Fazer profecias é fácil. Difícil é acertar as previsões.
Talvez seja por isso que videntes, numerólogos, cartomantes e adivinhos de botequim usam e abusam de ambiguidades e indeterminações em seus infalíveis vaticínios de final de ano.
“Um artista famoso vai morrer no ano que vem”, dizem os oráculos em forma de gente. E têm grandes chances de acertar, seja porque todo ano morre
um artista famoso, seja porque termos como “artista” e “famoso” dão margem a
múltiplas interpretações.
Valendo-se da mesma estratégia, horoscopistas de festim
embrulham no vistoso papel dos mapas astrais mensagens como “cuide melhor da
saúde”, “evite investimentos arriscados”, “aguarde novidades no campo
sentimental”, e por aí vai. Aliás, orientava-se pela mesma bússola o saudoso Narciso
Vernizzi — o “Homem do Tempo da
Jovem Pan” —, que tornava quase infalíveis seus boletins meteorológicos estimando
em 50% as possibilidades de “chover em pontos isolados”.
Não há como falar em profecias (e em ambiguidades e indeterminações) sem trazer à baila Michael de Nostradama (1503-1566), mais conhecido como Nostradamus.
Dono de uma pena vocacionada a vaticínios macabros e apocalípticos, o médico,
boticário e astrólogo francês notabilizou-se pela suposta capacidade de prever o futuro. No entanto, contrariando
a interpretação tendenciosa que os arautos do apocalipse fizeram de seus
escritos, o mundo não acabou na virada do milênio nem em 21/12/2012.
Do ponto de vista da tecnologia, evoluímos mais nos últimos 150 anos do que da pré-história ao final do século XIX, mas não o suficiente para que previsões como as abordadas no Livro da Juventude de 1968 se realizassem.
Por outro lado, o polimata italiano Leonardo da Vinci idealizou o helicóptero 600 anos antes da construção da primeira aeronave de asa móvel, e o escritor francês Júlio Verne descreveu em 1865, no romance “Da Terra à Lua”, a proeza que a Apollo 11 realizaria 104 anos (errando por apenas 20 milhas o local exato do lançamento do Saturno V). Verne também concebeu o Nautilus no livro 20.000 Léguas Submarinas, publicado quase um século antes da construção do primeiro submarino nuclear.
Ao contrário do quem sendo veiculado nas redes sociais, Nostradamus não previu a pandemia da Covid-19 em suas Centúrias (10 conjuntos de versos compilados num livro com cerca de 100 páginas).
O boato surgiu após uma publicação feita pelo cartunista argentino Cristian Dzwonik, o Nik, criador do satírico gato Gaturro, que acabou sendo alvo de diversas críticas pela brincadeira. A mensagem falsa original, postada em espanhol na página do cartunista nas redes sociais, foi rotulada como FAKE NEWS pelo Facebook depois de ser checada por agências internacionais.
São igualmente falsas as informações de que o Sars-Cov-2 pode ser neutralizado pela
ingestão de água quente (ou qualquer outra bebida quente), de grandes doses de
vitamina C (ou qualquer outra vitamina) ou de alho. Lança-perfume e cocaína tampouco
neutralizam o vírus, a exemplo da vacina da gripe — embora esta última auxilie
no diagnóstico, visto que os sintomas da Covid-19
são semelhantes aos da gripe.
Por essas e outras, acredite em metade do que você vê e em nada do que você ouve.