quinta-feira, 30 de abril de 2020

QUANDO A ÁSIA DÁ AZIA



Os conhecimentos que a maioria de nós têm da China se resumem em o país ficar na Ásia, ter a maior população do mundo, ser uma ditadura comunista e figurar entre as mais remotas escolhas dos brasileiros (de posse) quando se trata de viagem de férias. Alguns de nós, inclusive, associa chinês a pastelaria (ou a pastel de gato), contrabando, produtos xing-ling e que tais. De fevereiro para cá, porém esse conceito pouco elogioso (para não dizer preconceituoso) piorou, na medida em que se soube que a sétima maior cidade chinesa foi o criadouro e epicentro da disseminação do SARS-CoV-2.

Ainda não ficou claro como ocorreu a mutação que originou o “novo coronavírus”. Sabe-se, porém, que até a manhã de ontem a Covid-19 havia infectado cerca de 3 milhões de pessoas em todo o mundo e matado mais de 200 mil — no Brasil, em números redondos, eram 70 mil contágios e 5 mil mortes (a quem interessar possa e se estômago tiver, o acompanhamento em tempo real pode ser feito a partir deste site).

Também não se sabe ao certo se esse novo coronavírus “pulou” dos morcegos para as pessoas, a exemplo de suas variações mais antigas, como o SARS-CoV e o MERS-CoV, que infectaram seres humanos por contato com gatos e dromedários, respectivamente. Mas sabe-se que a OMS emitiu o primeiro alerta para a doença no final do ano passado, depois que autoridades chinesas notificaram casos de uma misteriosa pneumonia na cidade retrocitada. E que o governo chinês não comunicou prontamente o problema. Pelo contrário: o médico que alertou para o que viria a ser a atual pandemia foi preso e forçado a se retratar (e acabou morrendo logo depois, dizem que de Covid-19), o que postergou a adoção de medidas que, se tomadas prontamente, poderiam ter poupado o mundo dessa catástrofe.

Não é de estranhar, portanto, que esse lamentável episódio — somado ao fato de o governo chinês ter mascarado o número de mortos a ponto de, recentemente, a quantidade de óbitos em Wuhan ter sido publicamente ajustada para cima em 50%, e que a epidemia já estaria em curso bem antes do que foi comunicado oficialmente a OMS — expôs ao mundo a mais absoluta falta de empatia da China e seus governantes com os habitantes dos demais países.

Falando em OMS — entidade que vem sendo reverenciada, nos últimos meses, como o deus-Lula pelo bando de militontos seguidores de sua seita infernal —, é sempre bom lembrar que a organização é comandada por um etíope de nome impronunciável, marxista e dono de um passado polêmico, acusado de não ter reportado surtos de cólera em seu país e de ter vencido a disputa para o cargo com apoio da... China.

Observações:

1) Vale a pena conhecer melhor o diretor-geral Tedros Ghebreyesus, quando mais não seja porque algumas das informações repassadas por ele durante a atual pandemia também foram alvo de discussões, principalmente em relação aos números vindos da... China.

2) Segundo matéria publicada na revista eletrônica Crusoé por Duda Teixeira, a China escondeu informações sobre a extensão da epidemia de coronavírus, divulgando dados falsos e incompletos que atrapalharam a ação de outros governos no mundo. Para o governo daquele país, mais importante que o bem-estar da população é a sobrevivência do regime.

Convém ter em mente que beggars can’t be choosers (quem precisa não tem escolha, numa tradução livre do dito popular americano). A China é, atualmente, o maior parceiro comercial do Brasil, e qualquer análise sobre a relação com um parceiro deve considerar aspectos estratégicos.

É bom lembrar também que países e governos não têm amigos, mas interesses — e, no máximo, aliados —, e que tanto na política quanto nas relações internacionais as versões costumam valer mais que os fatos.

Salvo melhor juízo e com a devida venia de quem possa pensar de outra maneira, estava coberto de razão, a meu ver, ao filho 03 do nosso errático e errado presidente, quando comparou a atual crise sanitária ao vetusto acidente nuclear de Chernobyl. Mas foi leviano, para não dizer irresponsável, sobretudo vindo de um candidato a diplomata, suas declarações acusatórias, que geraram atritos diplomáticos desnecessários e não melhoraram em nada a situação. A hora é de buscar soluções para o problema, não de apontar o dedo para presumíveis responsáveis.

Como se não bastasse o destempero eduardobolsonariano, Abraham Weintraub — o iluminado ministro da deseducação, que conta com garantia vitalícia de emprego enquanto durar este governo insensato —, fez eco à fala do filho do chefe postando a imagem do Cebolinha na Muralha da China, numa alusão caricata à maneira como os chineses falam nossa língua (para quem não sabe, o personagem criado por Maurício de Souza troca o “r” pelo “l” em suas falas nas historinhas da Turma da Mônica).

Independentemente de o novo coronavírus ter sido produzido, ou não, em um laboratório chinês, ou ser proveniente de seus mercados de baixas condições sanitárias e hábitos alimentares repulsivos aos olhos (e estômagos) ocidentais, mas vistos com naturalidade por uma parte substantiva dos orientais, o comportamento da China no desenrolar da crise abalou o conceito do país cuja imagem de opacidade já não era positiva.

Isso sem mencionar que o governo chinês teria usado potenciais ajudas humanitárias para impulsionar o avanço da gigante Huawei, multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações, visando a futuras operações de 5G no planeta (hipótese que, se confirmada, denota uma inacreditável falta de senso de humanidade.

Ao Brasil não interessa o fracasso da China, antes pelo contrário: a retomada de seu crescimento — e dos demais países — e a reativação do comércio internacional são cruciais para nós. Tecer críticas num momento em que nossa economia está paralisada e a China é o maior fornecedor de testes, ventiladores, máscaras, kits e outros insumos relacionados ao combate à Covid-19 é uma leviandade, mas aplaudir qualquer coisa que o governo comunista daquele país fale ou faça — como os militontos petistas em relação ao sumo sacerdote da seita do inferno e os desprezíveis bolsomínions, ao capitão vela apagada da caverna das trevas — seria uma lamentável e despropositada demonstração de subserviência.

A China tem dinheiro, muito dinheiro, e por isso consegue comprar apoio. André Guedes, que não é nenhum simpatizante de Bolsonaro, fez ponderações nesse sentido, com base em reportagem do insuspeito — posto que esquerdista — The New York Times (vide imagem que ilustra este post).

Rodrigo Constantino diz que, neste momento, não criticar o regime ditatorial chinês porque o país é nosso maior comprador de produtos não é pragmatismo, mas pura hipocrisia. Até porque “pragmatismo” é uma forma de ideologia, e não mero sinônimo de “prático”, como pensam alguns — os dicionaristas o associam também a maquiavélico, amoral, calculista, interesseiro. Segundo o jornalista, a ditadura chinesa deveria indenizar o mundo pelos prejuízos causados pelo vírus que virou pandemia devido ao comportamento criminoso do regime.

Observação: Deixo claro que o fato de eu reproduzir a opinião de Constantino ou de quem quer que seja não implícita minha total ou mesmo parcial concordância.