segunda-feira, 25 de maio de 2020

GOVERNO DO GENERAL DA BANDA — GANGRENA EM ESTADO AVANÇADO REQUER AMPUTAÇÃO DE MEMBRO AFETADO, SOB PENA DE ÓBITO DO PACIENTE



Nelson Teich divulgou no último sábado, 23, ter recusado um convite para ser conselheiro do Ministério da Saúde. Em postagem no Twitter, o oncologista disse que “não seria coerente ter deixado o cargo de ministro da Saúde na semana passada e aceitar a posição de conselheiro na semana seguinte”. Aplausos para o ex-ministro. De bobos da corte, o quadro palaciano está mais que completo.

Abrilhantam a Esplanada um ministro da educação mal-educado, que defende a prisão de ministros do STF; uma ministra que viu Jesus na goiabeira e quer prender governadores e prefeitos; uma (agora ex) secretária da Cultura que dá piti no ar e interrompe entrevista porque o script “fugiu ao combinado”; um ministro que enche o tempo (e o saco) com notas de repúdio ao Supremo por ter sido convocado a depor debaixo de vara, e que acha que periciar o telefone do capitão trará “consequências imprevisíveis”; um ministro que concorda e apoia a opinião do ministro anterior e, pior, fala em nome das Forças Armadas...

Isso sem falar nos ministros terraplanistas, criacionistas, negacionistas... Tem até ministro que acredita (mesmo) que o general da banda comanda. Suas excelências devem ter tomado muita cloroquina. Ou tubaína.

Interlocutores ligados à Globo vazaram que a emissora cresceu o olho para o Ibope do vídeo da reunião interministerial, que deu de lavada na novela Malhação — exibida pela Vênus Platinada desde o tempo em que televisor era movido a corda. Já se fala num projeto de filmar outras reuniões e exibi-las numa minissérie, cujo título será escolhido pelo diretor de dramaturgia, Sílvio de Abreu, entre as diversas sugestões apresentadas. Entre as cotadas estão “Palhação”, “Empulhação”, “O Canastrão” e “O Canetão”.

Brincadeiras à parte, uma série de mensagens trocadas entre o presidente e o então ministro da Justiça evidencia que o primeiro falava da Polícia Federal, e não de sua segurança pessoal, quando exigiu substituições nessa área na fatídica reunião ministerial.

A cronologia de oito diálogos aos quais o Estadão teve acesso mostra que Bolsonaro chegou à reunião com a decisão já tomada de demitir o diretor-geral da PF: “Moro, Valeixo sai esta semana”, escreveu o presidente às 6h26 de 22 de abril. “Está decidido”, continuou ele, em outra mensagem enviada na sequência. “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex ofício”. A resposta de Moro foi enviada 11 minutos depois, às 6h37. “Presidente, sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah (sic) disposição para tanto”.

Em outra sequência de mensagens, enviadas também antes da reunião ministerial, Bolsonaro encaminha dois vídeos e reclama com Moro de ser informado por “terceiros”. “Força Nacional, Ibama, Funai... As coisas chegam para mim por terceiros... Eu não vou me omitir”, disse o presidente às 8h01m.

Na reunião ministerial, Bolsonaro demonstrou irritação. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse o presidente, olhando para Moro.

As mensagens que agora vêm à tona contrariam a versão de Bolsonaro de que Valeixo pediu para ser demitido, além de ajudarem a explicar o comportamento de Moro na reunião. O ex-ministro ficou em silêncio quando foi constrangido pelo chefe, que cobrou mudanças nas áreas de inteligência. Àquela altura, ele já havia sido comunicado da decisão unilateral de demitir Valeixo, sem que pudesse opinar a respeito. Na entrevista que o Fantástico levou ao ar neste domingo, Moro reforçou essa justificativa, além de afirmar que "o ambiante claramente não abria espaço para o contraditório". Disse ainda que se valeu de um compromisso previamente agendado para antecipar sua saída da reunião. Menos de 48 horas depois, o então ministro pediu sua exoneração. 

