segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

LULA LÁ... BEM LONGE! (PARTE II)

Muita gente está dando de barato que o STF vai agasalhar a tese de parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro e anular a condenação de Lula no processo do sítio, sobretudo depois que a 2ª turma decidiu que a defesa do petralha deve ter acesso às mensagens trocadas entre Moro e Deltan Dallagnol (hackeadas de seus celulares, vazadas pelo site panfletário The Intercept Brasil e apreendidas pela PF no âmbito da Operação Spoofing).

Mesmo se essa perversa previsão se confirmar, Lula não voltará a ser “inocente”, até porque gente dessa laia já nasce culpada (na falta de motivo melhor, culpada de ter nascido). Demais disso, o processo voltará à 13ª Vara Federal em Curitiba para ser julgado novamente (pelo juiz Antonio Bonat, atual titular responsável pela vara em questão), além do que o ex-presidente corrupto continuará inelegível devido à condenação que lhe foi imposta pela juíza-substituta Gabriela Hardt no processo envolvendo o sítio de Atibaia (decisão já ratificada pelo TRF-4).

Fosse esta republiqueta de almanaque uma “democracia consolidada” (nas palavras do eminente togado supremo Luís Roberto Barroso, atual presidente do TSE), o rebotalho de Garanhuns estaria cumprindo pena. Como isto aqui não passa de uma patética banânia, o sacripanta deixou a cela vip que ocupou na sede da PF em Curitiba por míseros 580 dias (com direito a toda uma série de mordomias, inclusive transformar sua suíte em diretório político-partidário, comitê de campanha e palco para entrevistas, de onde continuou no comando absoluto do PT) graças a uma decisão desavergonhada dos ministros-cumpanhêros, que restabeleceram uma jurisprudência arcaica, que vigeu durante 7 anos ao longo das últimas 8 décadas. 

Tão logo ganhou a rua, o picareta dos picaretas subiu num palanque improvisado e discursou para a patuleia ignara, posando de injustiçado, criticando seus "algozes" e vituperando ofensas contra o atual governo (esta merda de bolsonarismo asinino, que não existiria sem o lulopetismo corrupto). 

Lula viajou ao Vaticano (onde deveria ter sido escomungado) e fez um turnê pela ilha dos Castro, ex-pérola do Caribe, onde pegou Covid, mas sobreviveu (coo se sabe, o diabo detesta concorrência) e, suprema desgraça, voltou ao Brasil, onde vem articulando a candidatura do repuslivo bonifrate que o representu em 2018 e foi derrotado por Bolsonaro (burros velhos não aprendem truques novos).

Observação: Pelo visto não há mais ninguém no partido dos trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam que tenha algum estofo e caraça de autoestima, dignidade ou escrúpulos (chame como quiser) para não se sentir um merda posando de preposto e bancando o fantoche do exterminador do plural. Aliás, não fosse pelo lulopetismo corrupto, esse bolsonarismo boçal não existiria.

Alguns supremos togados afirmam off the record que a anulação da sentença no caso do tríplex pode empurrar para patamares (ainda mais) abissais os índices de aprovação do STF. Segundo o Datafolha, 39% dos entrevistados no final do ano passado consideraram o trabalho do tribunal como “ruim” ou “péssimo”. Em meados de 2017, o Instituto Ipsos apontou que a Maritaca de Diamantino (apelido dado a Gilmar Mendes pelo jornalista Augusto Nunes) tinha taxa de aprovação de apenas 4%, e que a rejeição devia-se principalmente a sua mudança de posição em relação à prisão após condenação em segunda instância.

Até 2002 — ano em que as sessões plenárias passaram ser transmitidas ao vivo pela TV Justiça —, meia dúzia de gatos-pingados (se tanto) que davam ibope à anacrônica Voz do Brasil tinham ouvido falar do Supremo. Mas as luzes da ribalta levaram os vaidosos ministros, cujos egos gigantescos mal cabem nos amplos salões da Corte, a deleitar os telespectadores com votos cada vez mais longos e frequntes barracos com seus pares.

Os índices de audiência da TV Justiça subiram feito rojão durante o julgamento da ação penal 470, ou “Processo do Mensalão”, que começou em 2012 e terminou em 2014. Os atritos memoráveis entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski — egresso das alas petistas, que atuou mais como advogado dos réus do que como juiz da causa, e que ficou conhecido como “flagelo da Constituição” devido a sua atuação no julgamento do impeachment de Dilma — “deram mais ibope” que novela da Globo.

