QUEM FALA DEMAIS DÁ BOM DIA A CAVALOS.
Embora o assunto fuja ao nosso trivial, resolvi dedicar algumas linhas a uma questão levantada por um leitor quando discutíamos a evolução do motor de combustão interna do Ciclo
Otto, objeto de uma extensa sequência de postagens publicadas final do ano passado.
Numa das postagens, eu disse que a força (leia-se potência e o torque) é produzida pelo motor a partir da conversão da energia
calorífica do combustível na energia cinética que é despejada nas rodas
motrizes, e que a gasolina (ou o álcool) introduzida, comprimida e inflamada na câmara de explosão precisa ser misturada com uma certa
quantidade ar, já que a combustão não ocorre quando não há oxigênio (detalhes nesta
postagem).
Diante disso, um leitor me escreveu ponderando que não existe oxigênio no
espaço sideral, e mesmo assim o Sol é
uma “bola de fogo”. De fato, mas acontece que a combustão envolvendo
oxigênio não é o único processo que libera energia. No Sol, o “fogo” resulta de fusão nuclear, embora até não muito tempo atrás os cientistas acreditassem que ele fosse proveniente da contração gravitacional (transformação da energia
potencial gravitacional em energia térmica pela contração do astro celeste).
Observação: Trocando
em miúdos, na fusão nuclear dois núcleos atômicos se juntam, formando um outro
núcleo de maior número atômico. Esse processo requer muita energia para
acontecer, mas geralmente libera uma quantidade de energia muitas vezes maior
do que a que consome.
Aproveitando o embalo: se o Sol produz energia suficiente para iluminar e aquecer os demais
astros do nosso sistema (em maior ou menor grau, dependendo da distância), por
que enxergamos o espaço como uma imensa tela negra?
Para entender isso melhor, imagine que você entra num quarto
escuro e acende a luz. Nesse caso, os fótons emitidos pela lâmpada se espalham pelas
paredes e demais objetos, refletindo a luz que seus olhos capturam e seu
cérebro converte nas imagens que você vê. No espaço, dá-se o mesmo com os astros ditos iluminados (ou
seja, que não têm luz própria). Eles se tornam visíveis porque refletem a luz do Sol na
direção do observador. Mas o vácuo, por ser um grande vazio, não reflete
coisa nenhuma, daí as imagens gravadas a partir da Lua pelos astronautas do projeto Apollo mostrarem o espaço como uma imensa tela preta.
Já o céu, visto da terra como um manto azul, não por refletir a cor
dos oceanos e como muita gente imagina, mas devido à dispersão da luz solar pela
da camada de gases que compõem a atmosfera. A luz trafega em ondas minúsculas, e pende para o branco, pois mistura
todas as cores visíveis — do infravermelho ao ultravioleta, que podemos visualizar
separadamente através de um prisma ou quando há um arco-íris no céu (cada uma
dessas cores corresponde a uma onda com um determinado comprimento). Quando alcança
a Terra, a luz do Sol “esbarra” na
atmosfera, onde minúsculas partículas produzem uma espécie de reflexo. Se o
objeto iluminado e a luz tem comprimentos de onda compatíveis, parte da energia luminosa é absorvida, fazendo com que as cargas vibrem e emitam novamente
a radiação.
Por terem os menores comprimentos de onda, as nuances do azul, que são compatíveis com as pequenas partículas que compõem a atmosfera, absorvem a luz e a refletem,
fazendo com que o céu pareça azulado durante a maior parte do dia — ao entardecer, a luz do Sol chega à Terra num ângulo mais oblíquo, diluindo
a fração de azul a tal ponto que ela deixa de ser visível, e aí enxergarmos somente
os tons mais vermelhos, que, por terem um comprimento de onda maior, se
espalham menos. Já à noite, quando a rotação da Terra nos priva da incidência direta da luz solar, o firmamento é negro como breu, mas pontinhados de miríades de estrelas e outros astros luminosos e iluminados. Infelizmente, a poluição e as luzes das grandes cidades impedem-nos de desfrutar esse espetáculo da natureza.
A propósito: a poluição do ar nas grandes cidades também influencia a cor do céu. Quanto mais partículas em suspensão na atmosfera —
além das que fazem parte dela, naturalmente —, maior a vermelhidão no
pôr-do-sol. Já em Marte a cor do céu
varia do laranja ao avermelhado, graças à atmosfera rarefeita e às partículas
de poeira presentes nela.