terça-feira, 31 de agosto de 2021

A HISTÓRIA NÃO SE REPETE; É O PASSADO QUE SE HARMONIZA

 

Karl Marx escreveu que a história sempre se repete como tragédia ou farsa. No Brasil de hoje, está difícil saber o que é tragédia e o que é farsa, mas há casos em que história reproduz fielmente o passado. Para o bem ou para o mal.

No final de 2017, a despeito de a economia ter melhorado significativamente após a substituição da gerentona de araque pelo vampiro do Jaburu, apenas 3% dos brasileiros — noves fora a esposa Marcela e o filho Michelzinho — pareciam ter alguma simpatia Michel Temer. Segundo o instituto Paraná Pesquisas, 87,4% dos entrevistados disseram que ele não representava o país; só 9,2% responderam positivamente e 3,5% não souberam ou não quiseram opinar.

Ao estrondoso repúdio a Temer contrapunham-se as intenções de voto amealhadas por Lula, que aparecia como líder absoluto em qualquer cenário. Mesmo sendo heptarréu e tendo sido condenado a 9 anos e meio de prisão, o egun mal despachado prometia chegar a outubro de 2018 com 120% da preferência do eleitorado — composto majoritariamente por muares descerebrados, que associavam o nome do petralha à bonança reinante nos primeiros anos de sua gestão, pouco lhes importando o escândalo do mensalão, do qual o petralha foi, indubitavelmente, o maior beneficiário.

Mesmo depois que a autodeclarada "alma viva mais honesta do Brasil" acabou na cadeia (vale a pena ler o que eu escrevi a propósito nesta postagem) e sua candidatura foi impugnada pelo TSE, os sectários do lulopetismo corrupto, travestidos de únicos intérpretes da vontade popular, argumentavam que o sumo pontífice da seita do inferno tinha o direito de disputar a Presidência porque “era isso o que o povo queria”. Por esse viés distorcido, nem seria preciso realizar eleições, porque Lula já estava eleito, restando apenas entregar-lhe a faixa. Nessa narrativa, sua prisão por corrupção e lavagem de dinheiro era apenas uma tentativa desesperada das “zelites” de impedir o Brasil de ser “feliz de novo”.

A despeito de sua cassação, o chefão continuava a ser apresentado pela propaganda petista como postulante à Presidência, em desafio aberto à decisão do tribunal. Bastaria um funcionário de balcão da repartição pública onde se registram candidaturas para pôr termo a essa palhaçada, mas o Brasil da elite pensante, dos partidos e tribunais de Justiça, da mídia, das redes sociais, etc. etc., aceitou ceder à sabotagem do complexo Lula-PT e o que lhe vinha a reboque — liberais esquerdistas, intelectuais orgânicos, empreiteiros de obras públicas gananciosos e mais o resto que se sabe —, de modo que o imbróglio chegou ao STF.

Observação: A divisão do espectro político-ideológico em "esquerda e direita" nasceu após a Revolução Francesa, a depender de que lado do Parlamento sentavam os deputados. Mais adiante, a esquerda passou a ser vista como a defensora de um Estado maior "para corrigir desigualdades" e a direita, de um Estado menor, já que a livre-iniciativa era capaz de, sozinha, corrigir todas as distorções. Melhor seria se partidos de esquerda e de direita praticassem o patriotismo de fato (não aquele que é arrotado por extremistas demagogos) e criassem uma pauta comum. O Taliban e o Estado Islâmico também poderiam transformar o Afeganistão numa democracia, mas as chances de isso acontecer são as mesmas que o povo brasileiro tem de aprender a votar.

O escritor norte-americano Stephen King escreveu em "NOVEMBRO DE 1963" — romance que este humilde escriba considera a melhor obra do Mestre do Terror — que "as respostas mais simples da vida costumam ser as mais difíceis de enxergar", e que "a história não se repete, mas se harmoniza, e o que costuma fazer é a música do diabo".

