sábado, 11 de dezembro de 2021

PERSONALIDADE DO ANO? NÃO É BEM ASSIM...

 

Desde o último dia 7 que sectários do bolsonarismo boçal vêm cantando em prosa e verso a vitória do "mito" no concurso “Personalidade do Ano” promovido pela revista Time. A questão é que o resultado que conta só será publicado no próximo dia 13, quando a revista trará na capa a foto do escolhido por seus editores. A equipe poderá ou não levar em conta os resultados da enquete online, feita a partir de um link aberto internet, na qual o pária tupiniquim obteve 24% dos mais de 9 milhões de votos — superando, inclusive, Donald Trump, que teve apenas 9% dos votos. Aliás, isso evidencia que há mais imbecis no Brasil do que nos EUA.

O resultado dessa reader poll demonstrou quão articulada é a récua de apoiadores de Bolsonaro, que foi estimulada a participar pelo próprio capetão, por seus asseclas e por blogs e canais "chapa-branca". Numa live que foi ao ar o no último dia 25, disse o morubixaba de festim: “Estamos liderando. Agradeço a quem votou em mim. Quem não votou, peço que entre lá no site da Time e vote.”

Segundo o Estadão, postagens de grande alcance reproduziram o título “Bolsonaro é eleito personalidade do ano pela revista Time”. Utilizando a ferramenta CrowdTangle para descobrir onde o link de votação popular da revista foi mais compartilhado, o Estadão Verifica identificou um post da deputada federal pesselista catarinense Carol de Toni, publicado em 23 de novembro, com 17,9 mil interações no Facebook. Para efeito de comparação, esse engajamento é cerca de 12 vezes maior que o da própria Time ao convocar seus leitores para a votação na mesma rede social (o post da revista obteve pouco mais de 1,5 mil intenções, a despeito de a publicação possuir 80 vezes mais seguidores que a deputada).

Anos atrás, a patuleia ignara comemorou uma suposta indicação de Lula para o Nobel da Paz. Agora, a récua de baba-ovos do Messias que não miracula compartilha o resultado da enquete da Time como fait accompli. Até o site da rádio Jovem Pan deu por verdade o que não passa de mais uma fake news bolsonarista.

Normalmente, o nome mais votado na enquete online é divulgado uma semana antes de sair a edição da revista que traz a relação das cem "personalidades do ano" indicadas pelos jornalistas, com a pessoa ou o grupo escolhido como "Personalidade do ano" estampando a capa. De acordo com a Time, o título de Personalidade do ano nem sempre é uma honraria. Grandes vilões da História e algumas figuras no mínimo controversas já foram escolhidos ao longo das décadas, devido ao impacto que causaram no mundo — entre os quais o líder nazista Adolf Hitler (em 1938), o soviético Joseph Stalin (em 1939 e 1942) e o aiatolá Khomeini (em 1979). Além disso, todos os presidentes americanos desde 1927 foram eleitos pelo menos uma vez. 

A enquete foi criada em 1998 e aberta ao público em geral. O ídolo dos ringues de luta livre Mick Foley consagrou-se como o primeiro vencedor na votação pública. O então presidente venezuelano Hugo Chávez venceu em 2006, enquanto o ativista australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, ficou na primeira posição em 2010. Em 2012, usuários do site "4chan" deram a vitória ao líder norte-coreano Kim Jong-Un, como forma de trolar a revista americana. Já em 2021, foi o próprio Bolsonaro quem mais recebeu votos na enquete, graças a uma campanha intensa nas redes sociais promovida pelos apalermados que o apoiam.

Ao anunciar que o verdugo do Planalto foi o mais voltado, a Time escreveu que “o líder controverso, que será candidato à reeleição em 2022, está enfrentando uma desaprovação crescente pela maneira como lida com a economia e recebeu críticas generalizadas de políticos, tribunais e especialistas em saúde pública ao minimizar a gravidade da covid-19 e demonstrar ceticismo sobre as vacinas”. 

Para não deixar dúvidas de quem se trata, a revista mencionou ainda que "Bolsonaro foi criticado pelo Supremo Tribunal Federal, que ordenou uma investigação oficial sobre os comentários do presidente em 24 de outubro, alegando falsamente que tomar as vacinas contra o coronavírus poderia aumentar a chance de contrair aids"

Em suma, a eleição do capetão-calamidade se deu no mundo virtual, onde ele aparece bem mais inflado do que na vida real. Por outro lado, a despeito de contar com milhões de sectários fiéis, o mandatário de fancaria não conseguiu amealhar sequer 200 mil assinaturas das 492 mil necessárias para criar o seu partido, Aliança Brasil, o que o obrigou a se amancebar com o PL do mensaleiro ex-presidiário Valdemar da Costa Neto.

Não há dúvidas de que Bolsonaro influenciou o planeta nestes tempos de pandemia, mais até do que seu amado ídolo, o abjeto Donald Trump. O jornalista Ricardo Noblat lembra inclusive que um estudo australiano listou o Brasil em último lugar num ranking de como 98 países lidaram com a Covid. Mas, como não teve voto impresso na enquete da Time, seria coerente o presidente não aceitar o resultado da eleição da revista. No entanto, para isso seria preciso que ele fosse minimamente coerente. Coisa que ele não é.

Vale destacar, por oportuno, que a lista de 100 pessoas mais influentes do mundo da Time, outra eleição anual da revista, divulgada em 15 de setembro, incluiu apenas uma brasileira, a empresária Luiza Trajano, a quem a ministra Cármen Lúcia manifestou recentemente seu apoio, caso a empresária venha a disputar a presidência em 2022.

Triste Brasil.