terça-feira, 24 de agosto de 2021

MAIS SOBRE INSEGURANÇA DIGITAL (CONTINUAÇÃO)

INVEJO A BURRICE PORQUE ELA É ETERNA.

O fato de utilizarmos combinações alfanuméricas para desbloquear a tela do smartphone, fazer login no Windows, acessar redes sociais e uma porção de outras coisas nos leva a imaginar que as "passwords" (palavras-passe, ou senhas) surgiram devido à popularização dos PCs e da Internet, mas na verdade elas existem desde que o mundo é mundo. Literalmente.

O Antigo Testamento — em Juízes 12: 1-15 — registra que a palavra “xibolete” (do hebraico שבולת, que significa “espiga”) era usada como uma espécie de "senha linguística" para identificar um determinado grupo de indivíduos. Mas adiante, essa mesma estratégia seria usada durante a Guerra das Vésperas (1282 – 1372), pelos sicilianos, para identificar os franceses (pela forma como eles pronunciavam a palavra siciliana cìciri, que significa "grão-de-bico" no dialeto da ilha).

No âmbito da TI, consta que o uso de senhas foi introduzido pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos anos 1960, como forma de limitar o uso abusivo que alguns estudantes faziam do computador (os nerds logo descobriram como contornar esse "obstáculo"). Décadas mais adiante, quando os PCs ainda engatinhavam e o Windows nem havia nascido, o Banco Itaú instalou, no município paulista de Campinas, o primeiro "caixa automático" tupiniquim.

Inicialmente, só era possível consultar saldos e efetuar saques (depósitos, pagamentos de contas, recargas de celular e outras novidades viriam bem depois). A operação era feita mediante a inserção de um cartão plástico na máquina, onde uma "leitora" interpretava as informações armazenadas em uma tarja magnética composta por 3 linhas, cada qual formada por uma série de minúsculas barras magnetizadas e um código binário. Aliás, essa tecnologia passou a ser usada também nos cartões de crédito, em substituição à "impressão mecânica" dos dados em formulários carbonados — sistema no qual o cliente ficava com a primeira via, o lojista com a segunda e os vigaristas com o papel carbono.

As tarjas magnéticas foram desenvolvidas com base na mesma tecnologia usada na gravação de áudio em fitas cassete — e, mais adiante, de arquivos digitais em disquetes de computador. Cada qual teve seus quinze minutos de fama: a tarja magnética dos cartões de crédito/débito começou a ser substituída, na virada do século, pelo microchip — que oferece maior segurança nas operações eletrônicas e permite agregar funções como crédito, débito, programas de fidelidade, créditos de vale alimentação, vale combustíveis, entre outras. Os disquetes cederam espaço (sem trocadilho) às mídias ópticas (CDs/DVDs graváveis/regraváveis), que foram aposentadas pelos (bem mais espaçosos e versáteis) pendrives, SD Cards e drives de HD e SSD externos (padrão USB).

No processo de pagamento, os microchips criam códigos únicos para legitimar cada transação — os dados são validados pelo banco para confirmar sua autenticidade. A tecnologia se tornou disponível ainda nos anos 1960, mas demorou décadas para ser amplamente adotada porque os chips não eram padronizados e os terminais não identificavam todos os modelos. Atualmente, eles são usados em 86% das transações presenciais globalmente (curiosamente, os cartões com tarja magnética continuam sendo largamente utilizados nos EUA).

Faltou dizer que a transação comercial via cartão com tarja magnética era "avalizada" pela assinatura do comprovante (aquele cujo carbono os fraudadores usavam em suas maracutaias). Daí a maioria das mídias reservar um espaço no verso, identificado pela inscrição "Assinatura autorizada" (vide ilustração), para o legítimo usuário do cartão apor seu jamegão — que serviria de "amostra" para o lojista ou seu preposto comparar com a garatuja aposta pelo cliente no recibo da compra. O que, em última análise, era uma formidável somatória de burrices, como veremos no próximo capítulo.