, todo mundo acha que um dos problemas mais repulsivos
do Brasil é a morosidade da Justiça. Justiça que tarda não é justiça, ouvimos
desde o jardim da infância: só os ricos, os poderosos e os culpados tiram
proveito de processos que se vão arrastando até o Dia do Juízo Universal.
Lula deveria ser
100% a favor de uma Justiça rápida e simples ― a única que atende aos
interesses do cidadão comum, sobretudo dos mais pobres. Mas não. É ele,
justamente ele, o homem que está fazendo hoje uma campanha inédita pela lentidão
da Justiça.
Lula, como se
sabe, é réu em 7 processos e foi condenado num deles a 9 anos e 6 meses de
prisão, em junho passado. Recorreu da sentença ao TRF-4, que acaba de marcar para 27 de janeiro de 2018 o julgamento
do apelo. O que poderia haver de errado nisso? Eis aí, afinal, um exemplo claro
de magistrados que trabalham com rapidez, que cumprem seu dever junto ao
público e que não aceitam o adiamento eterno das sentenças. Mas Lula e todo séquito de imprestáveis
ficaram imediatamente indignados. Acham que o Tribunal está “andando depressa
demais”, que outros casos levaram mais tempo para ser julgados, que o certo
seria jogar tudo para as calendas gregas.
Não dá para entender. Os mais de seis meses transcorridos
entre a condenação e o julgamento do apelo não bastariam para esclarecer tudo? Isso
sem mencionar o tempo que seus advogados tiveram para defendê-lo, entre a aceitação
da denúncia e o julgamento pelo juiz Sérgio
Moro. Essa novela vai completar um ano e meio daqui a pouco, será que não
chega?
Mais que isso, enfim, há a questão que não quer calar: é
incompreensível que Lula não aceite
ser julgado o mais cedo possível se, como ele próprio já disse em público
tantas vezes, nunca cometeu crime algum, e que não existe no Brasil alma viva
mais honesta do que ele. É igualmente lamentável que demonstre, também, mais
uma vez seu total desprezo pelas “instituições” de que tanto fala. As leis, as
eleições, as decisões da Justiça, as votações no Congresso, enfim, só são boas
quando são a seu favor. Quando não, é tudo golpe, armação e ódio ao povo
brasileiro. Em suma: só é legítimo, nesta Banânia, o que Lula aprova.
Sua insolência, cada vez mais, parece trancar-se num mundo
escuro, onde só existem sua própria voz, sua própria vontade e seus próprios
interesses. A lógica e os fatos, há muito que deixaram de existir. Ainda outro
dia, no Rio de Janeiro, num comício para militantes do PT, o pulha saiu-se com a seguinte pérola: “O Rio não merece que governantes que foram eleitos democraticamente
pelo povo estejam presos porque roubaram dinheiro público”. Como assim?
Estaria o molusco abjeto lamentando a prisão de Garotinho e Cabral? Por
que esses “eleitos democraticamente”, e por que duvidar logo em seguida, e por
duas vezes, se houve mesmo corrupção no Rio? “Eu nem sei se é verdade”, repetiu
Lula.
Logo foram dadas explicações. Lula foi mal interpretado, pode ter se atrapalhado um pouco com as
palavras, mas, como tanta gente, estava triste com o que vem acontecendo no
Estado. Tudo bem, mas só ele, em todo o Brasil, duvida que o ex-governador
Sérgio Cabral ― já condenado a 72 anos de prisão e com outros 13 processos pela
proa ― seja o maior ladrão que governou o Rio desde Estácio de Sá, conforme
comprovado pela Justiça. E também não dá mais para apagar o que Lula disse a respeito do dito-cujo: “Votar
em Sérgio Cabral é uma obrigação ética, moral e política”. Está-se vendo.
Lula, já há muito
tempo, decretou que só existem no seu passado os fatos que lhe interessam.
PARA QUEM NÃO LÊ AS ENTRELINHAS: O comandante máximo da ORCRIM pretendia arrastar sua candidatura até setembro, com chicanas jurídicas no STJ, no STF e no TSE. Se ele fosse cassado, transferiria uma parte de seus votos para o poste Jaques Warner. A rapidez do desembargador Gebran, porém, desarmou esse golpe, porque o discurso vitimista de Lula vai esfriar até o início da campanha eleitoral. Além disso, o pulha corre o risco de ser preso ― e, com isso, tornar-se um cabo eleitoral ainda mais tóxico. O PT tem de refazer seus planos. Rapidamente.
PARA QUEM NÃO LÊ AS ENTRELINHAS: O comandante máximo da ORCRIM pretendia arrastar sua candidatura até setembro, com chicanas jurídicas no STJ, no STF e no TSE. Se ele fosse cassado, transferiria uma parte de seus votos para o poste Jaques Warner. A rapidez do desembargador Gebran, porém, desarmou esse golpe, porque o discurso vitimista de Lula vai esfriar até o início da campanha eleitoral. Além disso, o pulha corre o risco de ser preso ― e, com isso, tornar-se um cabo eleitoral ainda mais tóxico. O PT tem de refazer seus planos. Rapidamente.
Com J.R. Guzzo.
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