QUANDO DISSE "SÓ SEI QUE NADA SEI", SÓCRATES NÃO ESTAVA AFIRMANDO UMA CERTEZA, MAS SIM TRANSPARECENDO TODAS AS SUAS DÚVIDAS.
Tempestades
de verão — assim chamadas por serem frequentes na estação mais quente do
ano — causam alagamentos, prejudicam o trânsito e, quando acompanhadas de raios
e rajadas de vento, produzem distúrbios na rede elétrica, seja
porque os raios a atingem diretamente, seja porque o vento derruba árvores
sobre o respectivo cabeamento.
Raios
(ou relâmpagos, ou coriscos) não decorrem da
“colisão” entre nuvens, mas de perda da capacidade do ar de isolar as cargas
elétricas opostas que se acumulam no interior dos cúmulos nimbos
(que são formados por gotículas de água, granizo e partículas de gelo e podem ter
mais de 20 km de altura e outros tantos de extensão). As descargas ocorrem
tanto dentro das nuvens quanto de uma para outra ou delas para o solo e
vice-versa, sendo as descendentes as mais comuns, embora as maiores são as que
passam de uma nuvem para outra (elas podem chegar a dezenas de quilômetros de
extensão).
O raio é
formado por várias descargas com voltagem de 100.000.000 V a 1.000.000.000
V, amperagem de 20.000 A a 200.000 A e
temperatura cinco vezes maior que a da superfície do Sol. Já
o trovão decorre do aquecimento do ar pela corrente elétrica produzida
pelo raio, e seu ribombar pode alcançar 120 decibéis.
Observação: A quantidade de energia descarregada por uma
tempestade chega a ser superior à de uma bomba atômica; a diferença é que a
bomba libera tudo de uma só vez, ao passo que a tempestade o faz durante um
período que pode ir de vários minutos a algumas horas.
Quando
atingem a rede elétrica (direta ou indiretamente), os raios provocam aumentos
de tensão com potencial para torrar (literalmente) a instalação dos imóveis e danificar
eletrodomésticos e eletroeletrônicos no raio (sem trocadilho) de muitos
quarteirões. Daí a importância do aterramento e do uso
da tomada de três pontos — que se tornaram obrigatórias no
Brasil, mas, curiosamente, num formato incompatível com qualquer dos modelos
utilizados mundo afora.
Chamamos subtensão
transitória a uma redução inferior a 10% da tensão nominal da rede e
com duração igual ou inferior a 4 ciclos. Ela pode ocorrer tanto por culpa da
concessionária de energia quanto por problemas na instalação elétrica do
imóvel. Lâmpadas que “enfraquecem” no momento em que o compressor da geladeira
entra em funcionamento, por exemplo, denunciam falta de aterramento ou fiação
de bitola inadequada à demanda energética. Já as subtensões não
transitórias (superiores a quatro ciclos e com duração de alguns
minutos a muitas horas) costumam ter as mesmas causas e apresentar os mesmas —
se você notar um enfraquecimento "persistente" das lâmpadas
(sobretudo em horários de pico), consulte um eletricista; caso ele não
identifique problemas na fiação do imóvel, acione a concessionária de energia.
Entende-se por sobretensão a elevação em 10% ou mais, por
tempo igual ou superior a três ciclos, da tensão máxima permitida pela rede. Ao
contrário do que ocorre nas subtensões, neste caso a luminescência das lâmpadas
aumenta de intensidade. Se a instalação e o quadro de força estiverem dentro
dos padrões, o problema deve ser externo, e cabe à concessionária de energia
solucioná-lo. Mas não deixe de checar periodicamente o estado dos
fusíveis (ou dos disjuntores, conforme o caso) e verificar a fixação dos cabos
de energia no quadro de força (o afrouxamento dos parafusos é um problema
bastante comum). Quanto a sobretensões que ocorrem durante tempestades
elétricas, não há muito a fazer senão desligar a chave-geral ou desconectar das
tomadas os aparelhos mais sensíveis.
Um aterramento comme il faut deve ser procedido durante a construção do
imóvel, mediante a introdução de um conjunto de hastes metálicas no solo e
ligação das ditas-cujas ao polo terra das tomadas (aquele que
recebe o terceiro pino). Instalações elétricas antigos nem sempre são aterradas,
e ligar o polo terra da tomada de três pontos a um cano
metálico da rede hidráulica ou ao próprio neutro da rede elétrica — que é
aterrado na estação geradora de energia — é gambiarra e, portanto, esse
procedimento não é recomendável.
Disjuntores e fusíveis desarmam ou se
fundem por efeito de uma sobretensão para proteger a fiação do imóvel e os
aparelhos a ela conectados. Computadores, modems, roteadores, decodificadores
de TV por assinatura, secretárias eletrônicas e telefones
sem fio são mais "sensíveis" do que lavadoras de roupa,
refrigeradores e que tais. Em tese, quanto mais circuitos eletrônicos o
aparelho tiver, maior será o risco de danos, daí ser importante desligar a chave-geral
da caixa de força ou desconectar os cabos de força das tomadas (puxando-os pelos
plugues, nunca pelos cabos).
Se a
tempestade provocar um apagão, só religue os aparelhos quando a energia
for restabelecida e estabilizada. Apagões intermitentes, nos
quais a luz acaba, volta e torna a acabar sucessivas vezes, potencializam o
risco de danos, pois é justamente quando a energia retorna que ocorrem quedas
de fase (situação em que as lâmpadas acendem, mas ficam fraquinhas) e sobretensões (estas
são mais frequentes e duram alguns milésimos de segundo, mas podem atingir
facilmente a marca dos 500V).
Como nem
sempre estamos em casa durante o temporal, é importante dispormos de um estabilizador
de tensão ou, melhor ainda, de um nobreak. Convém evitar os Filtros
de linha, que custam mais barato, mas não filtram coisa nenhuma, pois não
passam de extensões providas de um led ou fusível que funciona como varistor e interrompe
a passagem de energia quando a sobrecarga já atingiu os aparelhos que o tal
"filtro" deveria proteger. Convém também evitar sempre que possível ligar
dois ou mais aparelhos na mesma tomada.
As fontes de alimentação dos PC são do tipo "bivolt", ou seja, são capazes de operar entre 90 V e 240 V e, consequentemente, de suportar sobretensões de até 100% e subtensões de mais de 20% (quando ligadas a uma tomada de 127 V, evidentemente). Assim, a única vantagem do filtro de linha é facilitar a substituição do fusível (ou do próprio filtro), pois a troca dos varistores internos da fonte costuma dar mais trabalho.
Continua...