O Brasil é realmente o país dos contrastes. Embora haja mais de 30 legendas aptas a disputar as próximas eleições, os "franco-favoritos", de acordo com as pesquisas, são os sumos pontífices do lulopetismo corrupto e do bolsonarismo boçal.
Até o funesto pleito de 2018, os indecisos tucanos (que mijam no corredor caso haja mais de um banheiro no imóvel) eram os arquirrivais da petralhada. Os demais postulantes ao Palácio do Planalto eram obrigados a apoiar o nhô-ruim ou o nhô-pior no segundo turno, depois de serem expulsos de campo pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim. E agora, a menos de um ano das próximas eleições gerais, a desgraça se repete.
Einstein dizia que o universo e a estupidez humana são infinitos (no tocante ao universo, ele não estava 100% convencido) e Marx, que a história sempre se repete como tragédia ou farsa. Diante de tanta estupidez, fica difícil distinguir tragédia de farsa numa republiqueta de bananas, onde o passado se harmoniza em toda sua mediocridade.
Não há regime democrático que funcione com trinta e tantos partidos políticos. E não dá para entender como trinta em tantos partidos não há um desinfeliz capaz de pôr fim a essa maldita dicotomia.
Um lado quer seguir adiante, mas dirige com os olhos fixos no retrovisor, talvez imaginando que uma (Deus nos livre) eventual vitória de Lula reproduza os resultados positivos do primeiro governo petista sem reeditar a roubalheira iniciada com o Mensalão e potencializada com o Petrolão. A outra facção, cega pelo fanatismo, olha adiante sem ver que uma (igualmente indesejável) reeleição de Bolsonaro postergará por mais quatro insuportáveis anos a desgraceira que seu desgoverno impôs a este arremedo de banânia.
Se os demais partidos (ou pelo menos os principais) não fossem vítimas do próprio ego, teríamos na via de centro um candidato léguas à frente da parelha de aberrações que a ignorância do eleitorado... enfim, acho que já me fiz entender.
Termino este post
com um texto de Mario Sabino e a promessa de retornar amanhã, com mais um capítulo da minha
novela de época.
A Vitória das Taturanas é o que representará a aprovação da PEC da Vingança, com o reto e vertical Arthur Lira comandando o espetáculo na presidência da Câmara Federal. Ontem, escrevi que o Brasil é uma nação de gente estúpida, como comprova o fato de termos como presidente da Câmara um político que jamais deveria ter sido eleito deputado federal ou para qualquer outro cargo político.
Em 2007, a Operação Taturana desbaratou um esquema criminoso que desviou mais de R$ 200 milhões da folha de pagamentos da na Assembleia Legislativa de Alagoas. Em 2008, Lira foi preso. A PF se referiu a ele como UM "político sem limites para usurpar dinheiro público". Tudo mentira, claro, porque o homem é de uma inocência imaculada (afinal, se Lula é a alma viva mais honesta do Brasil...).
Dois anos depois, como somos uma nação de idiotas, o nobilíssimo parlamentar alagoano foi eleito deputado federal. Instalado em Brasília, o eminente parlamentar entrou na mira da PGR, acusado de participar — juntamente com seu pai, o hoje senador Bendito de Lira — do escândalo do Petrolão. Aliás, a família é a base da sociedade, como lembra o programa da União Brasil.
É esse sujeito reto e vertical que quer "colocar um freio" no Ministério Público — que acusa de não ter "código de ética" — através da infame PEC da Vingança, que o deputado Paulo Teixeira, pau mandado de Lula, teria tirado da cartola do ministro Gilmar Mendes — que, claro, não tem nada a ver com isso, muito pelo contrário, trata-se de um grande apoiador dos procuradores que cometem a ousadia de investigar gente poderosa e os amigos dos amigos dela.
Atualização: Em votação de primeiro turno, a Câmara
rejeitou (por 297 votos a favor e 182 contrários) a versão do relator Paulo
Magalhães da PEC em questão, que precisava de pelo menos 308 votos a favor
para ser votada em segundo turno. Para líderes do Centrão, que se juntaram a petistas
e bolsonaristas visando enfraquecer o Ministério Público, a tramitação da proposta
de emenda "morreu". Após sua primeira grande derrota depois que assumiu
a presidência da Câmara, Lira anunciou que votaria a proposta original,
sem acordo, mas encerrou a sessão sem abrir o painel para votação, sem maiores
explicações. O deputado-réu não descarta votar o texto original, ainda que isso
seja um recurso regimental incomum. Segundo ele, "jogo só termina quando
acaba". Entre os vencedores, porém, não há mais clima para votação neste
ano.
Arthur Lira, o colosso da decência que ascendeu à Câmara empurrado pelo (igualmente ínclito) Eduardo Cunha (preso injustamente pela Lava-Jato), é uma unanimidade ideológica: esquerda, direita, Centrão e banco de reservas marcham a seu lado, visando amarrar mãos e pés dos procuradores com a corda da PEC que reescreve a Constituição.
Esse poder composto por gente honesta, trabalhadora e proba, escolhida a dedo pela famosa récua de muares munida de título eleitoral. quer retirar a independência funcional dos procuradores e aparelhar politicamente o CNMP, inclusive indicando um corregedor de sua própria laia. E para que não restem dúvidas sobre o papel de Prometeu acorrentado, reservado ao MP, o CNMP aparelhado poderá revogar atos administrativos praticados por procuradores — ou seja, barrar investigações.
Em 2007, a Polícia Federal batizou de Taturana a
operação contra a roubalheira em Alagoas, porque a lagarta
passa a vida comendo folhas. A aprovação da PEC da Vingança,
com Lira comandando o espetáculo, é a vitória das
taturanas, que poderão comer até se fartarem as folhas dessa gente
estúpida que as elege.
Triste Brasil.
Observação: Sabino informa que a Editora
Topbooks acaba de lançar a versão impressa do livro Me Odeie pelos Motivos Certos (a quem interessar
possa, basta clicar no link para adquirir seu exemplar). O autor agradece quem
já comprou e antecipa seus agradecimentos aos que vierem a comprar.