Na última segunda-feira, o plenário do TSE aprovou
por unanimidade a proposta de converter
em inquérito administrativo o procedimento aberto para apurar alegações
de fraude nos pleitos presidenciais de 2014 e 2081 — incluindo no escopo da
investigação crimes de abuso de poder econômico e político, uso indevido dos
meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes
públicos e propaganda antecipada em relação aos ataques contra o sistema
eletrônico de votação e à legitimidade das Eleições Gerais de 2022.
Também por unanimidade, o plenário da corte eleitoral
aprovou o encaminhamento ao STF de notícia-crime
contra Bolsonaro por conduta criminosa relacionada aos fatos apurados
no Inquérito das
Fake News. O ofício, assinado pelo ministro Luís Roberto
Barroso, presidente do TSE, encaminha ao ministro Alexandre de
Moraes, relator do inquérito no Supremo, link do
pronunciamento feito por Bolsonaro em 29 de julho.
Mais cedo, o ministro Luiz Fux havia feito uma forte
defesa do sistema eleitoral e criticado atitudes que "corroem sorrateiramente os valores democráticos"
consolidados no país. À noite, foi a vez de Barroso — vítima contumaz
dos destemperos do capitão por defender as urnas eletrônicas — apontar "coisas erradas que vêm acontecendo no país, às quais todos
temos de ficar atentos". O ministro rebateu detalhadamente as
informações falsas apresentadas por Bolsonaro durante a patética live da
última quinta-feira, afirmando, dentre outras coisas, que até a adoção do voto
eletrônico o Brasil vivia uma história de fraude eleitoral sistemática, em que
fiscais eleitorais até "comiam
votos durante a apuração".
A ação mais incisiva do Judiciário deveu-se à inércia do
procurador vassalo, que aboletou o respeitável buzanfã sobre uma representação contra
seu suserano, por crime eleitoral, assinada por seis subprocuradores da
República. O pedido data de 13 de julho e recebeu a adesão de 36 dos 74 subprocuradores que compõem a cúpula do MPF.
Desde então, Bolsonaro — que já disse estar
cagando para a CPI do Genocídio — promoveu uma motociata, fez dois discursos colocando em dúvida a
confiabilidade do processo eleitoral — um distribuído em forma de vídeo no WhatsApp
e outro no Palácio do Planalto, para uma plateia repleta de autoridades — e a patética
live da última quinta-feira. E Aras, de olho na recondução ao cargo de
procurador-geral, não deu um pio.
Engana-se quem acha que o "mito" mudará seu
comportamento. Até porque não ele não poderia fazê-lo nem que quisesse: como
o escorpião da fábula, Bolsonaro é incapaz de agir contra a própria natureza.
Isso sem mencionar que o confronto acirrará os ânimos de seus baba-ovos — aí
incluídos militares da ativa e da reserva. De mais a mais, se for punido, Bolsonaro
posará de vítima e usará a punição como justificativa para sua derrota em 2022.
Ou chutará o pau da barraca e, no melhor estilo Donald Trump, incitará sua
soldadesca (refiro-me à escumalha bolsonarista, não às Forças Armadas)
a botar fogo no circo.
No melhor dos cenários, as medidas tomadas pelo TSE acarretarão
a inelegibilidade do presidente, pondo fim à nefanda dicotomia da qual ele e Lula
se retroalimentam, abrindo espaço para o crescimento de um candidato "de
terceira via". E pensar que, quando apoiamos o dublê de mau militar e
parlamentar medíocre para exorcizar o fantasma do lulopetismo corrupto, nem
imaginávamos quão nefasto seria o bolsonarismo boçal.
Vade retro, Satanás!