Bolsonaro tem sustentado em entrevistas que foi Valeixo quem pediu para ser demitido. Segundo ele, isso comprova que não houve interferência da sua parte. “O senhor Valeixo de há muito vinha falando que queria sair. Na véspera da coletiva do senhor Sérgio Moro, dia 24 (de abril), o senhor Valeixo fez uma videoconferência com os 27 superintendentes do Brasil, onde disse que iria sair. Eu liguei pro senhor Valeixo, o qual respeito, na quinta-feira, à noite. Primeiro ele ligou pra mim. Depois eu retornei pra ele. ‘Valeixo, tudo bem?. Sai amanhã? Ex officio ou a pedido?’. A pedido (foi a resposta de Valeixo, segundo Bolsonaro). E assim foi publicado no DOU. Lamento ter constado o nome do ministro da Justiça ali. É porque é praxe”, disse o presidente na noite de sexta-feira, após a divulgação do vídeo.

Em depoimento no inquérito, no dia 11 de maio, Valeixo contou que jamais formalizou um pedido de demissão. De acordo com ele, um dia antes da publicação no Diário Oficial, recebeu um telefonema do próprio presidente questionando se ele concordava que sua exoneração saísse a pedido. Sem alternativa, assentiu. Valeixo relatou, ainda, que Bolsonaro justificou que queria alguém no cargo com quem tivesse “afinidade”.

A troca de mensagens foi extraída do celular de Moro durante seu depoimento. Na ocasião, peritos da PF fizeram uma varredura completa no aparelho, em busca de mensagens que poderiam comprovar a acusação contra o presidente. Na sexta-feira, o ministro Celso de Mello encaminhou à PGR um pedido de partidos de oposição para que o celular de Bolsonaro fosse apreendido em busca de mais provas da suposta interferência dele na PF. A reação do Planalto veio do general Augusto Heleno, que, em nota, disse que uma decisão favorável a esse pedido poderia ter “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.

Três horas depois dos diálogos obtidos pelo Estadão, nos quais Bolsonaro dá a ordem para mudar a PF, ocorreria a reunião ministerial tornada pública na sexta-feira, na qual o presidente afirma claramente que desejava troca na “segurança” do Rio. Chegou a dizer que era alvo de “putaria o tempo todo” para atingir não só ele como sua família.

Bolsonaro disse ali que não podia ser “surpreendido com notícias”. “Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”, reclamou. E assegurou, ainda, que ia interferir em todos os ministérios. “Não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma … uma extrapolação da minha parte. É uma verdade”, afirmou, olhando para o lado onde estava Moro.

A versão de que o presidente se referia à sua segurança pessoal no Rio, e não à PF, é colocada em xeque por mudanças ocorridas no escritório do GSI no Rio, dois meses antes da reunião ministerial. A contradição foi revelada pelo Jornal Nacional. A reportagem mostrou também que, 28 dias antes daquela reunião, o responsável pela segurança do presidente havia sido promovido.

Em 5 de maio, Bolsonaro exibiu o seu celular com mensagens trocadas por ele e Moro na tarde do dia 22 de abril para dizer que o ex-ministro havia mudado de versão sobre a tentativa de interferência na PF. “Isso é uma mentira deslavada”, disse. No entanto, a conversa ocorrida na manhã do dia 22, em que Bolsonaro avisa a Moro que demitirá Valeixo, não foram mostradas pelo presidente.

Estadão procurou a Secom para falar sobre as mensagens, mas o Planalto informou que não iria comentar. A defesa de Moro disse que “as declarações do presidente da República demonstram, de maneira inquestionável, sua vontade de interferir indevidamente” na Polícia Federal. “Esses elementos probatórios somam-se às demais diligências investigatórias, inclusive ao vídeo da reunião de 22 de abril, comprovando as afirmações do ex-ministro Sérgio Moro”, afirmou o advogado Rodrigo Rios.

Fica cada vez mais nítido que este governo apodreceu. Urge concitar o excelso general da banda a enfiar a cloroquina no saco e ir tocar em outro coreto.