segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA?


Abomino a polarização semeada por Lula e seus acólitos, tenho ojeriza a extremistas — tanto de direita quanto de esquerda — e horror à perspectiva de mais um pleito plebiscitário. 

Até quando seremos forçados a apoiar quem não queremos para evitar que quem queremos menos ainda volte a presidir o Brasil? Foi isso que fizemos em 2018, e foi por isso que um incompetente de quatro costados está aboletado no Palácio do Planalto (nos raros momentos em que não está brincando de motoqueiro fantasma, envergonhando o Brasil no exterior ou passando férias em praias paulistas e catarinenses).

Somente um doido de pedra não demite um gerente que está levando sua empresa à falência, seja por incompetência, conivência, corrupção, ladroagem ou tudo isso somado. No caso em tela, o próprio mandatário reconheceu que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar, mas nem o Congresso nem o STF tomou providências efetivas para pôr fim a esse descalabro.

Em entrevista à revista Época, o general Ernesto Geisel, penúltimo presidente militar desta banânia, referiu-se a Jair Bolsonaro como “um caso completamente fora do normal, inclusive mau militar”. Durante o julgamento desse mau militar pelo Superior Tribunal Militar, o coronel Carlos Alfredo Pellegrino disse que o acusado tinha “grave desvio de personalidade” e era incapaz de liderar a soldadesca devido a sua “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação dos argumentos”.

Em 1986, ainda no 8º Grupo de Artilharia de Campanha, o capitão Bolsonaro foi preso por ter publicado em Veja um artigo intitulado “O salário está baixo”. No ano seguinte, de moto próprio, a revista denunciou a “Operação beco sem saída” — que contou com a participação do também capitão Fábio Passos da Silva e visava explodir bombas de baixa potência em várias unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras e em diversos quartéis caso o reajuste do soldo ficasse abaixo de 60%. 

De acordo com o general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército à época, os capitães “negaram peremptoriamente, da maneira mais veemente, por escrito, do próprio punho, qualquer veracidade daquela informação”. Mas provas testemunhais e documentais — entre as quais um croqui desenhado pelo próprio Bolsonaro — levaram o estrelado a apresentar um pedido de expulsão dos envolvidos. Lamentavelmente, o espírito de corpo falou mais alto e o STM entendeu que os réus “eram vítimas de um processo viciado” (volto com mais detalhes acerca desse assunto numa próxima postagem).

Observação: Durante a campanha de 2018, circulou na Web a informação (falsa) de que o então candidato do PSL teria deixado o quartel por “insanidade mental”. Em resposta, a assessoria de imprensa do Exército divulgou uma nota afirmando que ele fora transferido para a reserva automaticamente ao ser eleito vereador no Rio de Janeiro, conforme determina o Estatuto dos Militares. Balela. O capitão-encrenca só não foi expelido da corporação porque a denúncia que o levou às barras da Justiça Militar partiu da revista Veja e os episódios que a embasaram ocorreram durante a ressaca da ditadura, época em que ninguém tinha mais aversão à imprensa do que os militares. Fala-se, inclusive, que o STM teria condicionado a decisão favorável a Bolsonaro a sua reforma.

Em 1988, já desligado do Exército, o ex-capitão que sempre balizou sua atuação política em assuntos caros aos fardados foi eleito vereador com o apoio das Forças Armadas, e levou essa mesma bandeira, dois anos depois, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para a Câmara Federal. Deputado do baixo clero durante 27 anos, teve apagada atuação parlamentar, focada no atendimento de demandas corporativas dos militares. 

Em 1991, no primeiro de seus sete mandatos como deputado, Bolsonaro defendeu o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso. Foi dado início a uma ação penal por crime contra a segurança nacional, ofensa à Constituição e ao regimento interno da Câmara, mas, para surpresa de ninguém, ficou o dito pelo não dito. Em 1994, ele disse que preferia sobreviver no regime militar a morrer naquela democracia. 

Em 1999, a Mesa Diretora da Câmara propôs ao plenário aplicar um mês de suspensão a Bolsonaro por defender o fechamento do Congresso e afirmar que “a situação do país seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente” — entre os quais o então presidente Fernando Henrique. Dessa vez, para variar, o boquirroto recebeu uma advertência, mas pau que nasce torto morre torto: meses depois, o indigitado voltou a defender o fuzilamento de FHC. O então líder do governo na Câmara chegou a pedir sua cassação, mas a proposta sequer chegou ao plenário da Casa. Em 2016, ao votar a favor do impeachment da gerentona de araque, o deputado fez uma homenagem ao coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra — e foi denunciado ao Conselho de Ética da Câmara por apologia à tortura. Mais uma vez, nada aconteceu.

Na eleição presidencial passada, que foi a mais conturbada desde a redemocratização, com a população dividida em petistas/lulistas e antipetistas/antilulistas, os 57,8 milhões de votos que elegeram Bolsonaro 38º presidente do Brasil não vieram somente de bolsomínions, simpatizantes e admiradores de suas propostas, mas também de gente que não queria ver o país governado por um presidiário. Isso não teria acontecido se, no primeiro turno, o “esclarecidíssimo” eleitorado apostasse num candidato mais “de centro”, considerando que mesmo entre aquela trupe de show de horrores travestida de lista de postulantes à Presidência havia dois ou três nomes que poderiam ter sido testados. Mas agora é tarde, Inês é morta.

A despeito das cinco ações em que Bolsonaro e Haddad se acusavam mutuamente de abuso de poder econômico na campanha e pediam um a inelegibilidade do outro, a ministra Rosa Weber, então presidente do TSE, disse que as investigações tinham um período de "instrução probatória" e o corregedor iria "perceber necessidade de provas que definiriam maior ou menor necessidade de tempo". 

Observação: Disso não resta a menor sombra de dúvida: basta lembrar que a ação movida pelos tucanos contra a chapa Dilma-Temer, depois da derrota de Aécio em 2014, só foi julgada três anos depois.

Bolsonaro era réu no STF (decisão da 1ª Turma por 4 votos a 1, vencido o ministro Marco Aurélio) pelos crimes de injuria e apologia ao estupro. A ação, que fora aberta em 2016 e estava em fase final, investigava o episódio no qual, em 2014, o então deputado afirmou (na Câmara e em entrevista ao jornal Zero Hora) que a colega petista Maria do Rosário “não merecia ser estuprada porque era muito feia e não fazia seu ‘tipo”. Posteriormente, outra denúncia (dessa vez por crime de racismo) foi submetida ao STF, mas acabou suspensa pelo pedido de vista de Alexandre de Moraes, depois que Marco Aurélio e Luiz Fux votaram pela rejeição e Luís Roberto Barroso e Rosa Weber, pela aceitação.

Declarações polêmicas sempre foram (e continuam sendo) a marca registrada do ainda presidente, que, a exemplo de Ciro Gomes, não tem papas na língua e diz o que pensa antes de pensar no que vai dizer. Aliás, foi justamente sua postura intempestiva que conquistou dezenas de milhões de votos. 

PT usa a estratégia da vitimização, que sempre funcionou com a patuleia — que não precisa ser convencida de nada, dada sua fidelidade canina a Lula e ao partido. Curiosamente, essa mesma estratégia vem sendo usada peplo Sultão do Bolsonaristão, que “governa” para sua claque e explora sempre que pode o atentado de que foi vítima em setembro de 2018 (mais detalhes nesta postagem).

Continua...