O BRASIL É A MAIOR PIADA DE PORTUGUÊS DA HISTÓRIA
“Precisamos
estancar a sangria”, disse o ex-senador Romero Jucá, em
momento realmente histórico da política brasileira, durante o governo Michel
Temer. Pois foi isso, exatamente, que o engavetador-geral Augusto Aras fez:
estancou a sangria.
Poucas vezes um mandarim da política de Brasília resumiu tão
bem como Jucá os sentimentos verdadeiros dos seus pares. E poucas
vezes um PGR fez com tanta perfeição o trabalho que os
políticos brasileiros realmente esperavam dele.
É por essa razão, e nenhuma outra, que os fugitivos da lei
penal ficam tão quietinhos quando o assunto é PGR. Os mais
excitados ativistas em favor da “democracia”, e contra o genocida de direita,
jamais deram um pio neste assunto. O genocida, aí, vira um grande homem.
Aras piorou notavelmente o seu desastre ao
congelar investigações sobre o filho do presidente. Ele somente se
manifestou em 3 ações que envolvem o governo Bolsonaro depois
de levar uma carraspana da togada Cármen Lúcia, que, na última
sexta-feira, mandou-o devolver, com ou sem parecer, os processos que aguardavam
manifestação — as ações haviam sido enviadas ao órgão ministerial em fevereiro,
abril e maio deste ano, e de lá para cá a AGU já tinha se
manifestado. Aras se cala, consente e está mantido no cargo.
“Governabilidade” deve ser isso aí.
Observação: Esse não foi o único episódio em
que ministros tomaram atitudes frente à demora da PGR em se
manifestar em processos envolvendo Bolsonaro ou apoiadores do
presidente. A mesma ministra Cármen Lúcia já havia cobrado
celeridade do órgão em um pedido de investigação contra o capitão — ao
determinar em 13 de agosto a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson,
o ministro Alexandre de Moraes mandou a PGR se
manifestar até o dia 6 daquele mês, o que não foi feito. Também em agosto o
ministro Dias Toffoli intimou a PGR a se
manifestar sobre uma ação do senador Alessandro Vieira (que
visa busca obrigar Bolsonaro a apresentar provas de supostas
fraudes nas eleições de 2014 e 2018).
O estadista de fancaria que (ainda) ocupa o Palácio do
Planalto rebaixou Brasil aos olhos da comunidade internacional em sua mais
recente passagem por Nova Iorque. Esse episódio em particular deixou os
cidadãos de bem em dúvida sobre ter vergonha ou nojo de ser brasileiro.
Semanas antes da viagem da comitiva presidencial aos EUA, o
capitão tentou transformar o feriado de 7 de setembro num ensaio geral do seu
golpe de Estado, mas conseguiu apenas avançar mais alguns passos rumo à ruptura
institucional e fomentar protestos em que os organizadores sonham reproduzir as
campanhas pelas Diretas
Já. Infelizmente, as manifestações pró-impeachment do último dia 12
foram pífias. Tão pífias quanto a manifestação de Aras, que classificou a
palhaçada de "festa
da democracia".
Os discursos golpistas não derrubaram Bolsonaro,
mas tiraram-lhe o benefício da dúvida sobre suas reais intenções. Ou alguém
ainda acredita que haverá transição pacífica de poder se essa aberração
permanecer no cargo até o final do ano que vem? A sociedade precisa se
mobilizar.
O ministro Luiz Fux fez um dos
discursos mais incisivos da história do STF, mas que deveria ter
sido feito quando Bolsonaro participou de manifestações
antidemocráticas na porta do QG do Exército. O tempo de falar acabou,
ministro. É chegada a hora de agir.
Não restam dúvidas de que o maior obstáculo para a
recuperação econômica do Brasil é o próprio presidente. No “day after”
das manifestações, o Ibovespa despencou 3,78% — fazendo com que as
empresas perdessem R$ 195 bilhões em valor de mercado — e o
dólar aumentou quase 3% — a maior alta desde junho de 2020. Mas Bolsonaro também
despencou no mercado futuro da política.
A tropa de choque do Centrão continua
disposta a segurar o impeachment. Afinal, quanto mais o alienado se encalacra, mais
sobe o preço cobrado pelas marafonas do Parlamento pelo aluguel da blindagem.
No entanto, ainda que estejam felizes como pintos no lixo com os milhões do
Orçamento que conseguem direcionar para seus estados, os centristas mantêm um
olho no peixe e outro no gato. Para alguns, defender o atual governo está ficando
desconfortável, e nada indica que a situação vá melhorar. E é público e notório
que as carpideiras do Congresso carregam o caixão até o cemitério, mas não
pulam para dentro da cova junto com o falecido.
Até junho, o avanço da vacinação e a recuperação da economia
sugeriam núpcias prósperas e duradouras, mas muitos parlamentares — inclusive
no PL, no Republicanos e no próprio PP,
que é o núcleo do centrão bolsonarista —, já não sabem se marcarão ao lado
de Bolsonaro na campanha de 2022.
De acordo com uma recente pesquisa Datafolha, 76% dos
entrevistados acham que o
presidente deve sofrer impeachment se descumprir ordem da Justiça. Como
se não bastasse, a popularidade do mandatário nunca esteve tão baixa, o que
leva os partidos da base do governo a fazer planos para desembarque caso a
situação não melhore até março do ano que vem.
Bolsonaro sempre foi o maior adversário de seu
próprio governo. O espetáculo golpista do último dia 7 alarmou o mundo e foi
manchete na mídia internacional. Personalidades e ex-presidentes de mais de 25
países demonstraram preocupação com um possível retrocesso autoritário.
Dada a possibilidade de ruptura institucional, o governo
americano emitiu um alerta de segurança a seus cidadãos no Brasil, já que não
lhe passaram despercebidas as tentativas de Bolsonaro de se
aproximar de antigos auxiliares de Donald Trump, como Jason
Miller — que foi interrogado em Brasília pela PF no
próprio 7 de setembro (no escopo do inquérito que apura a organização e o
financiamento das manifestações antidemocráticas).
Entidades como CNBB, OAB, ABI, SBPC, ABC e
a Comissão Arns também demonstram preocupação com "a
apropriação da nossa data cívica por indivíduos obstinados em semear divisões
entre os brasileiros, disseminando o ódio e a intranquilidade para dar passagem
a um projeto político de viés personalista, declaradamente autoritário, que
deve ser repudiado por toda a sociedade”.
E viva o povo brasileiro.