Tudo que vai, volta, dizem. Embora eu nunca soube quem seriam esses misteriosos sábios que tudo diziam, sei que, na maioria das vezes, o que eles disseram faz sentido. Repare o leitor que, da mesma forma como em 2018, o populista extremista de esquerda e seu alter ego de extrema direita estão em plena campanha eleitoral, malgrado a legislação permitir a propaganda somente a partir de 15 de agosto do ano da eleição e prever multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil para quem violar a restrição. O que nos leva a outra máxima — esta atribuída a Getúlio Vargas: "aos amigos, tudo; aos cidadãos de bem, todo o rigor da lei"

O Picareta dos Picaretas foi ajudado pela gentileza extrema da Polícia Federal e demais autoridades encarregadas de cumprir a ordem judicial, que lhe deram todo o tempo do mundo para preparar uma apresentação às autoridades que tivesse um pouco mais de compostura. Foi tratado com uma paciência que jamais esteve à disposição de nenhum outro brasileiro. Teve o privilégio de uma “negociação” sem pé nem cabeça para se entregar, como se o cumprimento da ordem dependesse da sua concordância. Mas acabou, apenas, estragando tudo. Conseguiu tornar a sua biografia, que já estava para lá de ruim, ainda pior.

Como não existe nada tão ruim que não possa piorar — já dizia o engenheiro aeroespacial Edward Aloysius Murphy —, o pseudo Redentor dos Miseráveis passou míseros 580 numa cela VIP em Curitiba, que transformou em escritório político e sede do comitê de campanha de seu preposto, Fernando Haddad (então o único petista de alto coturno que se sujeitou ao papel de patético bonifrate, e acabou derrotado pelo capitão-calamidade).

Observação: Sabia-se àquela altura que a vida pregressa do dublê de mau militar e parlamentar medíocre não o qualificava sequer para presidir uma prosaica reunião de condomínio de periferia. Mas o dedo podre e à cabeça oca do esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim nos obrigou a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta do lulopetismo corrupto. E viva o povo brasileiro!

O populismo desbragado do Parteiro do Brasil Maravilha produziu o endividamento de milhões de miseráveis falsamente promovidos à “classe média”, que foram posteriormente devolvidos ao status quo ante pela intragável gerentona de festim — que não poupou esforços para manter o Titanic verde-amarelo em rota de colisão com o iceberg que o poria a pique, e só não conseguiu porque foi providencialmente expelida do cargo

Do atual governo (ou desgoverno, conforme o ponto de vista de cada um), melhor nem falar. Até porque a situação do país e a podridão que a CPI do Genocídio tem trazido à tona a cada sessão falam por si, dispensando maiores considerações. Mas causa espécie (para dizer o mínimo) o fato de alguém que ficou preso por 580 dias, após duas dezenas de juízes terem visto evidências de culpabilidade suficientes para condená-lo ou manter sua condenação e ordem de prisão, conforme o caso, ter a ficha lavada da noite para o dia e, na estapafúrdia condição de "ex-corrupto", disputar a presidência (mais uma vez). Vade retro, Satanás!

A história está repleta de políticos que cresceram com a própria prisão, ou, alçados à presidência de seus países, entraram para a seleta confraria dos "estadistas". Nem Lula nem o Brasil se enquadram nessas molduras. Aqui, o passado se harmoniza e a história se repete em toda sua mediocridade. No país do futuro que tem um longo passado pela frente, a menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, teremos de pagar (mais uma vez) por uma das farsas mais velhacas já aplicadas na política desta banânia.

O tempo é uma esteira rolante sobre a qual todos temos de viajar, e quem não aprende com os erros do passado está fadado a repeti-los ad aeternum. Em havendo eleições daqui a 14 meses (isso vai depender do que acontecerá no próximo dia 7), tudo indica que teremos uma reedição revista e piorada da disputa entre o "nhô-ruim" e o "nhô-pior" — a dupla que mais contribuiu, nos últimos anos, para transformar notícias de política em casos de polícia

A julgar pelas pesquisas de intenções de voto, o eterno Pai dos Pobres e Mãe dos Miseráveis fará picadinho do ex-capitão que "não nasceu para ser presidente, e sim para ser militar", mas que, após ter a carreira abortada por indisciplina e insubordinação, ingressou na vida pública como vereador, elegeu-se deputado e, em 28 anos no baixo clero da Câmara Federal, aprovou dois míseros projetos e colecionou mais de trinta ações criminais

Bolsonaro foi alçado à Presidência por uma esdrúxula conjunção de fatores — entres os quais a facada que levou durante um ato de campanha em setembro de 2018 — e entrou (antecipadamente) para a história desta republiqueta de bananas como o pior chefe do Executivo desde a redemocratização. Supondo que consiga sobrevier aos 19 meses remanescentes, nosso indômito capitão será o único presidente da "Nova República" que concluiu seu mandato, mas não conseguiu se reeleger.

Vade retro, Satanás!