segunda-feira, 30 de novembro de 2020

CIAO, CIAO, BAMBINI

 

O resultado das eleições deixou mais do que evidente que Bolsonaro e Lula, como padrinhos, são excelentes “pragas de madrinha”. O molusco abjeto ainda não percebeu, mas a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, tudo mofou, a festa acabou e seu tempo passou. Mas vou deixar essa conversa para outra hora, até porque ainda não jantei.

Já o capitão-cloroquina nunca foi o candidato de nossos sonhos, mas também não precisava se tornar a personificação de um pesadelo kafkiano cuja obsessão pela reeleição ameaça tornar indespertável (que Deus nos livre e guarde). Como bem observou José Nêumanne, não era de esperar que o presidente conduzisse o governo com a competência de gestão surpreendente do grande orador que foi Carlos Lacerda. Até porque jamais administrou sequer carrinho de pipoca em porta de cinema. Mas seria injusto não reconhecer sua surpreendente incapacidade de entender que para tudo deve haver limites na gestão pública, inclusive para a mais rematada burrice, como a que ele pratica e professa.

Ontem, em meio a quase 30 minutos de entrevista a jornalistas, após ter votado na zona oeste do Rio, Bolsonaro, ora adotando a postura de presidente, ora falando como candidato em comício de campanha, voltou a criticar as urnas eletrônicas e a defender o voto impresso. Sem citar nomes, ironizou a ideia do presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, de liberar o voto por smartphones no futuro. "Tem gente que nunca entrou na casa dos mais humildes".

Em Sampa, o capitão sem luz apoiou Celso Russomano, que havia disparado nas pesquisas. Não se sabe ao certo se graças a esse apoio ou apesar dele o eterno defensor do consumidor derreteu ao longo da campanha e, consolidando sua fama de cavalo paraguaio, foi expelido do pleito no primeiro turno.

Para a prefeitura do Rio, Bolsonaro apoiou Marcelo Crivella, candidato à reeleição pelo partido que acolheu Flávio Rachadinha e Eduardo Bananinha. Bispo licenciado da Universal e sobrinho do todo poderoso Edir Macedo, o pastor de araque passou raspando para o segundo turno, mas em momento algum ameaçou o favoritismo do demista Eduardo PaesMesmo assim, na manhã depois de votar em uma escola da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), Crivella fingia exsudar otimismo por todos os poros. 

Falando de si próprio na terceira pessoa, assim se manifestou o prefeito carioca: “As pesquisas no primeiro turno sempre davam Crivella com 10 (% dos votos), 11 (% dos votos), 12 (% dos votos), havia a expectativa de que nem fosse pro segundo turno. No final tinha 20 (% dos votos). As pesquisas erram". Questionado sobre os planos para o caso de derrota, respondeu com ironia: "Ninguém em casa está pensando em divórcio". Bom para ele, como se veria no começo da noite.

Como chefe do executivo, a atuação de Crivella foi tão desastrosa quanto a do padrinho no enfrentamento da Covid-19. Ambos demonstraram surpreendente vocação para tornar pior o que já é bastante ruim. O prefeito escapou duas vezes de ser impichado graças a cumplicidade da Câmara Municipal, eivada de vereadores de sua laia. Mas para tudo há um limite, e a cegueira do eleitorado não é exceção.

Crivella tinha razão sobre as pesquisas errarem. Só que erraram por muito pouco. No último sábado, estimava-se que a vitória de Eduardo Paes se daria por 68% a 32% dos votos válidos. Ontem à noite, com 98,39% das urnas apuradas, o candidato desafiante tinha 64% dos votos válidos, e o candidato à reeleição, 36%.

As projeções também erraram em Sampa. Segundo o Ibope, o tucano se reelegeria com 48% dos votos válidos, e o candidato do Psol ficaria com 37% (de acordo com o Datafolha, a projeção era de 47% a 40%). Acabou que Covas venceu em 50 das 58 zonas eleitorais, com 59,4% dos votos válidos, contra 40,6% do adversário. 

A melhor votação do prefeito reeleito foi na 258ª zona (Indianópolis), onde ele obteve quase 76% dos votos. Boulos venceu em Parelheiros e no Grajaú, em Piraporinha, no Valo Velho, no Capão Redondo e no Campo Limpo (onde mora). Na Zona Leste, ganhou em Cidade Tiradentes e São Mateus.