Em mais um texto brilhante, o jornalista J.R. Guzzo pondera que, de todas as
ameaças que, segundo os grandes cérebros nacionais, de Fernando Henrique a Fernanda
Lima, o futuro governo de Jair
Bolsonaro traz para o Brasil, a pior provavelmente é a única que não foi
citada até hoje por nenhum deles. É pior que o regime fascista a ser inaugurado
no dia 1º de janeiro de 2019, com o massacre de homossexuais, mulheres, negros,
índios, povos da floresta, povos das águas, etc. É pior que a falta de espaço
para as “pessoas razoáveis” viverem neste país. É pior que mais alguns milhares
de problemas que ainda nem sabemos quais são. Pior que tudo isso junto, na
verdade, é a possibilidade de que Bolsonaro
acabe não fazendo nada do que prometeu e que quase 60 milhões de brasileiros
estão esperando que ele faça. Aí sim: se não entregar a mercadoria que vendeu,
ou entregar produto de segunda, em quantidade abaixo da esperada e com atraso,
o Brasil vai levar um choque.
A maioria da população, conforme ficou decidido no dia 28 de
novembro, não quer apenas outras pessoas no governo federal. Quer outro
governo. Quer que o Brasil seja governado de uma maneira que não tem nada a ver
com a dos últimos 30 anos. Quer que sejam eliminados os problemas concretos de
uma lista bem conhecida. Não quer ouvir do governo que “está difícil”. Quer
soluções. Não está com paciência para ouvir desculpas.
O principal adversário do futuro governo Bolsonaro, assim, será ele próprio. O
problema real não estará na oposição dentro do Congresso, na mídia ou no meio
político. Não estará nos intelectuais das universidades de “ciências humanas”.
Não estará na comunidade internacional, na ONU e nos seus guerrilheiros de
escritório com ar condicionado em Nova York ou Genebra. A grande batalha a ser
ganha, a que vai resolver realmente as coisas, será em torno da capacidade
concreta, por parte do governo, de executar os seus projetos. Ou ele tem essa
capacidade ou não tem. Se tiver, haverá mudanças de verdade — e logo. Se não tiver, por motivos que
podem ir de discórdias
internas à simples
incompetência,
muito pouca coisa vai mudar.
Aí fica complicado. Não dará para engatar uma marcha-a-ré,
pois o Brasil acaba de deixar claro que não quer voltar para onde esteve — pegou
um “fartão” sério
em relação ao
esquerdismo inepto, burro e larápio
dos governos Lula-Dilma. Também não vai dar para ficar
atolado e dizer que a estrada está
ruim. Em resumo: ou muda mesmo ou perde a parada.
A área econômica, como sempre, será decisiva. Depois da
monstruosa recessão de três anos que o PT
impôs ao Brasil, com 14 milhões de desempregados, a devastação nas contas
públicas e uma opção mortal pelo subdesenvolvimento, as mudanças terão de ser
muito claras e muito rápidas. Vive-se, hoje, um momento de fabricação intensiva
de dúvidas — não se perde nenhuma
oportunidade para anunciar desastres iminentes, ruinosos e definitivos.
O foco, em grande parte, é colocado no anunciado ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele não se entende com
outros barões da equipe. Vai viver em choque com o Congresso. Anuncia coisas
contraditórias, ou desautorizadas por Bolsonaro. Fala demais. O novo governo,
sem dúvida, não precisa ter no comando da economia um homem que funciona como
armazém de ideias; precisa como ar e água, isso sim, de um operador, de alguém
que resolva problemas práticos, de um produtor talentoso de resultados. Precisa
de alguém que transforme em realidade prática as decisões econômicas do
comando. Guedes pode dar certo? Vamos ver logo. Essas coisas costumam ficar
claras bem rápido.
É um ótimo sinal, de qualquer forma, que praticamente todos
os nomes apontados até agora para o primeiro escalão, a partir de Sergio Moro, sejam de primeira classe — não se viu uma equipe comparável, nem de longe, nos governos dos últimos 30 anos. Não resolve, claro. Mas é muito melhor que o
contrário.