quinta-feira, 30 de setembro de 2021

SOBRE POLÍTICOS E FRALDAS (FINAL)


O BRASIL É A MAIOR PIADA DE PORTUGUÊS DA HISTÓRIA

Precisamos estancar a sangria”, disse o ex-senador Romero Jucá, em momento realmente histórico da política brasileira, durante o governo Michel Temer. Pois foi isso, exatamente, que o engavetador-geral Augusto Aras fez: estancou a sangria.

Poucas vezes um mandarim da política de Brasília resumiu tão bem como Jucá os sentimentos verdadeiros dos seus pares. E poucas vezes um PGR fez com tanta perfeição o trabalho que os políticos brasileiros realmente esperavam dele.

É por essa razão, e nenhuma outra, que os fugitivos da lei penal ficam tão quietinhos quando o assunto é PGR. Os mais excitados ativistas em favor da “democracia”, e contra o genocida de direita, jamais deram um pio neste assunto. O genocida, aí, vira um grande homem.

Aras piorou notavelmente o seu desastre ao congelar investigações sobre o filho do presidente. Ele somente se manifestou em 3 ações que envolvem o governo Bolsonaro depois de levar uma carraspana da togada Cármen Lúcia, que, na última sexta-feira, mandou-o devolver, com ou sem parecer, os processos que aguardavam manifestação — as ações haviam sido enviadas ao órgão ministerial em fevereiro, abril e maio deste ano, e de lá para cá a AGU já tinha se manifestado. Aras se cala, consente e está mantido no cargo. “Governabilidade” deve ser isso aí.

ObservaçãoEsse não foi o único episódio em que ministros tomaram atitudes frente à demora da PGR em se manifestar em processos envolvendo Bolsonaro ou apoiadores do presidente. A mesma ministra Cármen Lúcia já havia cobrado celeridade do órgão em um pedido de investigação contra o capitão — ao determinar em 13 de agosto a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, o ministro Alexandre de Moraes mandou a PGR se manifestar até o dia 6 daquele mês, o que não foi feito. Também em agosto o ministro Dias Toffoli intimou a PGR a se manifestar sobre uma ação do senador Alessandro Vieira (que visa busca obrigar Bolsonaro a apresentar provas de supostas fraudes nas eleições de 2014 e 2018).

O estadista de fancaria que (ainda) ocupa o Palácio do Planalto rebaixou Brasil aos olhos da comunidade internacional em sua mais recente passagem por Nova Iorque. Esse episódio em particular deixou os cidadãos de bem em dúvida sobre ter vergonha ou nojo de ser brasileiro.

Semanas antes da viagem da comitiva presidencial aos EUA, o capitão tentou transformar o feriado de 7 de setembro num ensaio geral do seu golpe de Estado, mas conseguiu apenas avançar mais alguns passos rumo à ruptura institucional e fomentar protestos em que os organizadores sonham reproduzir as campanhas pelas Diretas Já. Infelizmente, as manifestações pró-impeachment do último dia 12 foram pífias. Tão pífias quanto a manifestação de Aras, que classificou a palhaçada de "festa da democracia".

Os discursos golpistas não derrubaram Bolsonaro, mas tiraram-lhe o benefício da dúvida sobre suas reais intenções. Ou alguém ainda acredita que haverá transição pacífica de poder se essa aberração permanecer no cargo até o final do ano que vem? A sociedade precisa se mobilizar.

O ministro Luiz Fux fez um dos discursos mais incisivos da história do STF, mas que deveria ter sido feito quando Bolsonaro participou de manifestações antidemocráticas na porta do QG do Exército. O tempo de falar acabou, ministro. É chegada a hora de agir.

Não restam dúvidas de que o maior obstáculo para a recuperação econômica do Brasil é o próprio presidente. No “day after” das manifestações, o Ibovespa despencou 3,78% — fazendo com que as empresas perdessem R$ 195 bilhões em valor de mercado — e o dólar aumentou quase 3% — a maior alta desde junho de 2020. Mas Bolsonaro também despencou no mercado futuro da política.

A tropa de choque do Centrão continua disposta a segurar o impeachment. Afinal, quanto mais o alienado se encalacra, mais sobe o preço cobrado pelas marafonas do Parlamento pelo aluguel da blindagem. No entanto, ainda que estejam felizes como pintos no lixo com os milhões do Orçamento que conseguem direcionar para seus estados, os centristas mantêm um olho no peixe e outro no gato. Para alguns, defender o atual governo está ficando desconfortável, e nada indica que a situação vá melhorar. E é público e notório que as carpideiras do Congresso carregam o caixão até o cemitério, mas não pulam para dentro da cova junto com o falecido.

Até junho, o avanço da vacinação e a recuperação da economia sugeriam núpcias prósperas e duradouras, mas muitos parlamentares — inclusive no PL, no Republicanos e no próprio PP, que é o núcleo do centrão bolsonarista —, já não sabem se marcarão ao lado de Bolsonaro na campanha de 2022.

De acordo com uma recente pesquisa Datafolha, 76% dos entrevistados acham que o presidente deve sofrer impeachment se descumprir ordem da Justiça. Como se não bastasse, a popularidade do mandatário nunca esteve tão baixa, o que leva os partidos da base do governo a fazer planos para desembarque caso a situação não melhore até março do ano que vem.

Bolsonaro sempre foi o maior adversário de seu próprio governo. O espetáculo golpista do último dia 7 alarmou o mundo e foi manchete na mídia internacional. Personalidades e ex-presidentes de mais de 25 países demonstraram preocupação com um possível retrocesso autoritário.

Dada a possibilidade de ruptura institucional, o governo americano emitiu um alerta de segurança a seus cidadãos no Brasil, já que não lhe passaram despercebidas as tentativas de Bolsonaro de se aproximar de antigos auxiliares de Donald Trump, como Jason Miller — que foi interrogado em Brasília pela PF no próprio 7 de setembro (no escopo do inquérito que apura a organização e o financiamento das manifestações antidemocráticas).

Entidades como CNBBOABABISBPCABC e a Comissão Arns também demonstram preocupação com "a apropriação da nossa data cívica por indivíduos obstinados em semear divisões entre os brasileiros, disseminando o ódio e a intranquilidade para dar passagem a um projeto político de viés personalista, declaradamente autoritário, que deve ser repudiado por toda a sociedade”.

E viva o povo brasileiro.