NÃO EXTERNO MEUS PENSAMENTOS ACHANDO QUE VOU MUDAR A CABEÇA DOS QUE PENSAM DIFERENTE; FAÇO-O APENAS PARA MOSTRAR ÀS PESSOAS QUE PENSAM COMO EU QUE ELAS NÃO ESTÃO SOZINHAS.
Devido à preocupação cada vez maior dos internautas com privacidade e à pressão do Congresso norte-americano sobre a segurança dos dados, o Google anunciou que vai interromper o uso de cookies de terceiros no Chrome — que acontece de ser o navegador de Internet mais usado em todo o planeta.
Da feita que isso pode ser um problemão para os
anunciantes, a empresa está desenvolvendo a FloC — de Federated
Learning of Cohorts, ou Aprendizagem Federada de Coorte, em tradução
livre — que agrupa comportamentos similares de forma anonimizada, evitando,
assim, invadir a privacidade alheia.
A efetividade do FLoC chega a 95% em relação à
dos cookies, e o propósito é basicamente o mesmo: entender o
comportamento das pessoas para oferecer produtos e serviços com base em
preferências pessoais. A diferença, como dito, é que a nova modalidade analisa grupos
de usuários com características semelhantes — sexo, idade, classe social,
formação acadêmica, hobbies —, o que permite entender como o grupo pensa e
reage a propagandas específicas. Como tudo é feito de forma local (no navegador)
e transmitido aos servidores do Google de forma criptografada, a
segurança é ainda maior: mesmo que fosse
interceptada no meio do caminho, a informação só seria utilizável depois de decodificada.
A FloC é um exemplo pronto de acabado do avanço
que cheira a retrocesso, pois o internauta perde o caráter individualizado do
anúncio e as facilidades do login único proporcionado pelo Google e pelo
Facebook, p.ex. Na prática, porém, ela se mostra efetiva. Basta traçar
um paralelo com as pesquisas eleitorais, que, quando conduzidas por entidades
sérias, costumam antecipar o resultado das urnas com margem de erro em torno de
2%. Demais disso, é mais interessante exibir anúncios sobre computadores para
internautas que acessam regularmente sites de tecnologia do que para alguém que
entra uma vez na vida para descobrir como desativar sua conta no Facebook, por
exemplo. Pelos cookies atuais, ambos estariam igualmente qualificados
para visualizar a propaganda, ao passo que, pela FloC, somente
internautas do primeiro grupo seriam contemplados.
Ainda não se sabe ao certo quais dados a FLoC
coleta, em quais momentos ela o faz, se somente em segundo plano ou se
informações de recursos como câmera e microfone, p.ex., também são coletados quando
utilizados em determinados sites. Enquanto essa questão não ficar clara, o Edge
(da Microsoft), o Firefox (da Fundação Mozilla) e outros
navegadores, como Opera, Vivaldi, Brave e DuckDuckGo,
decidiram bloquear a FLoC, unindo-se em um golpe sem precedentes contra
o Google.
A falta de consentimento e a facilitação para métodos de rastreamento como o fingerprinting (termo que significa impressão digital e transmite exatamente esse conceito para o ramo da computação: a identificação única do usuário) são apontados como os grandes vilões do FloC. Ainda que o substituto dos cookies use técnicas para não “dar nomes aos bois”, é possível reunir as informações coletadas como num quebra-cabeça e descobrir quem é quem. Isso sem falar no risco de vazamentos (algo relativamente comum nas grandes empresas de tecnologia) e a concentração tantos dados sensíveis numa empresa que já responde a processos por monopólio e práticas que tais.
Convém ter em mente que quando você não paga por um produto é porque o produto é o próprio usuário, ou seja, você. Embora não paguemos qualquer valor em moeda sonante para usar um webservice, a conta nos é cobrada e a moeda utilizada são nossos dados.
Mesmo que a FloC não nos monitore individualmente, tudo indica que ela coleta mais informações que os cookies, e o fato de o Google a ter ativado sem avisar previamente os usuários caracteriza invasão de privacidade.
Para além disso, o que realmente se sabe sobre a FloC é que ela vem sendo testada no Chrome e que os impactos na privacidade dos usuários só poderão ser avaliados adequadamente mais adiante, quando saberemos também se nossos navegadores contarão com recursos nativo para impedir ou limitar a coleta de dados, ou se precisaremos recorrer a um bloqueador externo.