A boa notícia: o primeiro lote da CoronaVac (aquela
que o mandatário de turno chama maldosamente de “vacina chinesa do Doria”),
composto por 120 mil doses já prontas, desembarcou em terra brasilis na última quinta-feira
(19). Novos lotes de um total de 46 milhões de doses devem chegar nas
próximas semanas, juntamente com a matéria prima que permitirá ao Instituto
Butantan produzir o imunizante localmente.
Agora a má notícia: reportagem publicada pelo jornal O
Estado de São Paulo no último domingo apontou que 6,86 milhões de testes
para a Covid-19 — que custaram R$ 290 milhões — podem perder
validade até janeiro de 2021. É mais do que os 5 milhões de
testes já aplicados no SUS desde o início da pandemia.
Outra boa notícia: Na sexta-feira (20), a Anvisa autorizou uma alteração nos protocolos dos testes clínicos da vacina contra a Covid-19 desenvolvida por AstraZeneca e Universidade de Oxford.
Além disso, um documento assinado em agosto entre governo do Paraná e o instituto de pesquisas russo Gamaleya, prevê a produção local da vacina Sputnik V, que já teve resultados preliminares de testes de fase 3 divulgados no início de novembro (sem terem passado, no entanto, por publicação em revistas científicas independentes).Observação: Ocorrem no Brasil também estudos clínicos do produto
desenvolvido por BioNTech e Pfizer, e do produto desenvolvido pela
Janssen em parceria com Johnson & Johnson. Ainda não há um acordo
firmado pelo país para a compra desses produtos, mas o desgoverno federal
afirma que estuda a compra das vacinas de Janssen, Instituto de Pesquisa
Gamaleya, Moderna e Covaxin.
Outra má notícia: O novo aumento no número de casos de
contaminação, internações e óbitos pela pandemia de coronavírus em diversas
regiões do país gerou um refluxo na tendência otimista observada na percepção
dos brasileiros sobre a situação da crise sanitária. Pela primeira vez em quatro meses, o
grupo de entrevistados que acreditam que o pior da pandemia ainda está por vir
supera numericamente os que imaginam que o pior já passou: 47% contra 46%. Em
outubro, a relação era de 64% a 30% para os otimistas.
Resumo da ópera: O total de testes RT-PCR
realizados no Brasil caiu
em outubro pelo segundo mês seguido, o que é visto com preocupação.
Segundo especialistas, o país deveria estar no caminho inverso, ou seja, ampliando
os testes para rastrear e frear o avanço da pandemia. Pelo visto, além
de não fazer praticamente nada para ajudar estados e municípios na luta contra a
pandemia, os "interventores" do Ministério da Saúde conseguem ainda
desarrumar o que estava funcionando.
Responsabilidades: O Ministério da Saúde — que está sob intervenção
militar desde a demissão de Nelson Teich e, graças à execrável
atuação de vocês sabem quem no comando do batalhão de atabalhoados que tomaram
de assalto a pasta, virou um “cabidão” para amigos e correlegionários do mandatário
de turno pendurarem a farda — espera receber ainda nesta semana estudos que
indiquem a viabilidade de prorrogar essa data de vencimento.
Confrontado com descalabro, o capitão-cloroquina culpou
governadores e prefeitos: "Todo o material foi enviado para Estados e
municípios. Se algum Estado ou município não utilizou deve apresentar seus
motivos", vociferou sua alteza real nas redes sociais, numa
aparvalhada tentativa de negar o que o próprio Ministério da Saúde já havia
admitido: os testes não foram enviados à rede hospitalar pública, mas guardados
num armazém do governo federal no Aeroporto de Guarulhos, São Paulo, e têm
chances reais (sem trocadilho) de virar lixo.
Ironicamente, a logística é justamente a especialidade do
atual ministro da Saúde. A notícia chega num instante em que o país se inquieta
com a falta de transparência do governo na elaboração de um plano de distribuição
das vacinas que estão por vir. Em vez de tranquilizar a população, nosso líder
oferece mais razões para preocupação.
O presidente não reparou, mas cada vez que declara que
determinado problema não é seu, sua atitude se transforma no próprio problema.
Como sempre, também no caso dos testes, os culpados são os outros: governadores
e prefeitos. Sua excelência só conhece um tipo de autocrítica: a autocrítica a
favor. Comporta-se como se estivesse sempre liberado de todo o exame do mal — principalmente
o mais difícil, que é o autoexame.