terça-feira, 27 de abril de 2021

SOBRE A POLÍTICA E OS POLÍTICOS

Segundo o Gênesis, “no princípio era o Caos, e do Caos Deus criou o Céu e a Terra (...)”. 

Dito de outro modo, em apenas 6 dias o Criador transformou o Caos em ordem, criou a luz e separou-a em duas (uma, grande, para governar o dia, e outra, menor, para governar a noite), criou as águas e dividiu-as em duas (e juntou as da porção inferior num só lugar, para que ali emergisse parte seca), cobriu a terra de plantas, povoou-a com todo tipo de seres vivos e, no sexto dia, disse o Senhor das Esferas: “Agora vamos fazer os seres humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco. Eles terão poder sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre os animais que se arrastam pelo chão.” Após concluir Sua obra e ver que tudo era bom (mal sabia Ele quão bom seria!), abençoou e santificou o sétimo dia, quando então descansou.

Partindo da premissa de que as coisas realmente se passaram dessa forma, faltou ao biógrafo Divino mencionar os políticos, pois certamente foram eles que criaram o Caos e, mais adiante, potencializaram-no adicionando à POLÍTICA uma dose generosa de FANATISMO.

De acordo com o “Chanceler de Ferro” Otto Von Bismarck, “a política é a arte do possível”. No Brasil, no entanto, é impossível encontrar um político honesto. Primeiro, porque Política e Honestidade são como vinagre e azeite. Segundo, porque cidadãos probos e bem-intencionados raramente chegam ao poder — e quando chegam, ou sucumbem à corrupção, ou são destruídos pelos desonestos. Terceiro, porque todo político tem duas caras: a que ele expõe em público e a que usa quando transita nos bastidores.

Alianças políticas são construídas entre aqueles que têm ódios em comum (o inimigo do nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo, mas pode ser um aliado valioso). De acordo com o filósofo francês François-Marie Arouet — mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire — “a política não tem sua fonte na grandeza do espírito humano, mas em sua perversidade”. Já Nelson Rodrigues dizia que “não há nada mais cretinizante que a paixão política, a única sem grandeza, a única capaz de imbecilizar o homeme  Sir Winston Churchill, que “a política é quase tão excitante quanto a guerra, e não menos perigosa, mas a diferença é que na guerra só se morre uma vez”.

De tudo que há de pior na política tupiniquim, nada supera os políticos tupiniquins. São eles que transformam o ato nobre de prezar pelos interesses da comunidade na torpe arte de enganar a população para atender aos próprios interesses. Ouvi de Mário Sérgio Cortella que “político que se serve em vez de servir é político que não serve”. Outra epigrama lapidar — cuja autoria eu desconheço — ensina que “na atual conjuntura, brigar por política é como ter crise de ciúmes num puteiro”.

Se política e democracia são duas faces da mesma moeda, não há nada mais antidemocrático do que a antipolítica. Mas será mesmo? Não custa lembrar que na prática a teoria costuma ser outra. O Parlamento, que deveria ser o altar sagrado da política e a tradução mais sólida da democracia, teve suas entranhas pútridas expostas no domingo retrasado (18), quando o Fantástico mostrou como o submundo do crime opera no Congresso Nacional.  

Ricardo Kertzman publicou em sua coluna na ISTOÉ que cerca de 100 deputados federais, dentre eles José Guimarães, do PT — cujo assessor foi flagrado em um aeroporto com dinheiro na cueca — e o troglodita pesselista bolsonarista Daniel Silveira — que cumpre prisão domiciliar — pleitearam o ressarcimento de despesas com combustível que, somadas, passam de R$ 30 milhões. Para embasar os pedidos, suas excelências anexaram notas fiscais eivadas de irregularidades e claros indícios de falcatrua, como mais de 200 abastecimentos no mesmo dia, ou o tanque de carro popular abastecido com combustível suficiente para encher a piscina do Palácio da Alvorada — residência oficial do verdugo do Planalto, cujo primogênito, Flávio “Rachadinha” Bolsonaro, comprou recentemente, com juros subsidiados por um banco público, uma luxuosa mansão avaliada em R$ 6 milhões.

Maracutaia em prestação de contas — notadamente em empresas públicas — remonta aos tempos de D. João Charuto. Sempre há postos de combustíveis, restaurantes, hotéis, locadoras de veículos, consultórios médicos, gabinetes dentários, enfim, locais onde vagabundos de colarinho branco podem superfaturar despesas reembolsáveis. Nem a pandemia desestimulou essa prática. Pelo contrário. Rios de dinheiro engordaram as burras de políticos e agentes públicos inescrupulosos (para não dizer filhos da puta) na compra de respiradores, EPIs, testes RT-PCR, medicamentos, máscaras cirúrgicas, insumos em geral e até álcool em gel.

Num país em que um réu se elege presidente da Câmara com o apoio de um presidente da República que empregava funcionários-fantasmas quando deputado federal, e que tem como amigo um miliciano que depositava cheques na conta da primeira-dama, coisas assim não chegam a surpreender. Nosso consolo é que os dias de safadeza dessa turma estão contados. Ao que tudo indica, as eleições de 2022 culminarão com a troca do devoto da cloroquina por um ex-presidiário ex-corrupto.

Você acha que não existe “ex-corrupto”? Então pergunte ao STF.