Nunca antes na história deste país (parafraseando o abjeto Parteiro do Brasil Maravilha) os supremos togados circularam tanto na mídia aberta como agora, dando palestras a torto e a direito e entrevistas para explicar seus votos e criticar os votos de seus pares, como se Lei Orgânica da Magistratura Nacional — que exige serenidade, urbanidade e discrição na vida pública e privada — não lhes dissesse respeito.

De volta à suposta suspeição de Sergio Moro: em dezembro de 2018, durante o julgamento do HC de Lula, o semideus togado, legítimo representante de Amon-Rá neste vale de lágrimas, farejou a derrota quando Edson Fachin e Cármen Lúcia rejeitaram a tese da defesa. O voto de Lewandowski era bola na caçapa, mas o voto do decano Celso de Mello, imprevisível como intestino de recém-nascido, levou o julgador de todos os julgadores a pedir vista dos autos e aboletar-se sobre eles como uma galinha choca sobre ovos galados.  

Observação: Em teoria, um juiz pede vista (e não “vistas”, como muita gente diz) quando precisa de mais tempo para estudar o processo. Na prática, esses pedidos são de “vista obstrutiva”, ou seja, têm como propósito interromper o julgamento da ação. Essa prática espúria veio do Legislativo de carona com o deputado Nelson Jobim, que FHC nomeou ministro da Justiça em 1995 e promoveu a ministro do STF em 1997. Pelo regimento interno do STF, a devolução dos autos deve ser feita até a segunda sessão subsequente à do pedido de vista, mas ninguém se atém a isso, de modo que o autor do pedido pode devolver o processo somente quando vislumbrar a possibilidade de um ou mais magistrados mudarem o voto, ou quando a maioria formada já não fizer mais diferença. O ministro Ayres Britto, aposentado em 2012, alcançou a marca de 76 pedidos de vista, dos quais 70 não haviam sido devolvidos quando ele deixou o tribunal.

Gilmar aguardou pacientemente a aposentadoria de Celso de Mello e a nomeação daquele que o substituiria na 2ª turma, que acabou sendo um desembargador piauiense indicado pelo deputado conterrâneo Ciro Nogueira, presidente do PP e um dos caga-regras do Centrão. Foi graças ao aval de Alcolumbre e Toffoli e às bênçãos do próprio Gilmar que Bolsonaro cobriu com a suprema toga os supremos ombros de Kássio Nunes Marques — ora o fiel da balança na segunda turma —, a despeito de seu currículo, digamos, um tanto inconsistente.  

Observação: A escolha de um ministro do STF não é uma decisão qualquer, como escolher uma gravata. E Bolsonaro escolheu Kássio Nunes por “afinidade”. "Não vou botar uma pessoa só por causa do currículo", disse o capitão-coerência sobre o latte do apadrinhado, anabolizado do apadrinhado, ainda que reputação ilibada seja conditio sine qua non para alguém se candidatar a uma cadeira no Supremo. No currículo de Kássio consta que ele é "pós-doutor" em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, na Itália, e que dispõe de "postgrado" em contratação pública pela Universidad de La Coruña, na Espanha. Na verdade, o curso italiano não passou de um ciclo de palestras e o espanhol foi um curso de extensão de cinco dias.

Kássio não viu problemas em seu currículo. Faz sentido. Pode-se desconfiar de uma verdade, mas a mentira, como tal, será sempre rigorosamente verdadeira. Melhor não discutir com especialistas nem tampouco criticar Bolsonaro. O presidente avisou: embora dispusesse de uns dez bons currículos, preferia selecionar alguém com quem já tomou muita tubaína. E foi o que fez.

Há algumas esquisitices na Suprema Corte brasileira — de ministro reprovado em concurso para juiz a magistrado que mantém negócio privado. Com a mais recente aquisição, a supremacia do Supremo foi tisnada por um currículo-tubaína. Não chega a ser um grande exemplo, mas antecipa o que está por vir em julho, quando o decano libertador de traficantes se aposentar.

Mais que um ministro terrivelmente evangélico, o capitão-carola quer um pastor: "Imaginemos as sessões daquele Supremo Tribunal Federal começarem com uma oração". Modesto quando lhe convém, o general da banda não reivindica para si todos os méritos. "Tenham certeza de uma coisa: isso não é mérito meu. É a mão de Deus." Sua sorte é que o Todo-Poderoso-Onipresente não dá expediente em tempo integral. Se desse, advertiria o cacique da tribo: "Você ainda não sabe do que o Centrão é capaz!"

Continua...