INVEJO A BURRICE PORQUE ELA É ETERNA.
O fato de utilizarmos combinações alfanuméricas para
desbloquear a tela do smartphone, fazer login no Windows, acessar redes
sociais e uma porção de outras coisas nos leva a imaginar que as "passwords"
(palavras-passe, ou senhas) surgiram devido à popularização dos PCs e da Internet, mas na verdade elas existem desde que o mundo é mundo. Literalmente.
O Antigo Testamento — em Juízes 12: 1-15 —
registra que a palavra “xibolete” (do hebraico שבולת, que significa “espiga”)
era usada como uma espécie de "senha linguística" para identificar um
determinado grupo de indivíduos. Mas adiante, essa mesma estratégia seria usada durante a Guerra das Vésperas (1282 – 1372), pelos
sicilianos, para identificar os franceses (pela forma como eles pronunciavam a
palavra siciliana cìciri, que significa "grão-de-bico"
no dialeto da ilha).
No âmbito da TI, consta que o uso de senhas foi
introduzido pelo MIT (Massachusetts
Institute of Technology), nos anos 1960, como forma de limitar o uso abusivo
que alguns estudantes faziam do computador (os nerds logo descobriram como contornar
esse "obstáculo"). Décadas mais adiante, quando os PCs ainda
engatinhavam e o Windows nem havia nascido, o Banco Itaú instalou,
no município paulista de Campinas, o
primeiro "caixa automático" tupiniquim.
Inicialmente, só era possível consultar saldos e
efetuar saques (depósitos, pagamentos de contas, recargas de celular e outras
novidades viriam bem depois). A operação era feita mediante a inserção de um
cartão plástico na máquina, onde uma "leitora" interpretava as
informações armazenadas em uma tarja magnética composta por 3 linhas,
cada qual formada por uma série de minúsculas barras magnetizadas e um código
binário. Aliás, essa tecnologia passou a ser usada também nos cartões de
crédito, em substituição à
"impressão mecânica" dos dados em formulários carbonados — sistema
no qual o cliente ficava com a primeira via, o lojista com a segunda e os
vigaristas com o papel carbono.
As tarjas
magnéticas foram desenvolvidas com base na mesma tecnologia usada na
gravação de áudio em fitas
cassete — e, mais adiante, de arquivos digitais em disquetes
de computador. Cada qual teve seus quinze minutos de fama: a tarja
magnética dos cartões de crédito/débito começou a ser substituída, na virada do
século, pelo microchip
— que oferece maior segurança nas operações eletrônicas e permite agregar
funções como crédito, débito, programas de fidelidade, créditos de vale
alimentação, vale combustíveis, entre outras. Os disquetes cederam espaço (sem
trocadilho) às mídias ópticas (CDs/DVDs
graváveis/regraváveis), que foram aposentadas pelos (bem mais espaçosos
e versáteis) pendrives,
SD
Cards e drives de HD
e SSD
externos (padrão USB).
No processo de pagamento, os microchips criam códigos
únicos para legitimar cada transação — os dados são validados pelo banco para
confirmar sua autenticidade. A tecnologia se tornou disponível ainda nos anos
1960, mas demorou décadas para ser amplamente adotada porque os chips não eram
padronizados e os terminais não identificavam todos os modelos. Atualmente,
eles são usados em 86% das transações presenciais globalmente (curiosamente, os
cartões com tarja magnética continuam sendo largamente utilizados nos EUA).
Faltou dizer que a transação comercial via cartão com
tarja magnética era "avalizada" pela assinatura do comprovante
(aquele cujo carbono os fraudadores usavam em suas maracutaias). Daí a maioria
das mídias reservar um espaço no verso, identificado pela inscrição "Assinatura
autorizada" (vide ilustração), para o legítimo usuário do cartão apor
seu jamegão — que serviria de "amostra" para o lojista ou seu
preposto comparar com a garatuja aposta pelo cliente no recibo da compra. O
que, em última análise, era uma formidável somatória de burrices, como veremos
no próximo capítulo.